quinta-feira, 29 de setembro de 2016


Caçador de Andróides

 

Com a displicência enorme da humanidade o ecossistema da Terra foi comprometido e foi preciso dos estoques de genoma re-fabricar várias espécies. O povo não entende que andro-óide quer dizer “forma de homem”, sendo necessário, quando for o caso, acrescentar o ÓIDE a cada espécie, por exemplo, bufalóides, elefantóides, touróides ou tauróides, camelóides e assim por diante para cada espécie artificial ou sintética. Seriam tantos ÓIDES quantas fossem as espécies repovoadas.

VAI PINTASSILGO (a perseguição foi grande)

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Passaredo
 
Ei, pintassilgo
Oi, pintarroxo
Melro, uirapuru
Ai, chega-e-vira
Engole-vento
Saíra, inhambu
Foge asa-branca
Vai, patativa
Tordo, tuju, tuim
Xô, tié-sangue
Xô, tié-fogo
Xô, rouxinol sem fim
Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Anum, pardal, chapim
Xô, cotovia
Xô, ave-fria
Xô, pescador-martim
Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi
Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti
Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
Composição: Francis Hime e Chico Buarque
As Baleias
 
Não é possível que você suporte a barra
De olhar nos olhos do que morre em suas mãos
E ver no mar se debater o sofrimento
E até sentir-se um vencedor neste momento
Não é possível que no fundo do seu peito
Seu coração não tenha lágrimas guardadas
Pra derramar sobre o vermelho derramado
No azul das águas que voce deixou manchadas
Seus netos vão te perguntar em poucos anos
Pelas baleias que cruzavam oceanos
Que eles viram em velhos livros
Ou nos filmes dos arquivos
Dos programas vespertinos de televisão
O gosto amargo do silêncio em sua boca
Vai te levar de volta ao mar e à fúria louca
De uma cauda exposta aos ventos
Em seus últimos momentos
Relembrada num troféu em forma de arpão
Como é possível que voce tenha coragem
De não deixar nascer a vida que se faz
Em outra vida que sem ter lugar seguro
Te pede a chance de existência no futuro
Mudar seu rumo e procurar seus sentimentos
Vai te fazer um verdadeiro vencedor
Ainda é tempo de ouvir a voz dos ventos
Numa canção que fala muito mais de amor
Seus netos vão te perguntar em poucos anos
Pelas baleias que cruzavam oceanos
Que eles viram em velhos livros
Ou nos filmes dos arquivos
Dos programas vespertinos de televisão
O gosto amargo do silêncio em sua boca
Vai te levar de volta ao mar e à fúria louca
De uma cauda exposta aos ventos
Em seus últimos momentos
Relembrada num troféu em forma de arpão
Não é possível que você suporte a barra
Composição: Roberto Carlos / Erasmo Carlos

Os mais perfeitos foram para os ricos-A e os médio-altos-B, claro, porque aos médios, aos pobres e aos miseráveis só restavam os passarinhos-de-latão, como eram chamados, os robôs, daí os caçadores de andróides, como o povo dizia em homenagem ao antigo filme Blade Runner.

Os “de baixo” compravam os bichos-de-latão para aprisioná-los e aos passarinhos-de-metal para colocá-los em gaiolas e vê-los cantar o seu imenso repertório. Eram “quase iguais” se você não procurasse falhas, “muito assemelhados” se não fosse um expert, mas de qualquer forma o povo não tinha tempo para isso.

Era bonito de ver, viu? - os latinhas cantando nas gaiolas, “quase igual” aos de antigamente, muito parecido, a gente ficava emocionada, alguns choravam ouvindo o canto melodioso. Os médios pegavam os melhorzinhos, que cantavam afinados e só o trinado da espécie visualmente representada, mas infelizmente para os pobres e miseráveis só sobravam nos supermercados alguns desafinados, com os programáquinas defeituosos tocando qualquer trinado e até músicas, o que era meio constrangedor, era preciso “fazer de conta”, fingir que era o que não era, o que se há de fazer? É a vida, a gente tem de se contentar com o que aparece. Um canário belga cantava como rouxinol, mas também quem iria perceber, quem iria se incomodar, não era tanto dano assim, só se você fosse chato de ficar chamando a atenção, sai coisa ruim. Um colibri não se comportava como tal, parecia mais um sanhaço, mas quem vai reclamar, quem sabe a diferença? Vai botar defeito na puta que te pariu, seu safado.

E assim era a vida. Linda, deslumbrante.

Não tinha mais as coisas de antigamente, você se lembra como era? Mas em compensação a gente ficava ainda mais feliz quando via os bioprogramas cantando nos parques da burguesia, que lindo! Os biogatos correndo uns atrás dos outros, que coisa fofa! Ai, fico enternecido, é por demais, sabe? A perfeição da Natureza.

Serra, sexta-feira, 21 de setembro de 2012.

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