sexta-feira, 30 de setembro de 2016


Diálogo nas Alturas

 

O policial federal parou o carro nos altos de Venda Nova dos Imigrantes, ali onde há aquele paredão da pedra que foi cortada para permitir a passagem dos veículos.

GUARDA – o senhor sabe que fez uma ultrapassagem indevida, né?

MOTORISTA – sei, seu guarda, peço desculpas, estava com pressa para chegar a casa. Erro meu.

GUARDA – e como podemos sanar esse erro?

MOTORISTA – não sei, o que o senhor sugere?

GUARDA – o senhor que tem de dizer.

MOTORISTA – não vou saber avançar, o senhor precisa me conduzir.

GUARDA – não digo nada, não posso dizer nada.

MOTORISTA – o que eu dissesse poderia ofender o senhor...

GUARDA – não, que é isso, pode dizer...

MOTORISTA – será que poderíamos...

GUARDA – o quê? Diga.

MOTORISTA – sei lá, chegar a um entendimento.

GUARDA – que tipo de entendimento?

MOTORISTA – diga o senhor.

GUARDA – não, o senhor que tem de dizer. Sabe que cometeu uma infração que rende pontos na carteira e tenho de fazer a multa.

MOTORISTA – talvez se o senhor perdoasse...

GUARDA – perdoasse...

MOTORISTA – é, perdoasse.

GUARDA – em troca de quê?

MOTORISTA – o senhor que tem de dizer.

GUARDA – eu, não, o senhor é que tem de falar, qual o tamanho da sua desculpa?

MOTORISTA – não posso dar uma desculpa muito grande, saí sem imaginar que fosse precisar de uma desculpa grande.

GUARDA – fala, fala, pelo menos fala, eu vou dizer se é pequena ou é aceitável.

QUANTO A ISSO DE ESTAR SENDO ULTRAPASSADA A LEI

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MOTORISTA – tenho medo de o senhor se ofender.

GUARDA – pode dizer, se não me convencer eu digo.

MOTORISTA – fico até constrangido...

GUARDA – pode dizer, diga.

MOTORISTA – será pouco?

GUARDA (meio impaciente) – se o senhor não disser, não vou poder avaliar.

MOTORISTA (pegando a carteira de motorista, junto com a documentação do carro e estendendo) – eis meus documentos pro senhor olhar (dentro tinha uma nota de cinqüenta, que naquele tempo valia bem mais). Vai ver que está tudo correto.

GUARDA – bem, estou considerando que o senhor podia ter razão em sua pressa.

MOTORISTA – o senhor acha? Realmente eu precisava chegar a casa.

GUARDA – é, é compreensível. O senhor foi imprudente, mas se justifica, em razão das suas dificuldades. É uma boa desculpa.

MOTORISTA – obrigado por sua compreensão, bom dia, seu guarda.

Serra, segunda-feira, 17 de setembro de 2012.

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