O Pequeno Imperador
Chinês
A China tinha e
ainda tem um grave problema de crescimento populacional, de modo que impôs a
restrição de as famílias só poderem ter um filho (o segundo custa o conjunto da
renda familiar de cinco anos, segundo Gabriel), com isso tendo reduzido o
crescimento populacional a apenas 0,7 % ao ano, o que lá é muito, dado que têm
uma população de 1.300 milhões, somando mesmo assim 9,1 milhões por ano, quase
três vezes a população inteira de 3,2 milhões do estado do Espírito Santo - em
menos de 20 anos somando um Brasil inteiro de gente, 175 milhões agora.
Como vimos, isso
levou ao fenômeno novo de um país sem tios e tias, veja texto Sem Tios, Livro 47.
E leva a
complicações inacreditáveis.
Acontece que a China
vem crescendo – desde a decisão sobre o Caminho de Duas Vias de Deng
Xiaoping, em 1986 - a um ritmo acelerado de mais de 10 % ao ano, desde durante
não sei quantos anos. Mesmo tomando que a renda total da China, visível +
invisível, seja agora de US$ 2 trilhões com crescimento de 10 % ao ano e dos
EUA de US$ 10 trilhões com aumento de 4 % ao ano, elas se encontrarão em menos
de 29 anos, ou seja, no virar da década dos 2030, chegando ambos então na cada
à casa dos 31 trilhões de dólares.
Já hoje, se
considerássemos TODAS as famílias (isso não é verdadeiro, o programa começou há
relativamente pouco tempo) como sendo constituídas de homem, mulher e um filho
(ou filha), teríamos (1.300/3 =) 433 milhões de famílias, enquanto no Brasil a
família típica tem cerca de quatro pessoas. Imagine a arruaça que podem fazer
400 milhões de filhos únicos.
Isso quer dizer que
as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os AMBIENTES
(municípios/cidades, províncias, nação) de lá estarão pagando o preço, porque o
modelo diz que a soma dos pares polares opostos/complementares é zero, ou seja,
tanto é boa quanto ruim, e é tão ruim quanto é boa. Assim, essa solução
excepcional comporta problemas excepcionais também, PORQUE, veja, os
mandatários da autoridade da lei de lá serão TODOS pequenos imperadores
orgulhosos e mandões, autoritários e ditatoriais, um fenômeno novo na China.
Não estamos falando de qualquer país, mas de um que em 2040 terá,
provavelmente, 1,8 bilhão de pessoas e PIB de 40 trilhões, interferindo no
mundo inteiro. De modo nenhum as lideranças chinesas podem deixar isso
acontecer, porque traria problemas insanáveis e insolúveis ao mundo. Imagine
1,8 bilhão de pequenos e grandes tiranos se confrontando com o mundo como
mandarins dotados de poder nunca visto! Que cenário arrepiante!
É preciso agir o
quanto antes.
Essa ação
corresponde a profundos estudos psicológicos por parte dos governantes do
Executivo, os políticos do Legislativo e os juizes do Judiciário chineses, de
modo a colocar contenções bastante eficazes a esse assomo dos egos individuais
chineses. Nunca o mundo presenciou o filho único com tamanho poder
representativo. Sempre houve antes um segundo, terceiro, enésimo filho que
levava a atenção de pais e mães, de modo que quase ninguém recebia tanta
atenção assim, a ponto de crescer fazendo pirraça intratável.
Como sempre, os
chineses estão propondo uma nova elevação da compreensão do que as decisões
podem custar, quando não meditamos bastante em seus desdobramentos, porque a
soma zero nos garante que do lado de grandes soluções sempre estejam postados
grandes problemas. Mas estes grandes problemas, por sua vez, trarão grandes
soluções, de modo que veremos elevadas as discussões sobre o futuro a patamares
inimagináveis hoje.
Vitória,
terça-feira, 11 de novembro de 2003.
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