A Tendência dessa
Gente
De repente Gabriel
pára e faz perguntas que parecem completamente triviais, até deslocadas, mas
que levam a profundas compreensões. No cinema me perguntou se o ar ocupa todos
os espaços. Claro que sim, todo mundo sabe disso.
A resposta que é
trivialmente dada é que “num volume o ar tende a ocupar todos os espaços”. É
a definição que está nos livros de química do segundo grau. Porém, que é
“tendência”? O ar não “tende” a nada, isso não explica coisa alguma, porque não
existe uma força-poder ou um par polar oposto/complementar chamado “tendência” que
seja mecanismo-tendente. “Tendência” não é uma força, não está na construção
primária do universo; é somente uma flecha, uma indicação. As forças
fundamentais são conhecidas e dadas pelos físicos como sendo exclusiva e
unicamente quatro (eletromagnética, forte, fraca e gravitacional). Não existem
forças-tendência. “Tendência” é uma explicação, ou falta de explicação,
posterior; é elemento mágico remanescente na Ciência.
Na realidade o que
há é que o volume é ANÚNCIO MÉDIO da distribuição estatística das forças
operativas a nível molecular. O volume ocupado é uma indicação das energias
internas presentes naquela massa molecular, ou seja, dada determinada massa de
moléculas, uma certa temperatura e um volume as moléculas se distribuirão para
o equilíbrio máximo dentro daquelas dimensões, segundo princípios ou equações
distributivas muito complexas. As moléculas não têm “tendência”. Tendência é
convergência, intenção, e moléculas não têm intenção nenhuma. Elas não tendem a
ocupar todo o espaço, assim como os pesos não tendem para o centro
aristotélico. As explicações necessárias enquanto totalidades satisfatórias ou
suficientes, enquanto causas operantes, são subtraídas pela palavra “tendência”,
que indica a covardia de toda uma época que se satisfaz com a não-explicação.
Vitória,
quinta-feira, 30 de setembro de 2004.
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