segunda-feira, 12 de dezembro de 2016


Os Gigantes da Bíblia

 

O livro de Sylvain Neuvel, Gigantes Adormecidos (livro 1: dos arquivos Têmis), Rio de Janeiro, Suma de Letras, 2016 (sobre original de 2016) é muito interessante e plástico, dará ótimo filme, com boas sequências. Não teve igual nem semelhante, a ideia é inteiramente assombrosa, pois pega os gigantes da Bíblia e lhes dá nova roupagem “tecnocientífica” para FC.

O LIVRO E O AUTOR

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O robô é moça, replica Têmis, tem 60 metros de altura depois de recomposto, com o erro de ter supostamente joelhos para trás, como aparece nos dois filmes Invasão (o primeiro de 1996, com Charlie Sheen), onde os invasores alienígenas parecem ter os joelhos para trás.

OLHANDO OS ANIMAIS

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Repare que é o pé: para ganhar altura os animais andam nas pontas dos dedos, apoiando as almofadas deles no chão, até os elefantes, que andam completamente sobre os dedos. O que parece ser joelho voltado para trás é o calcanhar, demorei para perceber.
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Nos primatas e hominídeos a solução foi invertida, passaram a andar sobre os pés, o que diminui a altura; a solução foi endireitar a coluna, prosseguindo assim com os hominídeos e humanos. Então, no livro, os alienígenas seriam descendentes dos animais e não dos primatas, outra linha de evolução, convergente na parte superior do corpo.

Afora isso, é brilhante.

Novidade completa. Nunca tinha lido algo assim, nem mesmo semelhante, e já li bastante FC e fantasia em 50 anos de leituras. Ademais, o texto quase todo é baseado em entrevistas, o que também é inusual.

Enfim, aplaudo.

Vitória, segunda-feira, 12 de dezembro de 2016.

GAVA.

Singularidades Matemáticas e Físicas

 

                            Os físicos falam em “singularidade matemática”, um ponto matemático, portanto adimensional, sem dimensão. Devemos repor as coisas. A Física trata dos reais, não dos virtuais, portanto TUDO NA FÍSICA DEVE SER REAL, quer dizer, dimensional, ter dimensões, especialmente as três dimensões espaciais, e uma temporal, coisas sólidas que se transformam temporalmente.

                            Na Matemática um ponto não tem nenhuma dimensão.

                            Uma linha tem comprimento, mas não largura.

                            Um plano tem comprimento e largura, mas não profundidade.

                            Um espaço tem comprimento, largura e profundidade, mas não ocorre no tempo.

                            Dizem eles, o Big Bang (que chamo Barulhão, mas que em inglês significa Grande Explosão, precedida certamente do Grande Estresse) é uma singularidade matemática, bem como um buraco negro.

                            Isso, na Física, não pode existir.

                            Tanto os buracos negros quando a semente de onde emergiu o universo através do BB, tem de ter dimensões. A questão fica sendo, doravante, calculá-las. Nada na Física pode ser virtual, tudo deve ter massa, comprimento, tempo, temperatura, luminosidade, tudo que está definido no SI, Sistema Internacional de Unidades.

                            Então, quando vejo nos livros os físicos falando de singularidades matemáticas, sinto que a linguagem está viciada, indicado que não foi produzido um acordo total de definição do universo em termos da Física, aquilo que eles estão chamando Teoria de Tudo, o que Einstein buscou durante 30 anos e morreu sem encontrar, a Teoria do Campo Unificado, e que, parece, a Teoria das Cordas vem consumar na tal gravitação quântica, união da Teoria de Relatividade com a Mecânica Quântica.

                            Algo está errado nessa Nova Ordem Mundial, como anunciou Caetano, e é, neste caso, o fato de que misturaram alhos e bugalhos, o real da Física com o virtual das equações. Estas últimas são expressões algébricas, ao passo que a Física É A INTERPRETAÇÃO DAS EQUAÇÕES. Essa interpretação não pode dar-se no virtual, e sim no real. Não no abstrato, e sim no concreto.

