Zenão e Parmênides
No livro História da Filosofia, São Paulo, Best
Seller, 2002, de Baby Abrão e Mirtes Coscodai elas dizem na página 33: “Se há
várias coisas, afirma Zenão, elas devem ser em determinado número, nem mais nem
menos; mas entre elas deve haver sempre outras. Então é preciso admitir que
exista um número ao mesmo tempo finito e infinito de coisas, o que é absurdo.
Esse argumento supõe que não haja o vazio. De fato, segundo Zenão, se existe
algo, esse algo está em algum lugar, mas esse lugar deve também estar num lugar
e assim sucessivamente. Um lugar sempre contém um outro e, por isso, não pode
estar vazio: o vazio não existe”.
Onde está a falha?
É certo que “se há
várias coisas (...) elas devem ser em determinado número, nem mais nem menos
(...)”.
Existência é a mesma
coisa que possibilidade de contagem.
Como o presente
universo existe, em tese suas coisas poderiam ser contadas, por mais que se
demorasse e por maior que fosse o poder necessário para tal; esse é o sentido
de finitude e de existência. As coisas existentes são em determinado número:
dizer “determinado” é dizer de-fim, de-terminado. Nem mais, nem menos.
O erro se apresenta
em: “Então é preciso admitir que exista um número ao mesmo tempo finito e
infinito de coisas (...)”. Admitimos que existe um número finito de coisas e
não um número infinito delas. Nem há sentido em dizer “número infinito”, porque
se é número é contável e se é infinito é incontável – são pólos polares
opostos/complementares, NÚMERO e INFINITO. Misturá-los numa frase é criar
paradoxos, isto é, o que está ALÉM DO DIZER. De fato, isso é “o que é absurdo”.
É absurdo mesmo.
Isso veio da
introdução de “(...); mas entre elas deve
haver sempre outras”. Não. Entre coisas há não-coisas, porque é assim que
se completa o par polar ser e não-ser. O conceito de “lugar”
é isto: lugar é onde a coisa se insere na não-coisa, o existente no
não-existente. A fruta está num lugar porque em volta dela NÃO-HÁ, quer dizer,
há espaço, que é outro nome de não haver, pois há espaço, há o não-há.
Eis porque Zenão
criou o paradoxo entre vazio e não-vazio, dizendo ao mesmo tempo que o vazio
existe e não-existe. De fato, constituem par polar: 1) o vazio existe onde
não-há coisa; 2) ele não-existe onde a coisa há, isto é, existe. Nenhuma
dificuldade de entendimento.
Vitória,
quarta-feira, 01 de junho de 2005.
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