segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


Quatro Tensores

 

                            No livro de Colin A. Ronan, História Ilustrada da Ciência (I, Das Origens à Grécia), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1987, edição original de 1983, p. 57, ele diz: “A visão maia do universo era tanto conservadora quanto primitiva. O mundo tinha quatro ‘direções’, cada qual associada a uma cor e uma árvore, com um pássaro pousado sobre ela. As direções emanavam da ‘grande árvore da abundância’, plantada no centro do mundo, e eram seguidas por estradas, talvez as contrapartes das calçadas de pedra calcárias encontradas em alguns sítios maias. O céu era formado por treze camadas, e o submundo, associado ao jaguar, por nove”.

                            Agora, observe que na Rede Cognata direções = TENSORES, mundo = MODELO = ESTRADAS, e que os cientistas estão dizendo que a matemática do universo se apóia em 10 dimensões e não em quatro. Os quatro tensores (ou direções) podem ser os assim chamados “quatro cantos (= CENTROS = CAMADAS) do mundo”, as quatro forças (ou campartículas ou ondas, como prefiro dizer) fundamentais.

                            Então, afinal de contas, pode ser que os maias não fossem exatamente tolos, pelo contrário, e pode ser que eles tenham recebido esse conhecimento de alguém mais esperto. De fato, tendemos a classificar os outros como idiotas. Olhando o passado, quando usamos o termo “primitivo” queremos dizer apenas que a produção deles não se equiparava à nossa, não que não tivessem chegado à verdade mais profunda, autonomamente ou por meio de confissões alienígenas ou de povos mais antigos e espertos.

                            Há uma tendência dos historiadores de usar o primitivo como uma classificação de valor, o que me parece errado.

                            Vitória, segunda-feira, 26 de agosto de 2002.

Quando Termina um Século?

 

                            Veio aí alguém, não sei que historiador, dizer que o século XX começou em 1914, início da Primeira Guerra Mundial, e terminou com a queda da URSS, em 1991, sendo um século curto de 77 anos. Empurra a tese pela nossa goela abaixo e temos de engolir forçadamente.

                            Existiria algo assim?

                            Claro, quando a gente pega um punhado de fatos e os destrinchamos, acabam por se acomodar a qualquer tese, assim como a estatística é usada por qualquer candidato para dar respaldo a qualquer visão de mundo. Poderíamos chamar tal “século” de SÉCULO CONCEITUAL, enquanto o outro seria o SÉCULO FORMAL. Acontece que o século formal é, por definição, o período de 100 anos posto num calendário decimal qualquer. É, no dicionário, o espaço de 100 anos, e nada mais, e nada menos.

                            Agora, o século conceitual ou teórico pode ter qualquer quantidade de anos. As pessoas poderiam escolher quaisquer datas, porisso vão existir tantos quantos sejam as escolhas.

                            Logo para começar, portanto, devemos estabelecer vínculo com nossa escolha: de qual século estamos falando? O século de 100 anos, século XX, começou em 1901 e terminou no ano 2000 (mas os anos 1900 evidentemente começaram em 1900, e não em 1901). Vem um camarada aí e para polemizar escolhe esta ou aquela fração, ou até um múltiplo. Qual o significado disso? Não bastaria dizer que as características centrais do século XIX se prolongaram até 1914? Seria tão mais fácil!

                            Em vez disso submetem a humanidade a mais uma pressão intelectual, com exigência suplementar de memória, expandindo as categorias até o cansaço. Devemos pensar na utilidade, se a mudança nos traz verdadeiramente um prêmio que valha a memória extra.

                            Daí podemos falar de TESES DE MEMÓRIA, para as que a expandem, e TESES DE INTELIGÊNCIA, aquelas nas quais só dependemos do pensamento, da razão. Propor o encompridamento das memórias é uma chatice.

                            Vitória, quarta-feira, 21 de agosto de 2002.

Programáquinas da Pontescada

 

                            Um programáquina é um programa-máquina ou máquina-programa ou soft-hardware ou hard-software, como você preferir entender, um programa num computador, como este Word que estou usando no micro.