                            Nenhum conhecimento pode usar os termos da Matemática, que são os do código geoalgébrico (geométrico-algébrico) sem REALIZÁ-LOS, quer dizer, torná-los reais, dotados de sua particular realidade. Por exemplo, seria impróprio a Biologia usar os termos da Matemática em seu campo de estudos sem torná-los reais. Isso fatalmente introduziria nela confusões, como introduz na Física, criando paradoxos desnecessários (se é que algum, fora de certas áreas de treinamento de alunos quanto a enganos embutidos nas falácias), pois paradoxos são definições mal-feitas.

                            Fica meridianamente claro ser necessário fazer uma depuração bastante detalhada dos termos das ciências/técnicas, das filosofias/ideologias, das teologias/religiões e das magias/artes com relação a esses virtuais da Matemática.

                            De outro modo as pessoas vão fatalmente confundir-se.

                            Muitas vezes certos físicos criam as confusões e depois gozam os alunos por não estarem entendendo, como se só um grupinho seleto pudesse entender as “altas esferas”. Claro que não vão entender, porque é impossível, um erro de definição levando a um paradoxo. Uma asneira, enfim.

                            Vitória, terça-feira, 09 de abril de 2002.

Racionalismo Amebiano

 

                            Do livro de David DEUTSCH, A Essência da Realidade (uma revolucionária visão da realidade entrelaçada pelas teorias da evolução, do conhecimento, da física quântica e da ciência da computação), São Paulo, Makron, 2000, p. 135, tiro estas citações, todos os grifos meus:

·         “Em termos de massa, energia ou qualquer medida astrofísica de significado, a nossa biosfera é uma fração desprezível até mesmo da Terra, no entanto é um truísmo da astronomia que o sistema solar consista essencialmente no Sol e em Júpiter. Tudo mais (incluindo a Terra) são ‘apenas impurezas’”.

·        “Deste modo, a visão predominante atualmente é que a vida, longe de ser central, seja em termos geométricos, teóricos ou práticos, é de uma insignificância quase inconcebível”.

Felizmente, logo em seguida ele se redime e diz: “Mas, extraordinariamente, essa aparência é enganosa”.

Pouco antes disso ele cita o aclamadíssimo (e até então um dos meus heróis) Stephen Hawking: “’A raça humana é apenas uma escória química em um planeta de tamanho moderado orbitando ao redor de uma estrela média no subúrbio de uma entre cem bilhões de galáxias’.

Não são só eles que se pronunciam assim. Também Isaac Asimov, doutor em bioquímica e escritor de FC, Carl Sagan, astrofísico e divulgador científico, e muitos e muitos cientistas tem a mesma opinião.

Já que somos habitantes de um cisco (100 bilhões de galáxias, cada uma tendo entre 100 e 1000 bilhões de estrelas), um pequeno planeta, num Sol tipo GO na borda (30 mil de raio do centro, para um diâmetro na Via Láctea de 100 mil anos-luz) galáctica, não passamos de amebas. Mas, como raciocinamos, e até valorizamos extraordinariamente o raciocínio (até mesmo esses que falam assim), denominei esse tipo de pensamento racionalismo AMEBIANO, o superpensamento das amebas – é quando as amebas se dedicam a pensar com afinco e obstinação.

Acontece que antes de Nicolau Copérnico (astrônomo polonês, Torun, 1473 – Frauenburg, 1543, 70 anos entre datas) a Terra, segundo os religiosos, ocupava o centro do universo, ao passo que depois dele viu-se que ela orbitava o Sol, já não centrava nada. E antes de Charles Darwin (naturalista e biólogo inglês, Shrewsbury, 1809 – Dawn, Kent, 1882, 73 anos entre datas) o ser humano era o rei da criação, ao passo que depois dele tornamo-nos primos dos macacos.

Mais tarde os físicos criaram o chamado Tempo Profundo, ampliando a idade da Terra dos meros quatro mil anos dos cálculos bíblicos para 4,5 bilhões de anos, e do universo para 15 bilhões, pelo menos. Com isso a vida humana tornou-se um fragmento “insignificante” de tudo. E Sagan fez questão de criar o paralelo denominado ANO CÓSMICO, em que um ano de 365 dias é comparado com o tempo universal, a civilização humana aparecendo nos últimos segundos antes de terminar o ano, como que caminhando para um FIM.

