quinta-feira, 5 de outubro de 2017


Ilusões Hauserianas


 

                            Leia abaixo elementos da Internet antes de seguir.

                            No filme, Kaspar Hauser fala várias coisas, inclusive que a humanidade estaria subindo uma montanha - como já referi várias vezes - e ao chegar lá em cima só veria inumeráveis outras montanhas. Por conta disso coloquei Gaspar (forma latinizada do alemão Kaspar) como um dos cegos em volta do elefante (na Rede Cognata = CENTRO = ABSOLUTO). Ele foi profundo, porque o que disse é uma das formas não-corriqueiras do mito de Sísifo, segundo o qual este rola uma pedra até o alto da montanha, de onde ela desce para ser novamente elevada de forma bem penosa.

                            É claro, as montanhas são acumulações: os carros, os apartamentos, os sítios, as mulheres, o dinheiro, os objetos com que sonhamos, tudo aquilo que aspiramos, até a compreensão do universo, todo o Conhecimento (as aspirações dos magos/artistas, dos teólogos/religiosos, dos filósofos/ideólogos, dos cientistas/técnicos e dos matemáticos), tudo mesmo, todos os sonhos dos racionais, todos os inumeráveis universos do Pluriverso - criado por Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI – cuja compreensão perseguimos inutilmente através de inumeráveis existências, todas essas encarnações que estão por toda parte no Cosmos. Você paga as prestações do apartamento por 15, 20, 25, 30 ou 35 anos e ao fim de tanto esforço tudo recomeça para outro; e não recomeça para você porque você irá morrer logo em seguida – se durasse mais iria embarcar em outras ilusões.

                            Entretanto, essa forma extrema de desespero niilista de Gaspar também é uma ilusão, ilusão reversa, de não construir, pois está posta a soma zero 50/50 e então de um lado sempre haverá o ruim e em compensação do outro lado o bom. Estatisticamente vai haver flutuação no Pluriverso e os universos pipocarão como bolhas, como sementes explodidas como árvores de realizações. Os seres se manifestarão como consciência, como auto identificação, quer queiram e quer não; então, estando na consciência teremos fatalmente esses instantes de acumulação e de aniquilação.

                            O que distingue mesmo é o querer. Não se trata, como disse Descartes, de pensar, pois atrás do pensar há o querer (pois quem pensou quis pensar), a vontade, e é isso que importa: “tenho vontade, desejo, então existo”, pois existir racionalmente é ter vontade; existir irracionalmente é ter vontade; existir física e quimicamente é ter potência, que é a vontade em estado indiferenciado e não-reflexo.

                            E o mais alto querer é o amor, o querer sem motivação, sem recompensa, sem pagamento. Gaspar despreza o pagamento DEPOIS DO ESFORÇO negando assim o esforço como inútil; pois bem, para quem amar o esforço a realizar é o pagamento SEM DESTINAÇÃO, sem a quem dar, porque o esforço é antes do prêmio. De outra forma, supondo que ELI já conheça tudo, para quê haveria de criar o Pluriverso? É para que outros, todas essas frações conscientes possam conhecer o amor. E essa é a demonstração de que Gaspar – tendo sido abandonado quando criança - também se iludiu. Venho pesando nisso difusamente, desde que assisti ao filme em 1974, por mais de 30 anos.

                            Vitória, sexta-feira, 17 de junho de 2005.

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