domingo, 25 de dezembro de 2016


Defasagem Informacional

 

                            O livro de Anita Ganeri (maravilhosamente ilustrado por Luciano Corbella), Atlas dos Oceanos, São Paulo, Martins Fontes, 1994, diz na página 4: “Mais de dois terços da superfície terrestre estão cobertos por água salgada, o que o torna o planeta mais ‘aquoso’ do sistema solar”.

                            No entanto, descobriram que Europa, satélite de Júpiter descoberto por Galileu em 1610 (tem 2.900 km de diâmetro, enquanto o da Terra é pouco menos que 12.750 km), tem com certeza uma camada de 100 km de profundidade de gelo, ao passo que deve existir ainda mais água, desta vez líquida, abaixo disso, em razão das extremas pressões da camada superior Se a Terra tem 2/3 cobertos de água, toda a superfície de Europa é coberta de gelo. Além disso em nosso planeta a profundidade é de uns três quilômetros, portando o volume chega a 2/3 x 510.106 km2 x 3 km = 109 km3, enquanto o gelo constitui em Europa 2,5.109 km3, portanto, 2,5 vezes o tanto da Terra, sem falar que há outra camada abaixo.

                            É certo que Europa é satélite, não planeta, mas mesmo assim há defasagem informacional. As pessoas não informam o que é mais próximo da verdade. Seria isso sanável? Com a Internet é possível pesquisar muitíssimo mais coisas do que poderíamos antes, mas mesmo assim não há deslindamento das questões assim sutis, mais intrincadas que a mera informação, ou seja, pesquisa & desenvolvimento que seja apresentada (o) ao público fidedignamente e coladas mesmo à realidade.

                            Isso os tecnocientistas ficam devendo.

                            Vitória, segunda-feira, 26 de agosto de 2002.

Crátons e Montanhas

 

                            Continuando a busca por petróleo e gás, podemos dizer que os crátons são aquelas antigas regiões que nunca estiveram debaixo do mar, que estão sendo erodidas há bilhões de anos e tem, portanto, montanhas mais baixas e arredondadas, por exemplo, o Planalto Brasileiro e o Planalto das Guianas.

                            No Planalto Brasileiro a montanha mais alta fica justamente na divisa entre Espírito Santo e Minas Gerais, o Pico da Bandeira, que tem menos de 2,9 mil metros (2.890 m). O ponto culminante do Brasil, para os lados do Planalto das Guianas, é o Pico da Neblina, com em torno de 3,0 mil metros (3.014m). Comparemos isso com os 6,5 a 8,9 mil metros das grandes cadeias de montanhas.

                            As nossas são montanhas desgastadas, indicando que estão sendo erodidas há muito, muito tempo. De fato, os crátons estão ai desde os primórdios, desde o começo. Não mergulharam de novo no manto, não foram levantados, não estiveram no fundo do mar, não tem petróleo nem gás em quantidades apreciáveis, só residuais.

                            Então, os crátons devem ser excluídos de qualquer busca de volumes maiores. Mas, se eles não têm, em volta deles tem muito. Se segue que em volta dos crátons do Brasil e das Guianas há muito petróleo, basta saber onde procurar.

                            Bom, como já vimos, os produtos de terra irão somar-se à produção do ficto e do zôoplancto. Daí que o petróleo e o gás irão formar-se em volta dos crátons que, lembre-se, estão aí há bilhões de anos. Eles são o referencial primordial. Por sorte o Brasil tem, não apenas um mais dois, o do Brasil, que é só nosso, e o das Guianas, que partilhamos com as Guianas, a Venezuela e a Colômbia, um pouco mais longe.

                            Acontece que o mar real em volta do Cráton Brasileiro tornou-se mar virtual, sendo levantado pelo avanço para sudoeste da Placa da América do Sul, que se encontrou com a Placa de Nazca, subindo, colocando-se acima desta, formando os Andes. Então toda a formação antiqüíssima que estava no fundo do mar veio à tona, como a planície geral no Oeste brasileiro. É uma piscina de petróleo, um estoque tremendíssimo.