Longe estou de pregar a adesão a esse deslocado movimento anticientífico, eu que sou fã fervoroso da Ciência. Contudo, depois de Copérnico, de Darwin, dos multiplicadores temporais e dos racionalistas amebianos, os seres humanos tornaram-se menos que poeira, invisíveis habitantes do pó.

Resultou que a antiga pregação cristã, especialmente católica, de engrandecimento do ser humano como obra de Deus, e da correlata obra humana como importante coadjuvante desse processo de crescimento em direção e sentido da santidade, os erros e as precipitações de determinados cientistas e apressados divulgadores científicos levaram a uma descrença total, ao opróbrio ou ignomínia ou infâmia de tudo que é humano, à desumanização dos atos, à indignidade das vontades.

E finalmente tivemos o pior de todos os séculos, o vigésimo, tão pernicioso que os próprios historiadores, acostumados a afrontar sem estremecimento todas as barbáries antigas, tem por ele horror inaudito.

O cinema, as rádios, as Tevês, os jornais, as revistas e principalmente, desde 1989 no mundo e desde 1996 no Brasil a Internet, mais o teatro e todas as tecnartes, tornaram-se propagadoras de uma malícia que não apenas pratica o mal como faz questão de contaminar e tornar propagadores dele a outros.

Com tudo de bom que a Ciência fez, com tudo que a ela devemos em termos de liberdades novas e libertação dos estados de prostração e submissão aos poderes ditatoriais de qualquer teor ou origem, é certo que nisso reside a nossa inquietação – que por fazer o bem lhe tenha sido dada autorização para desfazer aquela digna estatura humana e de toda a Criação com a qual outrora a humanidade viveu seus dias.

E tal foi feito com o terrível preço que temos pagado.

Pelo contrário, no modelo o ser humano aparece como o Cristal na ponta da lança da Criação, e eu creio que nós precisamos ter força de vontade para nos arrancarmos a essa mentira horrível que nos pregou o racionalismo amebiano.

Vitória, sábado, 12 de janeiro de 2002.

Pébola

 

                            No livro de Heinrich Zimmer, Filosofias da Índia, São Paulo, Palas Athena, 1986, ele nos conta que a Índia, com a sua continuidade, forma as palavras com prefixos e sufixos do próprio sânscrito, portanto em continuidade histórica, e não como nós, que derivamos as palavras do latim, língua romana, e do grego antigo, incompreensíveis para nossos povos.

                            Na Índia Mahävira é composto de mahänt, grande, e vira, herói, portanto grande-herói, que todo mundo entende.

                            No Ocidente, se desejamos criar uma palavra, por exemplo, BIOLOGIA,       devemos tomar o radical grego BIO, vida, e o segundo elemento de composição também grego, LOGIA, discurso, tratado, ciência, para ficar com VIDACIÊNCIA. Só que não escrevemos vidaciência, que as pessoas poderiam entender de pronto, mas BIOLOGIA, que é uma nova palavra a acrescentar ao dicionário.

                            Acontece que contagens mostraram que o linguajar popular se resume a cerca de 800 palavras, e que são usadas no cotidiano no máximo 2000 delas. Não obstante, o esforço contínuo dos intelectuais (não de todo errado) é produzir dicionários com 200, 300, 400 e até 500 mil palavras, a maioria tirada das línguas estrangeiras.

                            Digamos, futebol, que vem do inglês: FOOT, pé, e BOL, bola, portanto PÉBOLA. Se originalmente usássemos esse método, tudo teria sido mais fácil. Falaríamos CESTABOLA para basquetebol, REDEBOLA para voleibol, MÃOBOLA para handebol e assim por diante.

                            O povo e as elites não teriam suas memórias sobrecarregadas com milhares e centenas de milhares de palavras novas.

                            A vergonha de ter uma língua própria, a submissão cultural ao estrangeiro, o sentimento interno de impotência, tudo contribuiu para isso, que sobrecarrega nossas mentes, mais ainda agora com os termos de computação, algumas centenas ou milhares, que vem todos do inglês.