                            Pois bem, deveríamos ter P/M para toda a pontescada tecnocientífica. A científica: Físico 1.0, Químico 1.0, Biólogo 1.0, p.2 1.0, Psicólogo 1.0, p.3 1.0, Informático 1.0, p.4 1.0, Cosmólogo 1.0, p.5 1.0, Dialógico 1.0 e p.6 1.0, para ajudar os que trabalham na área, e Física 1.0, etc., para as ciências em si. A técnica: Engenheiro 1.0, X1 1.0, Médico 1.0, X2 1.0, Psiquiatria 1.0, X3 1.0, Cibernético 1.0, X4 1.0, Astrônomo 1.0, X5 1.0, Discursivo 1.0 e X6 1.0, para as profissões, e Engenharia 1.0, etc., para as técnicas.

                            Como é que os governantempresários derraparam nessa?

                            É profundamente irritante que eles tenham dormido no ponto e deixado escapar a oportunidade. É desabonador, frustrante, arrepiante mesmo. Penoso, para dizer o mínimo.

                            Podemos pensar na Psicologia 1.0 tendo como subprogramáquinas Psicanálise 1.0 (para as figuras), Psico-Síntese 1.0 (para os objetivos), a Economia 1.0 (para as produções), a Sociologia 1.0 (para as organizações) e a Geo-História 1.0 (para os espaçotempos). Meu Deus do Céu! - que atraso, nada disso existe ainda, em pleno século XXI.

                            O P/M Psicanálise 1.0 pode tratar das classes do labor (Operário 1.0, Intelectual 1.0, Financista 1.0, Militar 1.0 e Burocrata 1.0), das classes do TER (Ricos 1.0, Médios-Altos 1.0, Pobres 1.0 e Miseráveis 1.0), das classes econômicas (Agropecuária/Extrativismo 1.0, Indústria 1.0, Comércio 1.0, Serviços 1.0 e Bancos 1.0). E as classes sexuais: Machos 1.0, Fêmeas 1.0, Pseudo-Machos 1.0 e Pseudo-Fêmeas 1.0).

                            Sem falar que na Economia, por exemplo, nas indústrias, podemos abordar inumeráveis sub-setores, indicando as relações com os mundos (Primeiro Mundo 1.0, Segundo Mundo 1.0, Terceiro Mundo 1.0 e Quarto Mundo 1.0) e com os modos de dominância políticadministrativa: Escravismo 1.0, Feudalismo 1.0, Capitalismo 1.0, Socialismo 1.0, Comunismo 1.0 e Anarquismo 1.0.

                            E ainda as pirâmides.

                            Na micropirâmide: Campartícula Fundamental 1.0, Subcampartículas 1.0, Átomos 1.0, Moléculas 1.0, Replicadores 1.0, Células 1.0, Órgãos 1.0, Corpomente 1.0.              Na mesopirâmide: Indivíduos 1.0, Famílias 1.0, Grupos 1.0, Empresas 1.0, Municípios/Cidades 1.0, Estados 1.0, Nações 1.0, Mundos 1.0. Na macropirâmide: Planetas 1.0, Estrelas 1.0, Constelações 1.0, Galáxias 1.0, Aglomerados 1.0, Superaglomerados 1.0, Universos 1.0 e Pluriverso 1.0.

                            Voltando ao começo, mais acima os conhecimentos altos: Magia 1.0, Teologia 1.0, Filosofia 1.0 e Ciência 1.0. Baixos: Arte 1.0, Religião 1.0, Ideologia 1.0 e Técnica 1.0. Além de Matemática 1.0.

                            Dá para você sacar o potencial.

                            Pois bem, no que tange à pontescada tecnocientífica especificamente, há essa dupla configuração para as pessoas e os ambientes, para institutos, para centros, para faculdades, para universidades, para grupos ad hoc. Com a Internet, agora, tudo ou quase tudo é possível.

