terça-feira, 21 de fevereiro de 2017


Sócrates

 

                            Quero enquadrar Sócrates a partir de Richard Tarnas, A Epopéia do Pensamento Ocidental, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1999, nas páginas citadas, negritos e coloridos meus.

·        PEQUENO SÁBIO, p. 55: “O ponto em que termina o Sócrates histórico e começa o Sócrates platônico é notoriamente ambíguo. Nisso, sua modesta reivindicação de ignorância aparentemente contrasta com o conhecimento platônico dos absolutos; mas estes talvez sejam diretamente provenientes da primeira, como se uma humildade intelectual incondicional fosse uma pequena abertura a dar passagem à sabedoria universal”. Ah, pobrezinho do Sócrates, a “pequena abertura”, o pequeno sábio. Como seria assim, se ele se sobrepunha constantemente aos sofistas?

·        OS APÓSTOLOS DE SÓCRATES: a gente vê que nos desenhos representando Sócrates bebendo cicuta na cela exatamente doze homens estão à volta dele, como os apóstolos de Cristo – indicando uma seita, dada às representações esotéricas em volta do número doze. Por quê ela não prosperou? Certamente tudo se deveu à superioridade intelectual implícita, ao distanciamento em relação aos que poderiam aderir.

·        A PROPAGANDA PLATÕNICA, p. 55: “Platão expressava esse aprofundamento e expansão, utilizando a figura de Sócrates para articular a filosofia que acreditava ter a própria vida de Sócrates nobremente exemplificando. Sócrates parecia ser a encarnação da bondade e da sabedoria, as mesmas qualidades que Platão considerava os princípios fundadores do mundo e as mais elevadas metas da aspiração. Sócrates tornou-se, portanto, não apenas a inspiração, mas também a própria personificação da filosofia platônica. Da arte de Platão surgiu o Sócrates arquetípico, o avatar do platonismo”. A diferença entre Sócrates e Jesus como avatares foi o primeiro ter como seqüência racional a outros racionais que o distanciaram do povo, fazendo-o propriedade e condutor das elites, ao passo que Jesus se compadeceu dos miseráveis e afastou-se dos orgulhosos.

·        A BOIADA SOCRÁTICA, p. 50: “A estratégia característica de Sócrates, quando em discussão com outra pessoa, era recolher uma seqüência de perguntas, analisando incansavelmente – uma por uma – as implicações das respostas, de tal maneira que expusesse as faltas e inconsistências numa determinada crença ou afirmação”. Quando lemos os diálogos socráticos Sócrates sempre vence, nunca perde, nem se desvia da certeza que só vai colher no final, muitos parêntesis para dentro. Parecem caminhos bem delineados. Uma vez na universidade, 30 anos passados, eu disse que Sócrates tinha sido o inventor do ensino programado, aquela técnica behaviorista de adestramento de cachorros humanos. Tudo isso nos fala de debates acalorados que foram depurados das falhas do mestre de Platão. Tudo pensado e repensado, de modo a nunca evidenciar a mínima falha dele, o que deveríamos esperar de qualquer ser humano, por melhor que ele fosse. E assim, através de 2,5 milênios, a boiada socrática tem dito e repetido sempre a mesma ladainha curiosa: a infalibilidade do mestre.

Platão foi o São Paulo de Sócrates, embora sem conseguir o que aquele conseguiu, por falta de fervor e empenho, e de mensagem de fundo, na realidade, pois os gregos eram segregacionistas, exclusivistas, ao passo que a lição de Jesus foi a integração de todo o gênero humano.

A meu ver, ainda que Sócrates possa realmente ter sido homem simples e cordato, seus discípulos orgulhosos o perderam para a posteridade, principalmente quando arranjaram seus diálogos para que jamais houvesse mínimo tropeço. Isso foi ruim, porque nitidamente podemos ver que ninguém é tão perfeito assim. Exceto, é claro, se for Deus.

