segunda-feira, 2 de outubro de 2017


Zenão e Parmênides

 

                            No livro História da Filosofia, São Paulo, Best Seller, 2002, de Baby Abrão e Mirtes Coscodai elas dizem na página 33: “Se há várias coisas, afirma Zenão, elas devem ser em determinado número, nem mais nem menos; mas entre elas deve haver sempre outras. Então é preciso admitir que exista um número ao mesmo tempo finito e infinito de coisas, o que é absurdo. Esse argumento supõe que não haja o vazio. De fato, segundo Zenão, se existe algo, esse algo está em algum lugar, mas esse lugar deve também estar num lugar e assim sucessivamente. Um lugar sempre contém um outro e, por isso, não pode estar vazio: o vazio não existe”.

                            Onde está a falha?

                            É certo que “se há várias coisas (...) elas devem ser em determinado número, nem mais nem menos (...)”.

                            Existência é a mesma coisa que possibilidade de contagem.

                            Como o presente universo existe, em tese suas coisas poderiam ser contadas, por mais que se demorasse e por maior que fosse o poder necessário para tal; esse é o sentido de finitude e de existência. As coisas existentes são em determinado número: dizer “determinado” é dizer de-fim, de-terminado. Nem mais, nem menos.

                            O erro se apresenta em: “Então é preciso admitir que exista um número ao mesmo tempo finito e infinito de coisas (...)”. Admitimos que existe um número finito de coisas e não um número infinito delas. Nem há sentido em dizer “número infinito”, porque se é número é contável e se é infinito é incontável – são pólos polares opostos/complementares, NÚMERO e INFINITO. Misturá-los numa frase é criar paradoxos, isto é, o que está ALÉM DO DIZER. De fato, isso é “o que é absurdo”. É absurdo mesmo.

                            Isso veio da introdução de “(...); mas entre elas deve haver sempre outras”. Não. Entre coisas há não-coisas, porque é assim que se completa o par polar ser e não-ser. O conceito de “lugar” é isto: lugar é onde a coisa se insere na não-coisa, o existente no não-existente. A fruta está num lugar porque em volta dela NÃO-HÁ, quer dizer, há espaço, que é outro nome de não haver, pois há espaço, há o não-há.

                            Eis porque Zenão criou o paradoxo entre vazio e não-vazio, dizendo ao mesmo tempo que o vazio existe e não-existe. De fato, constituem par polar: 1) o vazio existe onde não-há coisa; 2) ele não-existe onde a coisa há, isto é, existe. Nenhuma dificuldade de entendimento.

                            Vitória, quarta-feira, 01 de junho de 2005.

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