                            Tudo porque alguns acreditaram, erradamente, que nossa civilização é de fundo greco-romano, quando nitidamente houve uma interrupção, um corte grande e prolongado. Então, essas pessoas foram buscar naquelas línguas os elementos de formação.

                            Mas, embora tenhamos uma dívida de gratidão enorme com aqueles povos, não somos romanos, nem gregos, nem sequer europeus no Brasil, que é um amálgama, essa mistura dos nativos indígenas, dos africanos, dos europeus, dos asiáticos, de 1,5 milhão de muçulmanos, de 100 mil judeus – todos esses povos, especialmente o português que deu origem à nação, vindo de outras misturas que se estendem nos séculos e milênios.

                            Nós não somos latinos, no Brasil. Somos um povo novo, como viu Darci Ribeiro. Como podemos ser latinos se 50 % são brancos, 44 % mestiços e 6 % negros? Isso porque muitos que passam por brancos recusam-se a reconhecer a mestiçagem, que avança a ritmo acelerado.

                            Poderíamos assistir uma partida de PÉBOLA entre Flamengo e Corinthians, e estaríamos tão ou mais felizes que numa partida de FUTEBOL.

                            Por quê devemos sentir vergonha de sermos brasileiros e termos uma língua nossa mesmo? Os dicionários poderiam ser reduzidos a 1/3, poupando considerável quantidade de memória. Não sei se agora é tarde, em vista da nomenclatura científica, que é internacional, e de outras dificuldades.

                            Em todo caso, fica a oportunidade perdida da identidade lingüística que a Índia soube manter. Alguns vão dizer que os hindus são pobres, miseráveis em sua maioria, e que as castas nos mantêm separados. Certo, nem tudo é perfeito.

                            Imagine agora o que NÓS teríamos conseguido fazer, se tivéssemos mantido essa continuidade linguística!

                            Vitória, quarta-feira, 10 de abril de 2002.

Páginas do Passado e do Futuro

 

                            Todas as páginas que vemos nos jornais versam sobre o presente. No modelo os tempos foram redenominados para passado/anterioridades, presente/atualidades e futuro/posteridades, mas na realidade só existe um tempo, a ATUALIDADE, onde nos lembramos das atualidades do passado e projetamos linhas e matrizes a que denominamos futuro.

                            Sendo assim, os jornais estariam certos.

                            Entrementes, as pessoas, como os animais e as plantas, se lembram, em vários níveis, das atualidades passadas, e a própria matéria guarda repercussões. E todo ser vivo se prepara para as atualidades futuras, fazendo estoques de matéria, energia e informações.

                            O Globo começou a publicar as capas das edições antigas, desde o começo, do seu número 1, mas isso não é a mesma coisa, essa é uma espécie de saudosismo irracional, ao passo que nós devemos ser objetivos, para extrair riqueza: a transformação dos recursos, riqueza potencial, em potência realizada, que é riqueza.

                            Deste modo, devemos ESTUDAR PASSADO E FUTURO, para minimizar as informações remanescentes do primeiro em utilidades, e projetar o segundo em linhas críveis, dentro dos limites dos conhecimentos atuais mais avançados.

                            Não queremos recordar TODO O PASSADO, nem haveria tempo para isso, nem todavia produzir centenas de milhares de páginas de projeções não autorizadas, incríveis e desnecessárias, tomando um tempo monstruoso da gente. Queremos contrações qualitativas de grau “c” do primeiro e deduções convalidadas de grau “d” do segundo. Por “con-validadas” entendo um grupo-tarefa encarregado de sustar toda interferência espertalhona e indesejada de intrusos que não tenham sugestões aproveitáveis a dar, e só estejam a fim de avacalhar o processo. Evidentemente, com alguma retroalimentação constante, de maneira a não criar mais um Instituto Hudson da vida, xeretando a existência dos outros, dando palpites errados, intrometendo-se no alheio sem convite.

                            É mais o caso de haver um balizamento convergente, quer dizer, uma pesquisa externinterna, ou seja, sobre o exterior que é estudado e o interior que estuda.

                            Esse novo modo de fazer jornal elevaria a qualidade dele a um patamar por enquanto desconhecido, levando-o do jornalismo em ponto extremamente baixo atual (salvo as exceções de sempre) a verdadeira ajuda ao povelite/nação.

