domingo, 18 de março de 2018


A Mordida na Maçã

 

Minha filha perguntou ontem porque não uso os computadores da Apple e a resposta que dou, com outras palavras mais elaboradas, foi a mesma dada ao vendedor gozador em 1995: de fato os daquela companhia são muito mais bonitos, finos, leves, resistentes a quedas, à prova de falhas (não são feitos por empresas de fundo de quintal, sem controle de qualidade) , à prova de vírus (a empresa mesma faz os programas e não deixa portas abertas à invasão) e tudo mais.

Tinha tudo isso, eu sabia.

O primeiro computador que comprei (em 1989 a Web foi lançada no mundo e em 1995 no Brasil, tornando os PC realmente atrativos) foi em 1995 para eles, que estavam em AC/ES com a mãe, depois do divórcio recente, de 1994. Custou quatro mil dólares, então emparelhados 1/1 com os reais. Hoje custariam uns 13 mil reais. Os da Apple eram MUITO MAIS caros que isso, os meus vencimentos vinham aumentando em razão da presença e apoio do ex-governador Albuíno, entretanto, por esse lado não dava. Hoje, permanecem mais caros, mas não tanto. Um PC qualquer de loja qualquer custa dois a três mil reais, um da Apple bastante mais, porém adquirível, se eu fosse comportado e não comprasse tantos livros.

Contudo, penso bastante, não fiquei com os 20 % das elites, fiquei com os 80 % de povo PORQUE a grande maioria dos programas seria feita para a grande maioria 4/1: no meio das porcarias, dos refugos, do lixo, da borra, dos rejeitos, da lama eu esperava encontrar (como no que chamei de “programa espermatozoides”, fabricar milhões para um ou dois chegarem ao útero) aqueles que me servissem. Alguém deveria fazer as contas de quantos PC foram feitos no mundo, face a quanto Apple; e comparar os preços “pau-a-pau”, como dizia a gíria que os jovens de hoje não usam mais.

Também aconteceu de o poder computacional oferecido ao povo ter sido multiplicado (memória de acesso, memória de estocagem, entrada-saída, HUB, Wi-Fi, bluetooth, transferência de dados de celular a computador, webcam e todos os periféricos) por um milhão ou mais - alguém deveria fazer as contas – por unidade de trabalho ou métrica válida. Este computador roscofe que tenho era toda uma estação de trabalho das forças armadas americanas em 1960 ou sei lá quando, é preciso que os especialistas comparem com um de loja atual de três mil reais.

Com o Apple teria um computador elegante a vigiar, pois valeria literalmente ouro; poucos poderiam tocar, inclusive meus filhos, que tiveram aquele e depois muitos notebooks, sem falar de mim, que tive mais ainda; com o desprezo das elites tive de gastar sobretrabalho, trabalho em excesso pelos produtos, inclusive pago na forma de super-tributação. Sem dúvida, penei, contudo, pude ir em frente às trambolhadas, com todas as falhas da Microsoft, do Windows por vezes irritante, do Office com aquelas ilogicidades dele. Sem dúvida nenhuma, foi trabalhoso atravessar o lodaçal junto com o povo, em vez de ir pela estrada asfaltada das elites colocadas bem para cima, porém na lama encontrei muito maior utilidade.

Essa foi a diferença, querida filhinha: se eu tivesse mordido a maçã, teria sido envenenado pela bruxa. A tentação foi sempre grande, mas fiquei nas minha convicções.

Vitória, domingo, 18 de março de 2018.

GAVA.

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