Encomendando a Morte
aos Assassinos
TODA VEZ que vou fazer o serviço minha mulher
fica cheia de recomendações quanto à encomenda do assassinato dos próximos:
- Faz assim, não faz assado, observa
direitinho, não se deixe enganar no preço, tem muito espertinho nessa área.
Caramba! Por quê não vai ela mesma? Se for
tão mais esperta que eu, porque não vai ela mesma? Não quer sujar as mãos de
sangue, é isso. Eu posso, né? Ela, toda melindrosa, não. Fico uma arara! É
tanta recomendação... Tem medo de ver a faca cortando. Bom, bonito não é mesmo.
Pensar que aquela criatura poucos dias atrás estava viva e agora jaz
sanguinolenta na nossa frente é realmente de arrepiar.
E ela:
- Vê se o pessoal faz um corte limpo!
Cheia de recomendações.
- Não traz sebo, eles vão te enganar no peso,
as crianças não podem comer muita gordura, quando for escolher os cortes para o
churrasco com aqueles seus amigos babões vê se não compra muito, vai ficar
caro.
Droga, quem trabalha aqui? Se não posso
chamar os amigos para queimar uma carne o que vou fazer da vida? E há as
cervejas, ela reclama também. Chame as comadres, as esposas. Algumas vezes elas
vão mesmo, mas 90 % do tempo não vão, ela fica reclamando.
Fiquei pensando que cada vez que compro estou
encomendando a morte dos próximos, estou dando ordem ao sistema, estou
acionando a máquina do morticínio, estou colaborando para o assassinato de
bovinos, suínos, ovinos, até asininos. E galinhas, patos, o que for.
Dá dó, mesmo.
E ela cheia de recomendações:
- Presta atenção...
Por acaso sou criança?
TODOS
OS AMIGOS QUE NÓS MATAMOS DIARIAMENTE
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