Os
Remarcadores ou a Liberdade da Transferência de Carga
Na época da inflação (ia a 80 % por mês e
eles temiam que se tornasse galopante; antes de 1994, quem tem menos de 30 anos
não irá se lembrar diretamente) as maquininhas giravam a todo valor nos
supermercados, vários funcionários ficavam passando pelas gôndolas alterando os
valores, peguei um produto com oito etiquetas sobrepostas. Por vezes, de um
lugar para outros o mesmo produto diferia mais de 10 vezes, quer dizer, custava
10 aqui e portas adiante 120.
Já falei muitas e muitas vezes desse fenômeno
que as pessoas se recusam a olhar, masoquistas que são dos sádicos. Os vários
intermediários (por vezes havia sete ou oito deles) antes do vendedor final iam
adicionando não valores, utilidades dos produtos, mas os números, todos querendo
lucrar sem trabalhar, como é corrente no Brasil.
O Governo (forças militares, polícia, leis,
estrutura hierárquica dos poderes) geral autorizava tirar dos que não podiam
aumentar preços dos produtos e serviços, permitia tirar dos trabalhadores, que
penavam negociando sua sobrevivência.
Alguém decidia que seus custos tinham
aumentado, trocava as etiquetas, remarcava, transferia a carga de trabalho,
como um trem que ao lado de outro transferisse as suas cargas para esse outro,
ficando sua tarefa de força mais folgada. Essa foi uma grande violência contra
os brasileiros que economistas, administradores, advogados, contadores e
psicólogos em geral não apontaram. Quantos dias de trabalho ao ano o operário
teve roubados na maior sem-vergonhice! Todo um povo escravizado (não pensem que
fomos os primeiros, nem seremos os últimos).
Tudo isso, que parece desordem, caos, depende
de ordem/hierarquia e ordens/autorizações, depende de vários cúmplices
permitirem e apoiarem com inações e atos. Como os crematórios alemães para os
judeus, nada foi deixado ao acaso, tudo foi planejado pela gente má, maldita.
E os psicólogos todos passaram ao largo mais
uma vez.
Para que servem os psicólogos senão para
co-validar o sistema e o estabelecimento da chibata?
Vitória, quinta-feira, 15 de março de 2018.
GAVA.
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