quinta-feira, 15 de março de 2018


Os Remarcadores ou a Liberdade da Transferência de Carga

 

Na época da inflação (ia a 80 % por mês e eles temiam que se tornasse galopante; antes de 1994, quem tem menos de 30 anos não irá se lembrar diretamente) as maquininhas giravam a todo valor nos supermercados, vários funcionários ficavam passando pelas gôndolas alterando os valores, peguei um produto com oito etiquetas sobrepostas. Por vezes, de um lugar para outros o mesmo produto diferia mais de 10 vezes, quer dizer, custava 10 aqui e portas adiante 120.

Já falei muitas e muitas vezes desse fenômeno que as pessoas se recusam a olhar, masoquistas que são dos sádicos. Os vários intermediários (por vezes havia sete ou oito deles) antes do vendedor final iam adicionando não valores, utilidades dos produtos, mas os números, todos querendo lucrar sem trabalhar, como é corrente no Brasil.

O Governo (forças militares, polícia, leis, estrutura hierárquica dos poderes) geral autorizava tirar dos que não podiam aumentar preços dos produtos e serviços, permitia tirar dos trabalhadores, que penavam negociando sua sobrevivência.

Alguém decidia que seus custos tinham aumentado, trocava as etiquetas, remarcava, transferia a carga de trabalho, como um trem que ao lado de outro transferisse as suas cargas para esse outro, ficando sua tarefa de força mais folgada. Essa foi uma grande violência contra os brasileiros que economistas, administradores, advogados, contadores e psicólogos em geral não apontaram. Quantos dias de trabalho ao ano o operário teve roubados na maior sem-vergonhice! Todo um povo escravizado (não pensem que fomos os primeiros, nem seremos os últimos).

Tudo isso, que parece desordem, caos, depende de ordem/hierarquia e ordens/autorizações, depende de vários cúmplices permitirem e apoiarem com inações e atos. Como os crematórios alemães para os judeus, nada foi deixado ao acaso, tudo foi planejado pela gente má, maldita.

E os psicólogos todos passaram ao largo mais uma vez.

Para que servem os psicólogos senão para co-validar o sistema e o estabelecimento da chibata?

Vitória, quinta-feira, 15 de março de 2018.

GAVA.

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