Na
Minha Infância Cheirava Bastante
Como já contei, meus tios Alvacy e Dalstein
(Perim) levavam de Linhares revistas em quadrinhos da Disney, comecei a ler aos
cinco anos, com toda aquela dificuldade já relatada.
Regalo, deleite.
As revistas e os livros emanavam o cheiro da
tinta, que me embriagava, porque significada novidade, a abertura de mundos –
eu ficava muito emocionado. Os livros de depois, os primeiros ganhados na
adolescência, dados por meu irmão do meio, JAG, ah, tinham aquele aroma
característico inesquecível, para sempre na memória.
Se eu tivesse lembrado de lamber, teriam
gosto.
Ganhar primeiro, depois comprar era prazer
insopitável.
A flagrância, puxa vida!
Arrasadores.
E os livros tinham outras particularidades,
alguns vinham com as páginas unidas, não só à esquerda na costura (outros eram
colados, raros de capa dura, maioria quase total de capa mole mais barata) como
também em parte na direita, a gente devia pegar uma faca para cortar com
cuidado (quando comprei faca de plástico fiquei assombrado com a esperteza das
pessoas) – era aborrecido, mas também bom, significava que ninguém antes havia
pegado para macular: primeirão! Papel de primeira, bem fino, acetinado, da
nobreza; de segunda, mais grosso, popular, calejado, resistente; papel pobre de
jornal, vagabundo (mesmo assim admirável), dos livros baratíssimos de faroeste,
meus irmãos mais velhos compravam aos montes, eu lia tudo, como já contei.
Enquanto as pessoas não sabiam onde colocar
tanta vida que recebiam, a mim faltava tempo para tanta vibração, tanta
livralegria. Como diz o povo, Jesus me acuda. Emanavam os perfumes dos livros,
a tinta rescendia, espalhava-se no ar, ai, ai, que coisa era aquele tempo.
Oh, eu cheirava muito então.
Agora os livros ficaram plastificados,
sem-gosto, insossos, sem olor, livros educadinhos de prateleira, de yuppies,
livros formais.
Vitória, segunda-feira, 19 de setembro de
2016.
GAVA.
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