domingo, 2 de abril de 2017


O Pequeno Imperador Chinês

 

                            A China tinha e ainda tem um grave problema de crescimento populacional, de modo que impôs a restrição de as famílias só poderem ter um filho (o segundo custa o conjunto da renda familiar de cinco anos, segundo Gabriel), com isso tendo reduzido o crescimento populacional a apenas 0,7 % ao ano, o que lá é muito, dado que têm uma população de 1.300 milhões, somando mesmo assim 9,1 milhões por ano, quase três vezes a população inteira de 3,2 milhões do estado do Espírito Santo - em menos de 20 anos somando um Brasil inteiro de gente, 175 milhões agora.

                            Como vimos, isso levou ao fenômeno novo de um país sem tios e tias, veja texto Sem Tios, Livro 47.

                            E leva a complicações inacreditáveis.

                            Acontece que a China vem crescendo – desde a decisão sobre o Caminho de Duas Vias de Deng Xiaoping, em 1986 - a um ritmo acelerado de mais de 10 % ao ano, desde durante não sei quantos anos. Mesmo tomando que a renda total da China, visível + invisível, seja agora de US$ 2 trilhões com crescimento de 10 % ao ano e dos EUA de US$ 10 trilhões com aumento de 4 % ao ano, elas se encontrarão em menos de 29 anos, ou seja, no virar da década dos 2030, chegando ambos então na cada à casa dos 31 trilhões de dólares.

                            Já hoje, se considerássemos TODAS as famílias (isso não é verdadeiro, o programa começou há relativamente pouco tempo) como sendo constituídas de homem, mulher e um filho (ou filha), teríamos (1.300/3 =) 433 milhões de famílias, enquanto no Brasil a família típica tem cerca de quatro pessoas. Imagine a arruaça que podem fazer 400 milhões de filhos únicos.

                            Isso quer dizer que as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os AMBIENTES (municípios/cidades, províncias, nação) de lá estarão pagando o preço, porque o modelo diz que a soma dos pares polares opostos/complementares é zero, ou seja, tanto é boa quanto ruim, e é tão ruim quanto é boa. Assim, essa solução excepcional comporta problemas excepcionais também, PORQUE, veja, os mandatários da autoridade da lei de lá serão TODOS pequenos imperadores orgulhosos e mandões, autoritários e ditatoriais, um fenômeno novo na China. Não estamos falando de qualquer país, mas de um que em 2040 terá, provavelmente, 1,8 bilhão de pessoas e PIB de 40 trilhões, interferindo no mundo inteiro. De modo nenhum as lideranças chinesas podem deixar isso acontecer, porque traria problemas insanáveis e insolúveis ao mundo. Imagine 1,8 bilhão de pequenos e grandes tiranos se confrontando com o mundo como mandarins dotados de poder nunca visto! Que cenário arrepiante!

                            É preciso agir o quanto antes.

                            Essa ação corresponde a profundos estudos psicológicos por parte dos governantes do Executivo, os políticos do Legislativo e os juizes do Judiciário chineses, de modo a colocar contenções bastante eficazes a esse assomo dos egos individuais chineses. Nunca o mundo presenciou o filho único com tamanho poder representativo. Sempre houve antes um segundo, terceiro, enésimo filho que levava a atenção de pais e mães, de modo que quase ninguém recebia tanta atenção assim, a ponto de crescer fazendo pirraça intratável.

                            Como sempre, os chineses estão propondo uma nova elevação da compreensão do que as decisões podem custar, quando não meditamos bastante em seus desdobramentos, porque a soma zero nos garante que do lado de grandes soluções sempre estejam postados grandes problemas. Mas estes grandes problemas, por sua vez, trarão grandes soluções, de modo que veremos elevadas as discussões sobre o futuro a patamares inimagináveis hoje.

                            Vitória, terça-feira, 11 de novembro de 2003.

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