A Queda do Ocidente
Oswald Spengler
(filósofo e historiador alemão, 1880-1936) escreveu entre 1918 e 1922 um livro,
A Decadência do Ocidente.
Foi uma coisa tão
espantosa a ponto de até hoje estar sendo continuamente mencionado, e soou como
uma traição. Quem é mais amigo: quem fala ou quem cala? Penso que é quem expõe logo
o assunto, dando-nos tempo de corrigir nossos procedimentos supostamente
errados - ou não, se os julgamos certos.
Creio que esse livro
chocante fez muito pelo Ocidente, assim como o aparecimento da Rússia pseudo-comunistas
em 1917 e da Alemanha nazista (nacional-socialista), da Itália fascista e do
Japão imperialista. Não fossem esses países o Ocidente teria caído muito mais
rapidamente. No caso da Rússia, o tratamento muito melhor dado inicialmente aos
trabalhadores levou os países do Oeste a reverem suas posições quanto aos
operários, abrindo a produçãorganização ou sócioeconomia consideravelmente mais
que antes. No caso dos fascistas da Segunda Guerra Mundial foi o perigo de um outro
modelo políticadministrativo ou governempresarial, focado na direita
totalitária e elitista, e não na esquerda democrática e popular, o que
fatalmente empurrou o mundo aliado vencedor para maior democratização e
tolerância cristã.
Porque, veja só, a Lua
também está caindo em direção e sentido da Terra, como nos mostra a Lei da
Gravitação de Newton, e depois a Lei da Gravitação de Einstein, esta do
espaçotempo geométrico. E assim também a Terra em direção e sentido do Sol.
Caem continuamente todos os planetas e satélites, naturais ou artificiais.
Acontece que o momento angular ou velocidade centrífuga
(pseudovelocidade de fuga do centro) iguala-se à velocidade centrípeta (pseudovelocidade
de aproximação do centro) de queda gravitacional ou momento linear, no conjunto a velocidade de aproximação ou soma
permanecendo zero ou muito próximo disso. Eles estão caindo e permanecendo no
mesmo lugar relativo há bilhões de anos.
Veja só que Roma era
uma cidade-estado, depois se seguindo a constituição das províncias-estado,
mais adiante das nações-estado e finalmente do mundo-estado, a globalização de
agoraqui. Não há nada depois do mundo, fora a expansão extraplanetária, que
pertence a uma seqüência distinta.
Se as pessoas
tivessem se dedicado mais à compreensão e uso da dialética teriam visto
imediatamente que é um ciclo, cada vez mais amplo, dos municípios/cidades até o
mundo. Há queda, mas há também renovação. Há aniquilamento e reconstrução,
retração e ampliação, destruição e soerguimento. É um pulsar, agora em
expansão.
Tanto medo Spengler
meteu nas pessoas e nos ambientes, mas isso só porque estes eram frágeis,
imaginando-se fortes. Tomaram então um choque, o balanceio do despertar.
Investigar o quão importante foi esse autor, por conta desse único livro, já
renderia muitas teses de mestrado e doutorado.
Ele mexeu com os
brios ocidentais.
Instaurou e instalou
a dúvida permanente, e fez pensar.
Desalojou-nos de
nossa comodidade, de nossa tranqüilidade tacanha, de sub-desenvolvidos em
racionalização, no processo de pensamento. Fez crescer o Ocidente, dilatou-nos
como ninguém, fora Cristo e alguns outros, haviam feito antes. Aliás, faz todo
sentido perguntar quais indivíduos tiveram mais impacto nesse sentido de
estremecer fundamentos da coletividade mundial em geral e particularmente
ocidental.
Um sujeitinho
malicioso e infantil, Michael H. Hart, desejando causar polêmica para vender
livros, apresentou no seu livro As 100 Maiores Personalidades da História, 5ª.
Edição, Rio de Janeiro, Difel, 2002, uma classificação em que coloca Maomé e
Isaac Newton à frente de Jesus. Ele não deveria interferir no que não entende,
que compreende mal e expõe mais imperfeitamente ainda.
Faltaram-lhe
critérios.
E, é lógico, não
incluiu Spengler.
Na Enciclopédia e Dicionário
(ilustrado) Koogan/Houaiss, Rio de Janeiro, Delta, 1993, Spengler não recebe
mais que quatro linhas da página de três colunas.
Mesmo tendo errado,
por não usar precavidamente a dialética, lógica das relações, ele foi
absolutamente eletrizante. Balançou feio o Ocidente orgulhoso que estava caindo
no vago e no etéreo precocemente, com isso sustando a queda por muitos séculos,
talvez. Outros eventos de peso ajudaram fortemente – não só os negativos, como
a Rússia e os fascistas, como também os positivos (informática/cibernética,
bioquímica, telefonia, uma lista grande).
Apesar disso, a
presença de Spengler segue como um lume.
Muito pouco
valorizado, é verdade, mas uma luz poderosa, a ser constantemente reavaliada em
seus efeitos tangíveis e sutis.
Vitória,
terça-feira, 07 de maio de 2002.