quarta-feira, 5 de julho de 2017


Quando o Arco e a Planície se Avistaram e Marcaram um Encontro

 

                            Seguindo a trilha da migração dos crátons na América do Sul a partir da separação da África, com o levantamento do Arco dos Andes, veja que este despontou no horizonte como uma linha de ilhas que foram se juntando para formar o contínuo atual de oito mil quilômetros; em termos humanos isso foi muito lento – teríamos visto ilhas comuns durando muitas e muitas vidas humanas, mesmo mais que os 10 mil anos desde o surgimento da civilização. Depois apareciam outra e outra até fechar o arco. Depois a região intermediária foi levantando também, de modo que chegou um instante em que o Arco e a Planície (que passou a haver para os lados dos crátons) finalmente se avistaram, isto é, a distância entre eles era tal que uma pessoa em pé podia avistar o outro lado do horizonte ou do mundo.

                            Do pé do Arco ou de uma praia da Planície se avistaria já o outro lado, a distância entre ambos não passando de um rio, tudo estando se fechando progressivamente. Ainda era mar, um braço dele, um fio, relativamente largo, relativamente estreito, mas não mais a corredeira de antes. Nesse tempo os lagos eram muitos, inumeráveis. Do que é hoje o Brasil ou o Paraguai, não sei, se avistaria o sopé dos Andes. Esse deve ter sido um dos melhores desenhos de todos, muito lindo, o que pareciam DOIS CONTINENTES se juntando; na realidade era o mesmo, compondo a futura América do Sul. Porém pareciam dois se juntando e logo adiante acabaram mesmo por se juntar. Esse tempo demarcou a infinidade de lagos, muito mais então que atualmente no Canadá. Os páleo-rios ainda depositavam para Oeste e não no futuro Consórcio Amazônico. De toda parte desaguavam a Oeste. Dos Andes, do Planalto Brasileiro, do Planalto das Guianas, de toda parte mesmo. Deve ter havido uma proliferação extraordinária de vidas, uma confusão inigualável, um prazer avistar tanta coisa em predação mútua, lutando para garantir lugar no futuro. Milhões de espécies, trilhões de indivíduos de todos os tipos em água empoçada, em pântanos, em charcos, em brejos, em lodaçais com essa vida em abundância. Que tempo! Nós não conhecemos nada assim. Talvez tenha havido algo semelhante no Saara, mas é difícil, porque àquela quantidade ilimitada de água se juntava o calor tropical financiando tudo. Muito mais que a Amazônia atual.

                            Vitória, sábado, 17 de julho de 2004.

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