                            Por quê o jornalismo é só sobre o presente? Isso é incompreensível e inaceitável.

                            Como a Geo-História, que é a cartografia/jornalismo alta, estes dois últimos devem ser ampliados e melhorados consideravelmente, para servir melhor ao mundo muito mais complexo de amanhã.

                            Ninguém espera que os pequenos jornais possam arrojar-se para uma tarefa assim grandiosa, porém meia dúzia de grandes jornais pode lançar-se à tarefa. A questão é: em qual grande grupo editor de jornais encontraremos o primeiro respaldo para tal mobilização frutífera? Não seria bom queimar o projeto com uma abordagem amadorística, insuficiente, desastrosa.

                            Vitória, quinta-feira, 25 de abril de 2002.

Os Problemas do País e os Discursos dos Políticos

 

                            Penso que uma pesquisa acadêmica iria constatar duas respostas possíveis para a pergunta “como os políticos reagem aos problemas? ”: 1) a resposta imediata nos discursos em relação aos assuntos momentosos, aqueles que estão na “ordem do dia” da mídia em geral e em particular da TV e dos jornais; 2) a falta de investigação e equacionamento da totalidade dos problemas do país a curto, médio e longo prazo.

                            A RESPOSTA IMEDIATA confere notoriedade e permanência, portanto satisfação do ego do indivíduo, família, grupo e empresa, quer dizer, dos conjuntos pessoais. A NOTORIEDADE seria medida pela quantidade de citações em toda a mídia (TV, Rádio, Revista, Jornal, Livro e Internet – em maiúsculas conjunto ou família ou grupo de meios). Dela freqüentemente depende a PERMANÊNCIA, a quantidade de períodos que determinado político fica à frente do Executivo ou no Legislativo.

                            Creio que a quase totalidade dos políticos vai ser pega nessa armadilha do destino, tornando-se ou pretendendo tornar-se momentaneamente grande, depois ficando cada vez menor com o tempo.

                            Do outro lado está a INVESTIGAÇÃO e o enquadramento (correto ou incorreto fica por conta de uma quantidade de fatores) dos problemas reais (que devem ser solucionados) ou inventados (que devem ser esvaziados). A investigação pressupõe seriedade e verdadeiro interesse nas questões ambientais (dos municípios/cidades, dos estados, das nações e do mundo), portanto ultrapassamento do ego. Creio que aqui encontraremos poucos, se houver algum, porque demanda espíritos de pesquisadores ou de estadistas, que estão um ou dois graus acima da política representativa.

                            Isso quer dizer ir em busca de quem sabe, o que exige humildade, ou procurar entender por si mesmo, estudando, o que pede dedicação e recolhimento. Não acredito que os políticos brasileiros, ou até da maior parte do mundo, possam ter essas qualidades. Não acredito mesmo.

                            No entanto, é do que precisamos.

                            Senão, pelo exclusivo lado da NOTORIEDADE os políticos e governantes estarão sempre a reboque da nação, nunca à sua frente. É como se a locomotiva fosse sendo puxada pelos vagões. A outra opção, que penso ser a mais correta, seria a ordem natural, da locomotiva puxar os vagões, dos bois irem à frente da carroça, de os políticos, muito bem pagos e em situação privilegiadíssima à custa de todos, estarem equacionando os problemas em seu nascedouro, quando ainda podem ser solucionados com poucos esforços e pequena quantidade de dinheiro.

                            Como é hoje, acontece o problema das drogas e muito depois, quando as máfias se organizaram a ponto de desafiarem as forças armadas, os políticos se movem em bando para a solução da tempestade, do furacão, do tufão, do tsunami, do maremoto, do terremoto, da nevasca, enfim da destruição em toda a sua força e ferocidade. Então o bando todo corre para ocupar a frente, em relação aos relâmpagos das máquinas fotográficas e aos microfones. Aquele bando vergonhoso procurando aparecer na primeira página.

                            Acho que a complexidade da sociedade/civilização/cultura brasileira já pede muito maior seriedade, para o enquadramento correto e a perfeita solução de nossos crônicos e agudos problemas nacionais e locais.

