Quando o Arco e a
Planície se Avistaram e Marcaram um Encontro
Seguindo a trilha da
migração dos crátons na América do Sul a partir da separação da África, com o
levantamento do Arco dos Andes, veja que este despontou no horizonte como uma
linha de ilhas que foram se juntando para formar o contínuo atual de oito mil
quilômetros; em termos humanos isso foi muito lento – teríamos visto ilhas comuns
durando muitas e muitas vidas humanas, mesmo mais que os 10 mil anos desde o
surgimento da civilização. Depois apareciam outra e outra até fechar o arco.
Depois a região intermediária foi levantando também, de modo que chegou um
instante em que o Arco e a Planície (que passou a haver para os lados dos
crátons) finalmente se avistaram, isto é, a distância entre eles era tal que
uma pessoa em pé podia avistar o outro lado do horizonte ou do mundo.
Do pé do Arco ou de
uma praia da Planície se avistaria já o outro lado, a distância entre ambos não
passando de um rio, tudo estando se fechando progressivamente. Ainda era mar,
um braço dele, um fio, relativamente largo, relativamente estreito, mas não
mais a corredeira de antes. Nesse tempo os lagos eram muitos, inumeráveis. Do
que é hoje o Brasil ou o Paraguai, não sei, se avistaria o sopé dos Andes. Esse
deve ter sido um dos melhores desenhos de todos, muito lindo, o que pareciam
DOIS CONTINENTES se juntando; na realidade era o mesmo, compondo a futura
América do Sul. Porém pareciam dois se juntando e logo adiante acabaram mesmo
por se juntar. Esse tempo demarcou a infinidade de lagos, muito mais então que
atualmente no Canadá. Os páleo-rios ainda depositavam para Oeste e não no
futuro Consórcio Amazônico. De toda parte desaguavam a Oeste. Dos Andes, do
Planalto Brasileiro, do Planalto das Guianas, de toda parte mesmo. Deve ter
havido uma proliferação extraordinária de vidas, uma confusão inigualável, um
prazer avistar tanta coisa em predação mútua, lutando para garantir lugar no
futuro. Milhões de espécies, trilhões de indivíduos de todos os tipos em água
empoçada, em pântanos, em charcos, em brejos, em lodaçais com essa vida em
abundância. Que tempo! Nós não conhecemos nada assim. Talvez tenha havido algo
semelhante no Saara, mas é difícil, porque àquela quantidade ilimitada de água
se juntava o calor tropical financiando tudo. Muito mais que a Amazônia atual.
Vitória, sábado, 17
de julho de 2004.
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