                            Existem outros no mundo, talvez um ainda maior nos EUA e Canadá, para não falar do México. Na Rússia deve existir um imenso.

                            Mas, onde buscar, definitivamente?

                            Em primeiro lugar, identificar os crátons, que são os zeros em torno dos quais estarão as jazidas. Depois, ressaltar as montanhas logaritmicamente, as maiores para cima, as menores ainda mais para baixo, separando totalmente os grupos. Terceiro, onde estão as planícies? Como já vimos, o gás estará no alto das montanhas, o petróleo nas planícies. Um levantamento total deve ser feito, meticulosamente. Onde houver duas ou mais cadeias de montanhas é porque o choque das placas é complexo, e não duas a duas; podem estar chocando-se três, quatro, “n” delas.

                            O resto fica por conta da pesquisa & desenvolvimento, das tecnociências tradicionais de busca. Em resumo: 1) cráton, 2) montanhas, 3) planícies, 4) P&D tradicional; 5) investimento; 6) descobrimento; 7) formação de reservas estratégicas; 8) venda do excedente de forma controlada; 9) não cair no orgulho gastador do novo rico; 10) investir pesadamente em educação avançada do povo e das elites, e nos avanços sociais.

                            Vitória, domingo, 25 de agosto de 2002.

Concorrência

 

                          No livro Petróleo, A Maior Indústria do Mundo? (Sua história empresarial, nomes que fizeram a diferença, bastidores da política), Rio de Janeiro, Thex, 2002, p. 412, o autor, Roberto Minadeo, diz: “Um setor da atividade econômica com milhares de pequenos produtores não é necessariamente um setor com maior concorrência. Um exemplo prosaico: apesar de existirem milhares de padarias, o pão é quase sempre adquirido no local mais perto das residências. Dificilmente alguém se disporia a grandes percursos em busca do melhor produto ou do menor preço. É um setor com menor concorrência por sua própria natureza, havendo natural acomodação em torno de cada unidade. As que são mal administradas não sobrevivem, vindo a ser fechadas ou negociadas. Portanto, não é o fato de não existirem milhares de grandes companhias de petróleo que indicaria necessariamente a existência de um cartel”.

                            Nem o contrário, pois acontece que há de fato cartelização no subsetor de energia do petróleo e do gás.

                            E isso advém de que, havendo pequeno número de empresas, é mais fácil negociar entre elas um acordo em seu próprio benefício, para prejuízo dos excluídos, seja o povo, sejam as elites. E, ao contrário, havendo milhares de padarias, elas não podem conversar entre si para estabelecer monopólio (um pólo só) ou oligopólio (poucos pólos). Entrementes, os governos acabam por estabelecer preço único, com o tabelamento de preços, e com isso o monopólio, o pólo único do governo. Agora que os preços foram liberados, há lugares que vendem o pão a 25 centavos, outros a 20, outros (das regiões miseráveis) a preços menores ainda.

                            Ora, a concorrência não é apenas sadia, é ela condição mesmo de prosperidade e da projeção no futuro do mais apto, do mais hábil, do que conhece mais. Aliás, a concorrência é fator da sobrevivência do mais competente, do mais capaz, do mais habilitado, do mais adequado, do mais destro, do mais apropriado.

                            É POR ISSO que os governos (e as empresas também) devem zelar pela concorrência, pois a solução de problemas é condição de sobrevivência das espécies. Na realidade as espécies estão SEMPRE concorrendo para deixar descendência. As pessoas podem pensar que ajudar os deficientes físicos e mentais é programar a ineficiência para estourar pelo acúmulo em algum ponto do futuro, mas estão redondamente enganadas, desde quando os laços de proximidade é que fazem a humanidade ir adiante. A consideração, o respeito, a dignidade do comportamento não tem nada a ver com o fim da concorrência, podendo perfeitamente estar associadas a ela.

