sábado, 24 de março de 2018


Mesquininharias

 

Há coisas que prezo em minha existência: honestidade, beleza, elegância, grandeza, amor, consideração e tudo que está no DdB, Dicionário do Bem, de Deus. A grandeza d’alma, que Fernando Pessoa expressou sucintissimamente em sua frase (“tudo é grande quando a alma não é pequena”, a que juntei “tudo é pequeno quando a alma não é grande”) é o mote perfeito.

SENTI OS PASSARINHOS TODOS ME RECONHECEREM (cantada por Ronnie Von, onde encontrei; de Carlos Imperial, de Cachoeiro de Itapemirim, ES)

A Praça
Carlos Imperial
 
Hoje eu acordei
Com saudades de você
Beijei aquela foto
Que você me ofertou
Sentei naquele banco
Da pracinha só porque
Foi lá que começou
O nosso amor...
Senti que os passarinhos
Todos me reconheceram
E eles entenderam
Toda minha solidão
Ficaram tão tristonhos
E até emudeceram
Aí então eu fiz esta canção...
A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim...
Beijei aquela árvore
Tão linda onde eu
Com o meu canivete
Um coração eu desenhei
Escrevi no coração
Meu nome junto ao seu
Ser seu grande amor
Então jurei...
O guarda ainda é o mesmo
Que um dia me pegou
Roubando uma rosa amarela
Prá você
Ainda tem balanço
Tem gangorra meu amor
Crianças que não param
De correr...
A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim...
Aquele bom velhinho
Pipoqueiro foi quem viu
Quando envergonhado
De namoro eu lhe falei
Ainda é o mesmo sorveteiro
Que assistiu
Ao primeiro beijo
Que eu lhe dei...
A gente vai crescendo
Vai crescendo
E o tempo passa
E nunca esquece a felicidade
Que encontrou
Sempre eu vou lembrar
Do nosso banco lá da praça
Foi lá que começou
O nosso amor...
A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim...(2x)

CERTA PESSOA E EU

FERNANDO PESSOA: tudo é grande quando a alma não é pequena.
A grande alma alarga o mundo, deixa-o maior do que quando chegou, mais organizado, mais palatável, mais feliz, mais brilhante.
Pródigos, dadivosos, francos, generosos que dilatam o mundo, tornam-no mais espaçoso para a emoção e a razão: magnificentes, magnânimos, magníficos.
EU: tudo é pequeno quanto a alma não é grande.
Os outros tornam o mundo diminuto, insalubre, inseguro, vil, malicioso, serpentino: a alma pequena reduz o mundo às suas dimensões del’alma.
Mesquinhos, redutores, apequenadores, tornam os outros pequenos também, criam mundo trevoso: desprezíveis, estreitos, medíocres.

Quando a alma é grande, faz tudo grande: descobre (o inventor do elevador não o fez só para si; foi remunerado, e daí?), financia a expansão, implanta, empreende, auxilia, ampara, delineia um grande futuro (como os descobridores portugueses).

Quando a alma é pequena, tudo apequena, tudo compacta e em geral quer só para si a piscina, o carro formidável, joias, busca tudo do orgulho (fama, poder, riqueza, beleza).

Desde cedo tive ojeriza da mesquinhez, das ninharias, procurei passar ao longe: como mudei em torno de 30 vezes, fora as que estavam fora de meu alcance porque controladas por papai e mamãe, quando eu mesmo pude dirigir deixei para trás cortinas, torneiras de pia, lâmpadas e o mais; e dei coisas às dezenas, aliviei todo o peso dessas matérias em minha vida. Até mesmo livros dei: quando aos 20 anos pensei fortemente em me suicidar, dei 200 livros (e muitos foram roubados depois, fora outros que ofertei).

Não me arrependo de nada disso.

As mesquinhezes-ninharias diminuem toda gente, quem faz e quem é feito menor, comprime o mundo, encurta seu futuro, escurece tudo.

Vitória, sábado, 24 de março de 2018.

GAVA.

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