segunda-feira, 19 de setembro de 2016


Na Minha Infância Cheirava Bastante

 

Como já contei, meus tios Alvacy e Dalstein (Perim) levavam de Linhares revistas em quadrinhos da Disney, comecei a ler aos cinco anos, com toda aquela dificuldade já relatada.

Regalo, deleite.

As revistas e os livros emanavam o cheiro da tinta, que me embriagava, porque significada novidade, a abertura de mundos – eu ficava muito emocionado. Os livros de depois, os primeiros ganhados na adolescência, dados por meu irmão do meio, JAG, ah, tinham aquele aroma característico inesquecível, para sempre na memória.

Se eu tivesse lembrado de lamber, teriam gosto.

Ganhar primeiro, depois comprar era prazer insopitável.

A flagrância, puxa vida!

Arrasadores.

E os livros tinham outras particularidades, alguns vinham com as páginas unidas, não só à esquerda na costura (outros eram colados, raros de capa dura, maioria quase total de capa mole mais barata) como também em parte na direita, a gente devia pegar uma faca para cortar com cuidado (quando comprei faca de plástico fiquei assombrado com a esperteza das pessoas) – era aborrecido, mas também bom, significava que ninguém antes havia pegado para macular: primeirão! Papel de primeira, bem fino, acetinado, da nobreza; de segunda, mais grosso, popular, calejado, resistente; papel pobre de jornal, vagabundo (mesmo assim admirável), dos livros baratíssimos de faroeste, meus irmãos mais velhos compravam aos montes, eu lia tudo, como já contei.

Enquanto as pessoas não sabiam onde colocar tanta vida que recebiam, a mim faltava tempo para tanta vibração, tanta livralegria. Como diz o povo, Jesus me acuda. Emanavam os perfumes dos livros, a tinta rescendia, espalhava-se no ar, ai, ai, que coisa era aquele tempo.

Oh, eu cheirava muito então.

Agora os livros ficaram plastificados, sem-gosto, insossos, sem olor, livros educadinhos de prateleira, de yuppies, livros formais.

Vitória, segunda-feira, 19 de setembro de 2016.

GAVA.

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