                            A concorrência tanto pode ser boa como ruim, aliás, como todas as coisas. A concorrência ruim é a concorrência des-leal, aquela a que falta lealdade, constância, fidelidade, honra, respeito a princípios. Trapacear é que é ruim.

                            Se segue que o oligopólio, o duopólio, o monopólio, todas as restrições da concorrência são ruins. O oposto também é verdadeiro: concorrência demais é daninha, porque pulveriza excessivamente a potencialidade dos fabricantes.

                            O autor não está certo na defesa implícita que faz das grandes companhias do petróleo, em especial das chamadas Sete Irmãs (que já perderam dois membros, naturalmente substituídos por outros – nem são necessariamente sete agora). Mais certo é que os povelites estejam sendo traídos por esses oligopólios.

                            Vitória, segunda-feira, 26 de agosto de 2002.

Comprando em Volta do Círculo Urbano

 

                            Sãos duas vertentes diferentes.

1)      Na periferia, em volta das grandes cidades, comprar para vender aos pobres e miseráveis, e aos armazéns e indústrias (comércio melhor, e os ricos e médios-altos compram nos melhores bairros);

2)     Em volta das pequenas cidades para revender aos ricos e médios-altos. Conforme eu já disse em outros lugares, as questões mais prementes deste século serão as da Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo e fogo/energia, a ecologia biológica da Vida no centro, e no centro do centro a ecologia psicológica da Vida-racional), mais os resíduos descartáveis ou lixo. Ora, as florestas estão minguando. Quando, lá por 2050, a população tiver dobrado, de 6 a 12 bilhões de indivíduos, o solo livre terá diminuído numa proporção exponencial, para não falar do encurtamento das matas. Assim sendo uma poderosíssima nostalgia se apoderará de quase todos (2,5 % resistem sempre), mas só quem terá dinheiro para pagar serão as classes A e B.

Conseqüentemente, lembrem-se, é uma aquisição superseletiva: em volta das cidades pequenas para os ricos e médios-altos, em volta das cidades grandes para os pobres e miseráveis.

Os ricos e médios-altos devem ser servidos com recomposição da antiga ecologia, florestas de novo clímax, em elegantíssimos e caríssimos condomínios em fazendas superpreparadas e superembelezadas. Os pobres e miseráveis com residências melhores, quintais padronizados, um novo estilo de fazer residências populares. Só isso pode ser uma mina inesgotável de dinheiro, como para os Trump, quando eles melhoraram a construção civil em Nova Iorque, outrora. As construções para os ricos não darão tanto dinheiro quanto para os pobres, porque os ricos são sovinas, pães-duros, avarentos, mesquinhos.

Com os pobres e miseráveis pode-se ganhar muito mais, em quantidade, dando-lhes qualidade e segurança de que eles nunca dispuseram, numa nova arquiengenharia de primeiro mundo, paga em larguíssimo prazo (com reserva de terrenos, no sistema de 4/1: ¼ de venda imediata, ¼ de venda média, ¼ de venda tardia e o último quarto reservado para empresas; depois de um tempo recomprar as casas mais desvalorizadas para construir prédios). Quanto aos ricos e médios-altos, o mesmo sistema, com reserva de terrenos para clubes, para campos de golfe, etc.

O dinheiro que se pode ganhar com esse novo sistema duplo é mil vezes o que já se fez até agoraqui.

Vitória, quarta-feira, 21 de agosto de 2002.

Complexidade do Sistema de Patentes

 

                            Norbert Wiener já havia prevenido, em seu livro de 1954, Inventar (Sobre la gestación y el cultivo de las ideas), Metatemas 40, Barcelona, Tusquets, 1995, que o sistema de patentes foi feito para proteger as empresas.

