segunda-feira, 26 de setembro de 2016


Mumeu

 

Museu.

Mu-seu.

Seu, não meu. E por quê somente seu, se mal pergunto?

Onde fico eu, indivíduo, eu família, eu grupo, eu empresa, eu cidade-município, eu estado, eu nação e eu mundo? Tá certo, pelo lado do mundo somos todos parentes, todos filhos de Deus, todos descendentes de Adão e Eva segundo os criacionistas bíblicos e do macaco Tião, segundo os evolucionistas de Darwin-Dawkins.

Tá, tá, tá, já entendi.

Fiquei pensando: por quê só para os outros? E eu, nisso tudo? Aluguei um galpão, mas não usei todo, porque não eram tantas assim as peças que pude colocar, à espera de expansão. Mamãe cedeu as fotografias e o cobertorzinho que eu usava quando era neném, sem falar nas chupetas guardadas, nos brinquedos e tudo mais. Meio quarto veio dela, começou assim.

Papai não deu muita bola, a mana cedeu umas fotos e umas coisas que tinha guardado, mano velho chamou de goiolagem, as tias procuraram ajudar, mas tinham mais dos delas, não quiseram ceder as fotos que tiramos juntos quando crianças. Os tios passaram um pouco longe, que frieza! Os amigos cederam algumas fotos, eu mais assim no fundo, quem imaginaria que iria me destacar? Os amigos mais sinceros e cruéis gozam que estou enlouquecendo, mas como disse aquele judeu, se eu não cuidar de mim, quem cuidará? E se não agora, quando?

Você acredita que quando a gente começa a juntar até dá muita coisa?

A presença da gente é importante no mundo. Quem você pensa que faz as coisas? São os “eus”, não são os “não-eus”, tá na cara. É o “eu” que se situa no centro da realização. Então, apenas estou focando um, eu mesmo.

Comecei a pesquisar todos que se projetam, que se promovem - e são muitos no mundo. Nem mesmo começou com Nero (“que grande artista o mundo está perdendo” – alguns maldosos trocam para “autista”), até chegar a Van Damme e outros. Estou em boa companhia, todos os atores e atrizes e todos mesmo que se promovem.

Estranhamente há pouca gente visitando, fora minha mãe, que por sinal vem todo dia, às vezes duas ou três vezes, reconhece meu valor.

Será que fiz propaganda suficiente?

Nem as tias vieram, acho que estão com raiva, elas acham os filhos e filhas DELAS mais importantes, quá, quá, quá, é de rir. Aonde, meu filho? Vê se te acha.

Acho que é perseguição.

Vou aumentar a placa, depois de criar a biblioteca (por enquanto só tem um volume, Eu por Mim Mesmo, edição do autor).

Serra, quarta-feira, 15 de agosto de 2012.

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