                            Observe que cada par, digamos Físico 1.0 e Física 1.0, P/M F/F, pode desdobrar-se a ponto de ser uma Microsoft ou uma Intel por si mesmo. Isso não tem fim, pode prosperar para sempre, enquanto durar a humanidade, ajuntando info-controle indefinidamente. É com tremenda alegria que vejo e digo isso.

                            Vitória, quarta-feira, 21 de agosto de 2002.

Os Canais de Marte

 

                            Alberto Delerue, em seu livro O Sistema Solar (viagem ao reino do Sol através das mais recentes conquistas espaciais), Rio de Janeiro, Ediouro, 2002, p. 123, diz: “O exemplo mais patético daqueles que viriam a povoar Marte de uma autêntica civilização, antiga e adiantada, foi certamente o do astrônomo americano Percival Lowell, falecido em 1916”.

                            Por quê, patético (apaixonado, comovente, confrangedor, enternecedor, tocante, segundo o dicionário eletrônico incorporado)? No quê isso nos provocaria um sentimento de piedade? Ora, Lowell (1855 a 1916, 61 anos entre datas) era e é astrônomo muito respeitado, fundador do Observatório de Flagstaff, no Arizona, EUA. Adiantou uma hipótese de trabalho, com base nos dados disponíveis e errou – todo mundo pode errar, sendo humano.

                            Continua nas páginas seguintes o autor: “Além disso – insistia Lowell -, as constantes mudanças de coloração, detectáveis na sua superfície, eram certamente devidas à sua abundante vegetação. E acrescentava: os cinturões verdes em Marte seriam os responsáveis pela formação de verdadeiros oásis que circundavam extensos terrenos áridos e desérticos”. Talvez não haja oásis nem canais de irrigação, mas certamente há água, pois as fotografias mostraram canais escavados por movimento de líquidos, extensos canhões (muito maiores que o Grand Canyon) erodidos.

                            E mais abaixo coloca a palavra de Lowell: “(...) pois se os mesmos foram cavados para fins de irrigação, é evidente que o que vemos, e o que chamamos de canal, não é ele, e sim a faixa de terra fertilizada que o margeia. Quando, aqui mesmo da Terra, observamos um canal de irrigação, a certa distância, é sempre a faixa de verdura que se vê, não o canal em si”. Ele estava certo: o que provoca então a mudança de coloração, e o que enferrujou o planeta, o que provocou o aparecimento de tanto ferro superficial senão a presença de um oxidante, a própria água?

                            Segue o autor: “(...) a intransigente e corajosa defesa de suas idéias lhe valeu, na época, muitas críticas mordazes e até zombarias”. Pois bem, se as pessoas (cientistas e jornalistas, todos muito espertos) não tivessem sido tão ferinas, se não tivessem tão intempestivamente destruído as crenças errôneas (mas honestas) de Lowell, o programa espacial estaria 50 anos mais adiantado. Se houvesse a mínima chance de uma segunda civilização, logo ali pertinho (e não nas estrelas, situadas a zilhões de quilômetros adiante), o interesse em ir lá seria incomparavelmente maior. Foi perdida uma excelente oportunidade, pois com a Lua podemos ver nitidamente que não há nada lá, enquanto com Marte pairaria a dúvida.

                            Na outra página, segundo disse em 1874 o astrônomo Edward Barnard: “Alguns de seus canais não são, absolutamente, linhas retas. Mais bem examinados, são muito irregulares e interrompidos em alguns trechos. Diante de tudo o que verifiquei, acredito firmemente que os canais desenhados por Schiaparelli são uma falácia, o que será comprovado antes que se passem algumas gerações”.

                            Remontemos a Giovanni Virginius Schiaparelli, astrônomo italiano (1835 a 1910, 75 anos entre datas), que descobriu os canali marcianos em 1877. Na língua dele, como no português, canais tanto podem ser naturais quanto artificiais. Por exemplo, dizemos, o canal do rio, o canal de entrada no porto (tanto o natural quanto o que é escavado periodicamente, para facilitar a entrada de navios de grande calado). Na língua inglesa CANAL quer dizer sempre coisa artificial. Daí, IMAGINARAM que Schiaparelli tinha falado de canais artificialmente produzidos, o que nunca foi o caso.

