Leviatã
Rapaz, Jorginho ficou chato demais da
conta.
Somos amigos há mais de 18 anos, não
dava para evitar, tive de ouvir dia após dia. Não sei o que o levou a ficar
contra os governos todos, ele passou a odiar, não queria contar por quê. Bom,
amizade é isso, é para sempre, não dá para divorciar.
E toca falar mal dos governos.
Não era um ou dois, eram todos, todo
dia no bar.
Perguntei a ele se falava assim para a
mulher, ele disse que sim, depois soube que ela pediu o divórcio.
As pessoas do bar quando viam o
Jorginho cortavam volta, achavam assunto noutra mesa ou até saíam dele, me
deixavam sozinho, os canalhas, até alguns amigos antigos desavergonhados.
Tive que ouvir, dia após dia.
E de tanto ouvir fui olhar na
Internet.
Primeiro foi o ES.
Olhei só para achar argumentos contra
os dele. Vi que o GEES gastava mal mesmo, todos os poderes. Comecei a prestar
atenção, fui investigar, era aquilo mesmo que ele falava, até pior. Puta merda!
Que coisa escandalosa! Isso quando não escondiam as informações. Por acaso sou
contador e apareciam as coisas mais ridículas, o que chamaram de “parafuso
pentágono”, o parafuso que para o Pentágono americano custava 100 podia ser
encontrado a 30 no mercado.
Fiquei espantadíssimo.
Aprofundei.
Rapaz, o que existe por aí você não consegue
imaginar.
Passei a prestar atenção na mídia (TV,
Revista, Jornal, Livro-Editoria, Internet, Rádio, Cinema), mas somente nas
notícias sobre os governos, donos dos nossos tributos que vão alimentar aquela
bocarra insaciável. As aplicações são as mais disparatadas, sem qualquer
justificativa racional.
Olhei para os outros estados.
Fiquei tão fascinado que não fazia
outra coisa. Diferentemente do Jorginho, minha esposa acompanhava, pois era
advogada e nossos filhos já estavam fora nas faculdades. Ficávamos ansiosos
para chegar a casa e sempre que sobrava um tempinho nos nossos escritórios,
olhávamos também.
Fui aos países, falo três línguas,
fora o português.
Pôrra, cara, quase caí da cadeira.
Não há nenhuma explicação. Uma
quantidade de aplicações aquieta o povo, há a roubalheira e há tudo aquilo
desnecessário.
Comecei a falar com as pessoas.
O Jorginho é nosso guia.
A ideia dele é que devemos rediscutir
a razão de ser do Estado geral, com todos os seus desdobramentos. Antigamente,
diz, as pessoas não podiam ter acesso nem às cidades vizinhas, quando mais aos
estados vizinhos e a distantes continentes, mas agora tudo está ao alcance com
a telefonia universal e a Internet; seria em tese possível “despedir” o governo
inteiro e substituí-lo por formas pós-contemporâneas de políticadministrar.
O
ESTADO-LEVIATÃ
Não é tão simples assim, pelo
contrário, é complicadíssimo, contudo vale a pena discutir, levantar a peteca,
revolver o lodo, oxigenar o fundo, desalojar os vermes, dar um susto nas
criaturas escondidas, provocar a Grande Revolução: será que estamos pagando cem
quando deveríamos pagar trinta? Caso estejamos pagando 70 a mais, não
poderíamos – ao enxugar o Estado – gastar mais conosco mesmos?
A pergunta do Jorginho (que meses
antes eu taxava de idiota) soa completamente necessária agora.
Tornei-me adepto.
Fã de carteirinha do Jorginho.
Agora que o Jorginho está por cima da
carne seca e aparece na mídia a mulher dele voltou, finalmente descobriu o
valor do Jorge. Quem não vê que ele é um cara supimpa?
Serra, sexta-feira, 13 de julho de
2012.