Vitória, sexta-feira, 30 de maio de 2003.

Site das Máquinas

 

                            Com essa admiração incrível que tenho pelas máquinas como expansão humana (DAS PESSOAS: indivíduos, famílias, grupos e empresas; DOS AMBIENTES: municípios/cidades, estados, nações e mundo), gostaria de ver um site ou sítio dedicado às máquinas, especialmente desenhado nas redes do modelo.

                            Máquinas ligadas à Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo, fogo/energia, no centro a Vida, no centro do centro a Vida-racional). Ligadas à Chave Econômica: máquinas agropecuárias/extrativistas, máquinas industriais, máquinas comerciais, máquinas para os serviços, máquinas bancárias. Desenhos e fotografias de máquinas, maquetes, computação gráfica, museus e bibliotecas, exposições e computadores, CD’s e fitas, documentários, tudo a respeito de máquinas.

                            Máquinas estáticas (como pranchetas e escrivaninhas) e máquinas dinâmicas (como carros e tantas outras), nos capacitam para uma experiência e um pensamento geral muito mais vasto. Não somos os primitivos ADÃO Y e EVA MITOCONDRIAL de 200 mil anos atrás – um número impressionante de máquinas em quantidade e em qualidade, de toda especialização e tamanho foi aparecendo e é mesmo incrível que não saibamos aproveitar mais, sequer para olhar, embora elas estejam fielmente ao nosso lado, desde quando nascemos. Somos mentes em corpos altíssimos, larguíssimos, profundíssimos. Que pobrezinhos seríamos sem as nossas máquinas.

                            Que desperdício formidável, é isso tudo.

                            Ó gente perdulária!

                            Vitória, domingo, 25 de maio de 2003.

Saudações a Eddington

 

                            Na Scientific American nº 12, Ano I, maio/2003, p.52, está escrito: “O físico inglês Arthur Eddington sugeriu, em 1920, que a fusão nuclear energizava o Sol, mas os esforços para confirmar os detalhes críticos esta idéia, nos anos 60, encontraram uma difusa barreira: experimentos para detectar um subproduto diferenciado das reações de fusão solares – fantasmagóricas partículas chamadas neutrinos – somente observaram uma fração do número esperado delas. Foi só no ano passado com os resultados do observatório Sudbury Neutrino Observatory (SNO), nas proximidades de Sudbury, Ontário, no Canadá, que os físicos resolveram a charada e confirmaram a previsão de Eddington”.

                            Arthur Stanley Eddington, pai da dinâmica estelar, nasceu no Reino Unido em 1882 e morreu em 1944, 62 anos entre datas. Estava com menos de 40 anos quando fez a previsão mencionada. Eis um profeta científico que 80 anos antes da descoberta previu a necessidade. São essas pré-visões tecnocientíficas que mais nos emocionam, pois não dependem de nenhuma introvisão, só de pensamento, só de lógica. Não foi nenhum animista, nem um teólogo, nem um ideólogo, dentre todos os proponentes do Conhecimento (magos e artistas, teólogos e religiosos, filósofos e ideólogos, cientistas e técnicos, e matemáticos) geral, foi especificamente um cientista, com toda segurança. Embora todos sejam necessários, uma única previsão científica que se confirme nos dá alento para prosseguir na busca constante e cansativa dos fundamentos do universo. Não foi um orixá, nem um espírita, nem um técnico de futebol, foi um cientista.

                            Num momento de triunfo destes, que os outros se calem e aplaudam, e aprendam a fazer com tanta dedicação.
                            Vitória, quinta-feira, 29 de maio de 2003.

Redes Urbanas

 

                            Na enciclopédia Conhecer Universal, tomo 9, p. 1.606, há um maravilhoso desenho das redes urbanas.