                            O erro não estava com o italiano. Agora, Lowell foi movido pela boa fé. Na página 126 Delerue diz: “Instrumentos mais modernos e sofisticados vieram provar, mais tarde, que as condições em Marte estavam longe de permitir o abrigo de uma civilização como imaginava Lowell”, e na p. 127: “(...) dificilmente permitiria a existência de água em estado líquido na superfície. O fato, no entanto, não exclui a possibilidade da existência de água líquida nas entranhas de seu solo, de suas rochas e nos pequenos grãos de areia de suas imensas dunas”.

                            A Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo e fogo/energia) está presente em Marte, embora em condições diversas das da Terra. Que sabemos da Vida que ela gera? Ainda há pouco só tínhamos dois reinos biológicos, tendo sido acrescentado um terceiro, o Arquea. Não conhecíamos a vida que é produzida nas profundidades abissais, perto dos vulcões da fissura da Cadeia Meso-Atlântica, e de outras cadeias. Não sabíamos da vida sob os gelos da Antártica, oculta há 10 ou há 30 milhões de anos. Só na Terra, onde tudo é muito igual, há milhões de espécies, cada uma com sua solução para o ambiente.

                            Que dizer então da vida nos planetas ou nos satélites?

                            É muita arrogância e desconsideração!

                            O pobre do Lowell sofreu nas mãos dos bandidos, apenas porque teve coragem de projetar sua mente, embora baseado numa ilusão, que em todo caso nem é total. E, depois, pode realmente haver canais artificiais nas profundezas marcianas. Que sabemos nós? A solução só tem de existir, ela não precisa pedir licença a ninguém.

                            Vitória, segunda-feira, 26 de agosto de 2002.

Potência da União dos Contrários

 

                            Imagine a distância que havia e há entre negros e brancos nos EUA. A dialética, o TAO e o modelo dizem que eles se aproximarão no futuro, mas enquanto o TAO oriental e a dialética ocidental afirmam isso qualitativamente, o modelo começa a propor uma tecnociência de medição através dos cartuchos ou cártulas psicológicas, ainda por estabelecer, para depois geo-algebrizar, ou matematizar, como queiram.

                            Quanto maior a distância tanto maior será a potência acumulada para a junção, e depois a fusão, com os exageros esperados.

                            Outro exemplo é a distância entre os israelitas e os ismaelitas, os judeus e os árabes, entre o judaísmo e o islamismo, respectivamente, todos semitas. Que formidável energia está separando os dois grupos e que potencial ela está construindo para a posterior fusão!

                            O ciclo pede essa reunião, mas os tempos podem ser tão grandes que ela se dê apenas em virtual, em projeção, e nunca realmente, na prática. Infelizmente não temos a matemática que faça essas previsões, e talvez ela demore um bocado. Em todo caso, em lugar das antigas proposições qualitativas, agora temos uma perspectiva de quantificação, a qual demandará um punhado de pensamento muito focado.

                            Entretanto, os pesquisadores podem mirar seus equivalentes na Física, na Química, na Biologia e em p.2, para facilitar os raciocínios sobre as fusões da Psicologia e de p.3, e usar as propriedades (ainda não definidas, mas metrizáveis) dos transientes para adotar os axiomas de onde sairão os futuros teoremas.

                            E assim pode ser para todo par polar de opostos/complementares, de modo que vejamos de antemão quanta energia foi acumulada no afastamento e quanta energia, solta a mola ou tensor dialético, fará convergir cada par, em que velocidade, e quão funda será a fusão proporcionada por ela. Exemplos existem no passado através dos quais os pesquisadores poderão mirar o futuro.

                            Pois quanto mais longe foram os pares, mais eles se aproximarão, em alguns casos ficando indistinguíveis depois.
                            Vitória, quarta-feira, 21 de agosto de 2002.

