sexta-feira, 6 de outubro de 2017


Uma Sorte e o Outro Azar

 

                            Mamãe contava que certa vez meu pai, motorista de caminhão usado, sendo pobre a família, estava sem fazer fretes e chateado à beça de não poder comprar os cadernos de início de ano escolar de meus irmãos quando achou na rua algum dinheiro que dava justamente para tal; esperou um tempo para ver se alguém se manifestava como dono (se anunciasse muitos falsos proprietários apareceriam) e então usou-o. Como se diz, “deu sorte”; do outro lado ficou o azar de quem perdeu, sabe-se lá se até mais necessitado. A soma é zero 50/50 dos pares polares opostos/complementares.

                            Sorte de um lado é do mesmo tamanho do azar do outro.

                            A Caixa Econômica Federal apesar da proibição constitucional é a patrocinadora OFICIAL dos jogos de azar do governo-Executivo federal e as muitas loterias inventadas por ela carreiam bilhões (creio até que de dólares) por ano, ficando do montante 66 % com o governo a título de tributos. De um lado tira de uns através de jogos de azar e do outro patrocina a concentração de renda: não é lindo isso? Já pedi (solitariamente, porque não tenho conseguido fazer as pessoas lerem) providências no sentido de primeiro levantar esse evento único de: 1) ser proibido na Constituição e mesmo assim realizado; 2) por uma instituição oficial governamental; 3) que patrocina simultaneamente de um lado o azar e do outro a concentração de renda, dois valores execrados pela coletividade.

                            Quanto azar nós damos para que os outros tenham sorte?

                            Isso, tanto nesse sentido de apostar quanto no outro de passar esse capital-sorte para os outros, que nos pagam em capital-azar.

                            É claro que a sorte-azar é uma Curva do Sino ou de Gauss ou das Distribuições Estatísticas: é aleatória. Tal como o flogístico e o geocentrismo a sorte-azar não passa de uma entidade virtual: as pessoas não vêm “carregadas de azar” ou são “portadoras de boa-sorte” (a má-sorte, por oposição/complmentação, é justamente o azar), porque sorte e azar não são quantidades, são designações de efeitos e não de causas. Mas, como os outros elementos fictícios todos podem ser estudados como reais, mapeados e, talvez, até induzidos (por manipulações de equações).

                            Vitória, sexta-feira, 17 de junho de 2005.

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