                            AS REDES URBANAS

·        Elétricas

·        Telefônicas

·        De água quente

·        De esgotos

·        De água pluvial (da chuva)

·        De água para hidrantes

·        De água potável (para beber e outros usos)

·        De gás

·        De metrô e trens de superfície

·        De televisão

·        De fibra ótica (para vários serviços)

É claro que podemos usar a Bandeira Elementar para firmar todas as redes como: 1) redes no ar, 2) redes na água, 3) redes na terra/solo, 4) redes no fogo/energia. As na T/S podem ser: 3a) acima do solo, 3b) ao nível do solo, 3c) abaixo do solo, subterrâneas (como grande parte das citadas acima). As do ar correspondem às rotas de aviões, de helicópteros e outras. As da água às marinhas, lacustres, fluviais. As de fogo/energia são mais difíceis de definir, porque se confundem com as aéreas, mas creio que poderíamos delimitá-las como as de satélites e que tais. Há os próprios logradouros, claro, as ruas, avenidas, praças e demais linhas de fluxo.

Enfim, a Cidade e o Município (em maiúsculas conjunto ou grupo ou família de municípios) são complexos. Infelizmente não há quem aborde isso, nem os canais Discovery e National Geographic, o que é realmente uma pena, desconhecidos ainda o corpomente dos municípios/cidades, dos estados, das nações e do mundo, todas as veias e artérias de escoamento dos fluídos ambientais.

As perguntas mais interessantes e profundas não vêm sendo feitas, o que é deveras preocupante, enquanto índice ou apontamento da incompetência humana de ver, exceto nessas nunca bastante louvadas enciclopédias.

Vitória, sábado, 24 de maio de 2003.

Quem Foi o Pai de Graham?

 

                            No mesmo Conhecer Universal, p. 1.614 e 1.615, há artigo sobre Thomas Graham (escocês, 1805 a 1869, 64 anos entre datas). Foi químico e descobriu muitas coisas. Sua vida é resumida pela Enciclopédia e Dicionário Ilustrado Koogan/Houaiss, Rio de Janeiro, Delta, 1993, em três linhas, em página de três colunas, nestes termos: “GRAHAM (Thomas), químico escocês (Glasgow, 1805 – Londres, 1869). Estudou a difusão dos gases”. É muito pouco, não é, para uma vida toda de dedicação?

                            A enciclopédia Conhecer estende-se muito mais e certamente haverá biografias, que podem ser consultadas, ou poderíamos saber mais através da Internet.

                            A questão agoraqui não é essa.

                            A Conhecer diz que ele era filho de “um rico comerciante”, que desejou lhe dar “uma educação aprimorada”, visando a carreira eclesiástica, mas Graham não pensava assim. “As preferências do jovem estudante não encontravam ressonância junto a seu pai, que, em represália, lhe tirou todo suporte financeiro, obrigando-o a trabalhar para o próprio sustento”.

                            E é sempre assim: os pais forçam, os filhos resistem e quase sempre os filhos estavam certos em seguir suas inclinações. Já pensou se São Francisco de Assis tivesse seguido os desejos do pai e tivesse sido comerciante de tecidos? Qual era mesmo o nome do pai de São Francisco? E qual era o nome do pai-de-Graham? Não fossem os ilustres filhos sequer faríamos as perguntas.

                            Evidentemente hoje em dias os pais e as mães respeitam as opiniões dos filhos e das filhas; essa concepção disseminou-se, o que é o certo, não apenas com eles e elas, mas com todos. Acho que deveria ser ensinado nas escolas esse respeito, pois ele não é automático. Afinal, como dizem, respeito e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

                            Vitória, sexta-feira, 23 de maio de 2003.

Quem Destruiu Hiroshima e Nagasaki?

 

                            No mesmo Conhecer Universal (2ª. Edição, 1984), p. 1.614, falando-se de Thomas Graham, diz-se das descobertas dele: “E muito menos que, um século depois, nela se basearia um processo tecnológico responsável pela destruição atômica das cidades de Hiroshima e Nagasaki”, no Japão, em 1945.