O Petróleo é Nosso

 

                            Em razão dos textos que venho escrevendo, despontou crescentemente que o petróleo e o gás se encontram em locais privilegiados e em grandes quantidades relativas, o último no alto das montanhas, o primeiro nas planícies, q.v. os artigos, que são muitos. Nunca nos crátons, diga-se de passagem, pouco nas plataformas submarinas.

                           Acresce que os países grandes (Rússia, Canadá, China, EUA e Brasil), não apenas por serem grandes, mas por estarem nas regiões certas, tornaram-se herdeiros de imensos depósitos, em todos os países acima citados, menos a China - a China é detentora das maiores reservas de gás, se não estou enganado. No final das contas gás é apenas petróleo gasoso, podendo ser transformado em óleo. É até melhor, porque fácil de transportar em gasodutos, e mais fácil ainda de manipular.

                            É que aconteceu que as condições de formação dos continentes foi tal que as montanhas ficaram de um lado e as planícies em terra (poderiam estar no fundo do mar, e ainda seriam planícies, e ainda conteriam petróleo), estocando campos imensos, como grandes piscinas de óleo, sob o solo acumulado em aluvião, no mar virtual bem abaixo.

                            Veja que ser grande não significaria nada, realmente, PORQUE vários pequenos fazem um grande, se houver união, e o dinheiro é um poderoso estimulante para todos os acordos. A questão é que, parece, Deus ou o que quer que seja, Natureza, colocou os grandes recursos nas mãos dos que calharam ser grandes políticadministrativamente. Qual a razão disso?

                            Como diz o povo, juntou a fome com a vontade de comer, o tesão com a vontade de dar, a oportunidade com a capacidade de fazer. Enfim, “sopa no mel”, “chover no molhado”, essas redundâncias.

                            Vitória, segunda-feira, 26 de agosto de 2002.

O Fim da Igualdade

 

                            Os seres humanos desta era primitiva vivem separados por inúmeras simbologias, inclusive o dinheiro, que é, em papel, em metal, em números, em plástico, a escora de todas as máscaras, ou seja, da comodidade de evitar o diálogo que a união pressupõe.

                           O dinheiro é o mascarador mor, o maior que há.

                            É a interface que possibilita a troca de info-controle, conforme eu disse já tantas vezes. É a tintura, o verniz da propriedade. Com ele os seres humanos não necessitam da conversação, da convivência com o próximo. É uma era horrível, esta do capitalismo de terceira onda no planeta Terra, 2002, onde estamos inseridos. Bem sei que estes livros, na qualidade de conversa comigo, são uma confissão, em certa medida, e uma rendição, porque no fundo significam que, por trás de toda alegria de poder estar manifestando as coisas que pensei e senti, há a certeza de que capitulei.

                            Resisti até 1991, pois em junho ou julho de 1992 comecei o primeiro texto do modelo, tendo terminado-o em agosto/92.

                            Aqui-e-agora, hojaqui, confesso penalizado que terei de me render à posse, menos por amor de mim, porque vejo cristalinamente o que se seguirá, e mais por amor às necessidades dos meus filhos, a quem muito amo. O dinheiro, enquanto separador maior, evitei sempre, pois com ele vem os juros incontornáveis que os acumuladores ganham, e os juros constituem parasitismo, a sobre-afirmação da preferência do parasita, que pode ser, no entanto, um comensal cooperador.

                            O dinheiro é o símbolo externo da posse de cada coisa, e a posse é distanciamento, é o sistema perverso, o duplo, a traição do “superior” e do “inferior” do desigual, da desigualdade. Cheio de dores, evitei os juros, a acumulação, vivendo sempre rente à pobreza, sempre necessitando de ajuda e de socorro, o que também é trágico.

                            Por vias tortas, essa mesma desigualdade da posse faz avançar a igualdade preciosa, de modo que há alguma justiça que eu, para chegar mais longe, tenha que recuar para os braços dos primitivos, dos bárbaros, dos incultos, dos incivilizados. É trágico demais, para mim, e eu aqui sozinho choro.

                            Vitória, quinta-feira, 29 de agosto de 2002.