quarta-feira, 4 de outubro de 2017


A Traição como Vacina

 

                            Alguns índices humanos são mais terríveis que outros, apenas ruins: são eles a traição, a fofoca, a maledicência, a mendicância, a deduragem e coisas assim. Considero-os até pior que ratos e baratas.

                            Antigamente ficava furioso com qualquer coisa assim, mas depois aprendi que, por exemplo, um ato de traição pode até ser vantajoso, desde que aprendamos com ele; é preciso afastar o traidor, claro. Em todo caso uma traição menor nos educa, porque pode haver outras maiores ainda na frente. Não são os desconhecidos que nos traem, porque nem trato com eles temos; nem são os colegas, porque pouco partilhamos com eles – é sempre gente na qual confiamos, como já disse. Se nos traem é porque não confiam tanto em nós quanto confiamos neles; sendo assim é melhor que vão mesmo embora.

                            Se a traição é pequena ela age como uma vacina em relação a outras maiores ainda que poderiam nos afetar muito mais. Se é grande, do núcleo interno da existência, de fato pode abalar tanto que mata de desgosto. Estou falando das pequenas. Essas são realmente vacinas (traição = VACINA = LINHA = VÍRUS = DOENÇA, etc., na Rede Cognata). Quando ocorrem é sempre uma decepção, mas olhando depois custa até barato, porque essa pessoa poderia chegar ainda mais perto e levar ainda mais de nós.

                            As grandes traições, essas não têm cura.

                            Mas pequenas = INJEÇÕES = PROTEÇÕES = PROJEÇÕES = ANTENAS, de modo que agem para prevenir outras; ninguém pode contar com, nem esperar uma grande traição, que é um veneno terrível e incurável. Contudo, as pequenas nos ajudam e como disse Nietzsche o que não mata, nos fortalece. As grandes traições nos matam, então não nos fortalecem; entretanto, as pequenas, que não nos matam, só nos enrijecem e constituem, por assim dizer, um prêmio. Não devemos desejá-las, mas se acontecerem devemos delas tirar essas lições positivas.

                            Vitória, sexta-feira, 17 de junho de 2005.

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