                            O escocês Thomas Graham viveu de 1805 a 1869, 64 anos entre datas, meio da vida em 1837, + 100 anos = 1937. Foi depois disso, depois de os EUA terem entrado na II Guerra Mundial em 1942 (após o ataque japonês a Pearl Habor, no Havaí, em dezembro de 1941), que a Bomba Atômica começou a ser desenvolvida em Los Álamos, Novo México, EUA, a partir de 1942. O cientista de proa era Enrico Fermi, italiano de nascimento, 1901 a 1954, apenas 53 anos entre datas.

                            Já Graham foi somente o desenvolvedor dos processos de difusão que, muito aprimorados, seriam depois usados no enriquecimento do urânio, combustível para a fissão nuclear que dispara a bomba A. Qual é a ligação entre Graham e a bomba? Como é que se pode insinuar que ele estivesse na origem da criação dela?  O site ou sítio de Internet diz que “nesse ano [1945] um homem genial inventava um processo capaz de destruir toda a vida no planeta”.

                            Que genialidade é essa?

                            Parece-me que os responsáveis diretos PELA INVENÇÃO foram Fermi e sua turma (ainda que com bons propósitos, evitar o domínio fascista e nazista do mundo – ela só não foi jogada na Alemanha porque esta se rendeu antes). Os responsáveis POR DECIDIR JOGÁ-LA foram Harry Truman e seus generais (o mesmo site diz que “os americanos estavam ansiosos por testar a nova invenção”), pois após a decisão presidencial os generais poderiam ter se recusado a fazê-lo, enfrentando a corte marcial. Os responsáveis POR JOGÁ-LA EFETIVAMENTE foram os aviadores que a levaram até sobre Hiroshima e Nagasaki e a deixaram cair.

                            O que Graham tem a ver com isso, ele que já estava morto há (1945 – 1869) = 76 anos? A procedermos assim iremos recuando até a pré-história, atribuindo ao inventor da primeira arma toda miséria atual, sem qualquer trânsito e completamento geo-histórico. Acho que proceder assim é no mínimo incorreto.

                            Vitória, sábado, 24 de maio de 2003.

Propaganda de Si

 

                            Minha vida inteira vi e ouvi as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) fazendo propaganda de si, especialmente na adolescência, quando os homens estamos cantando as mulheres, na coorte sexual tradicional e às vezes muito inventiva.

                            Bom, isso não seria motivo para uma matéria, mas o estudo comparado dos métodos, sim, e o alcance das promessas enquanto resultados mais ainda. O que as promessas conseguem obter, o mais das vezes com as mais deslavadas mentiras (a ponto de o iluminado Luís Fernando Veríssimo ter escrito o livro As Mentiras que os Homens Contam)?

                            E seria definitivamente mais interessante comparar essa criatividade e as mentiras que em geral lhe estão associadas com as técnicas e artes da Propaganda, vendo a esta como sucesso profissional, artificial, das mentiras, e a propaganda de si como NATURAL TENDÊNCIA à absorção do alheio mediante avultamento real ou fictício de presumidas capacidades. Perguntando de outro modo: como é que as pessoas assumem essa capacitação crescente de fazer das falsificações meio de tomar vida e produção alheia (seja o corpomente produzido pelas mulheres – que respondem com simulações variadas, inclusive camuflagem, como já disse -, seja qualquer artifício)? O que na fita geral de herança socioeconômica é transmissão, é admissão, é estimulação, é aceitação das mentiras e das propagandas de si?

                            Saber sobre essa técnica sociológica é importante, PORQUE aprenderemos a ver quanto, da totalidade, é devido a embustes e autopromoção.

                            Quão mentirosa é nossa coletividade? Quão propagandística é?

                            Vitória, quinta-feira, 22 de maio de 2003.