                            Como disse Bob Dylan, ninguém precisa de um meteorologista para dizer que está chovendo.

                            Precisamos nos prevenir contra os desastres, descobrindo métodos confiáveis de previsão. ESTA forma de agir exige a investigação, a dedicação, o amor ao próximo, a doação de si, a grandeza d’alma, verdadeira identidade com os ambientes, ultrapassamento do auto-interesse, etc. Tudo que não vemos nos políticos e governantes.

                            Vitória, sábado, 20 de abril de 2002.

Os Idos de 1975

 

                            Arthur Carlos Gerhardt Santos foi governador biônico do estado nessa época, pelas mãos de Geisel, de 1975 a 1979.

                            Fosse por ele mesmo, como engenheiro que é, ou devido às circunstâncias da ditadura, o fato é que miraram o ES como alvo de alguns investimentos bastante grandes.

                            Senatilho Perim era o secretário da extinta Indústria e Comércio, onde eu fui admitido e fiquei um ano e meio, de modo que estava no núcleo mesmo de onde eram disparadas as coisas. Foi feita uma exposição nos armazéns do Cais do Porto, onde colocaram as maquetes e um monte de fotos, inclusive da planejada monstruosa CST, que atingiria em 20 anos uma produção de 12 milhões de toneladas de aço (acho que até agora, passados sete anos do prazo, não chegou à metade), e várias indústrias grandes. A malha rodoviária projetada foi chamada de Espinha de Peixe, e obviamente também não se concluiu nos moldes.

                            Mas foi a última vez em que, pelo menos, se fizeram grandes as expectativas dos capixabas quanto ao futuro.

                            Nenhum dos governadores que vieram depois chegou nem perto de imaginar cenários inovadores, que tivessem o condão de despertar na coletividade ambições não-triviais de continuidade. Faltou grandeza, eu acho. Claro que naquele momento foi tudo conjuntural.

                            Minas Gerais não tem porto próprio, o jeito foi sair pelo ES, de preferência a injetar ainda mais força e poder ao Rio de Janeiro, então um estado politicamente rebelde, avesso ao governo central. Tudo obra do acaso, mas disso estamos vivendo até hoje.

                            Se o ES aparece na mídia nacional, isso ainda se deve à presença da CST, da CVRD ampliada, da Samarco, da Aracruz Celulose, tudo daquela época. Não fosse isso, continuaríamos a ser a porqueirazinha de antes.

                            Faltou esse grande governador, agora com objetivos estruturais, racionais, de moto próprio, e não mais conjuntural, sentimental, movido pelas vontades de fora. Falta esse grande governador que seja capaz de projetar ainda mais o ES, criando grandes cenários que impressionem todos os capixabas, que nos faça empolgar-nos mais, investir mais, buscar fontes de recursos, desencavar idéias, criar novas, fazer e acontecer – enfim, estabelecer um novo surto de prosperidade, rumo, por exemplo, à alta tecnociência mundial.

                            Criar e manter um novo ciclo capixaba de desenvolvimento.

                            Paralelo ao brasileiro, mas com características de independência e novas certezas quanto ao futuro.

                            Está certo que somos brasileiros e que gostamos de ser brasileiros, irmãos de todos os estados, nós temos mesmo identidade com todos e cada um. Mas, e nossa capacidade de fazer capixabamente? Quando é que vamos defini-la? Agora já não confundem Vitória com Vitória da Conquista, e nem dizem que a razão do Criador para fazer o ES tivesse sido aumentar a distância entre o Rio de Janeiro e a Bahia.

                            Mas ainda estamos longe de termos uma identidade tão marcante quanto a dos baianos, dos cariocas, dos paulistas, dos rio-grandenses, dos pernambucanos, etc., e até dos brasilienses, que começaram em 1960.

                            Que é que falta?

                            Falta presença de espírito a um homem ou a uma mulher que veja o ES em ponto grande e diga: “sou eu que vou fazer! ” Pelo menos vou começar, nos meus quatro anos, ou até nos oito, se houver reeleição.

                            Enquanto não aparece tal criatura, ficamos todos à espera do disparo que detona a corrida para frente.

                            Vitória, quarta-feira, 10 de abril de 2002.