Fazenda Espírito
Santo, Secretaria da Fazenda
Em certo lugar do Brasil existia a
fazenda Espírito Santo e nela a secretaria da fazenda, onde o secretário da
fazenda tinha seus peões.
A fazenda Espírito Santo era terreno
assemelhado a retangular, mais comprido que largo, 450 de comprimento por 100
de largura. Podia ser comparada a um daqueles aparadores de sol dos antigos
fuscas, empoeirada e com marcas de dedos.
A secretaria da fazenda era
responsável pelos aportes financeiros. Enfim, proporcionava o tutu, a grana, o
big Money, a prata, o arame, o capim, o ouro, a bufunfa.
Enfim, a coisa.
Porisso era a secretaria mais cobiçada
da fazenda.
Para você ter ideia, a fazenda era
cercada por arame farpado (pense no Teatro Carlos Gomes em Vitória com cerca em
volta e mata-burros na entrada) e era verdadeiramente teatral. Jogo de cena.
Melodrama, um tributo a Hollywood. Cada coisa! Se você visse, ficaria
assombrado.
A secretaria empregava vários fiscais
para fiscalizar as obras que eram feitas por todo o território dela.
O secretário da fazenda, durante as
apresentações junto aos proprietários do lugar, vestia fantasia, ele se
imaginava especial, especialíssimo, mas tinha um grande rabo, assim como a Cuca
do Sítio
do Pica-pau Amarelo, de Monteiro Lobato, um grande crocodilo que
espelhava psicologicamente o retrato biológico: uma bocarra capaz de a tudo
engolir.
A
CUCA DO SECRETÁRIO
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SECRETÁRIO (com seu grande rabo
balançando, andando com certa dificuldade, gingando, roupa coalhada de bolsos
na frente, nos braços, nas pernas) – não sei por que está tão difícil andar. Eu
sinto que tem alguém me vigiando!
ASSESSOR – secretário, o senhor está
com o rabo preso.
SECRETÁRIO (tentando se desvencilhar)
– caramba! O que foi que eu fiz para merecer essas coisas? Eu sinto mesmo que
tem alguém me vigiando.
ASSESSOR (inocente, vingativo) – o
senhor quer que eu conte?
SECRETÁRIO (dando um pulo, assustado)
– não! E logo hoje que o donovernador vem visitar a fazenda...
Nisso o donovernador entra. Ele tem um
edifício nas costas que o arrasta para trás.
DONOVERNADOR (cantando, todo animado
com as facilidades da vida) – Açaí, guardião... O sol brilha por mim.
ASSESSOR (imprudente) – o senhor está
com as costas largas, têm um punhado de apartamentos aí.
De fato, olhando-se com atenção, nas costas
do Donovernador há um prédio que dificulta seus movimentos.
DONOVERNADOR (não se dando por achado,
na maior intimidade) – e aí, Zete?
ZETE (todo feliz com a intimidade) –
tudo bem, e o senhor?
DONOVERNADOR (astuto, piscando o olho)
– e aquelas informações que lhe passei, serviram?
ZETE – se serviram?! Demais, da conta.
Pude repassar com muito gasto, já transferiram nossas encomendas.
DONOVERNADOR (mais alegre ainda) –
puxa, que bom. É nois na fita, mano. Tamo feito, bro.
ZETE (rindo à toa, comunicativo) –
nois é nois, o resto é bosta.
A
VENDA DA JUSTIÇA DUSOMIS, TUDO É QUESTÃO DE INFORMAÇÕES E PRIVILÉGIOS
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ASSESSOR (taquigrafando tudo) – tem
algum pra mim?
OS DOIS – Eu, hem?
DONOVERNADOR – você é da diretoria?
ASSESSOR (decepcionado) – não, por quê?
ZETE – então tá fora, vai saindo
(enxota com as mãos, em sinal de desprezo).
ASSESSOR (botando as notas
taquigráficas no bornal) – boa tarde.
Serra, quarta-feira, 13 de junho de
2012.
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