                            E dizem que patentear é o melhor modo de ir aos tribunais, para a defesa das patentes. De fato, soube pelo jornal que Nicolai, o inventor do BINA (sistema de telefonia que identifica o número que ligou: significa “B Indica Número de A”), mineiro que mora agora em Brasília, está desde a invenção em 1977 com ações na Justiça (que tarda MUITO e falha bastante) para receber os direitos, dos quais até agora não viu um centavo, todo mundo se esquivando, uns empurrando para outros, as telefônicas careiras vergonhosamente tentando escamotear.

                            Por quê os governempresas não são capazes de passar uma políticadministração de fácil trânsito para isso? É “incompreensível” para mim. Claro que sei dos largos interesses em contrário, de manter o Brasil submisso e derrotado, pois em longo prazo um Brasil altivo significaria as regiões tropicais libertas, uma civilização mestiça, etc. Então é um jogo subterrâneo em que vale praticamente tudo.

                            No entanto, seria preciso transformar o sistema de patentes em algo fácil, em “feijão com arroz”, qualquer coisa trivialíssima, como diz o povo, “em caldo de galinha”, algo facílimo, espalhando milhares de escritórios de patentes, conforme já sugeri num texto do modelo. E treinando professores, diretores, alunos, pais e mães, a mídia toda, todos os brasileiros e capixabas.

                            Tirar a complexidade do sistema, simplificá-lo a tal ponto que qualquer idiota pudesse usá-lo. E, em alguma medida, qualquer um é idiota, PORQUE ninguém sabe tudo, na realidade quase todos sabem quase nada.

                            E preciso banalizá-lo, de tal modo que em todas as atividades, em cada canto do país e do estado, a todo instante, cada um estivesse pensando sempre num novo modo de fazer, de produzir. Esse seria o maior serviço a prestar à população brasileira.

                            Vitória, quarta-feira, 21 de agosto de 2002.

Como os Pobres São Ensinados

 

                            Peque-se uma criança e ensine-se a ela:

a)     A comer depressa;

b)    A andar retraída;

c)     A ficar pelos cantos;

d)     A dizer, sim, senhor;

e)     A estar sempre angustiada pelas dívidas;

f)      A aceitar qualquer trabalho sem reclamar;

g)     A obedecer aos chefes, e outras coisas assim submissas e teremos um pobre ou miserável.

Tais são as criaturas horrendas que a burguesia criou no capitalismo. E como a soma é zero, do outro lado estão os supostamente livres. A moeda é dupla: de um lado o brilho intenso, do outro a mais profunda sombra.

E é essa situação que agrada sobremaneira aos capitalistas de agoraqui. Há quem defenda o sistema, que é podre, que é sujo, sem dignidade. Olhando desde já de fora, com a alma anarco-comunista que tenho, posso ver como bem baixo, embora, é claro, mais alto que o passado, só porque este era mais sujo ainda.

É certo que tudo depende de uma fita de herança, neste caso psicológica ou artificial ou humana, capitalismo de terceira onda. Como essa FH é passada através da língua? Quais são os OPERADORES DA SUBMISSÃO? Qual é a dessa Escola da Submissão? Como ela ensina ou desensina, qual é a tecnociência ou pedagogia da transferência do servilismo? Como é que as pessoas aprendem a magicarte da baixeza? Como elas instruem-se para a dependência?

Ora, se as pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) são filhas de Deus, como é que ficaram assim esses trastes? Como se tornaram essas criaturas imprestáveis? Como uns aceitaram reduzir outros, e esses outros aceitaram serem reduzidos? Como eles se deixaram assim abater? Que é que nas suas vidas, na sua visão-de-mundo, os apequenou assim? Que é que deu errado? Onde, no caminho até a grandeza, uns que ensinaram e outros que aprenderam a sujeição, desistiram dessa grandeza em nome de uma suposta inferioridade?

Vitória, quinta-feira, 29 de agosto de 2002.

Centro Alimentar Tropical

 

                            É sabido que a grande maioria dos brancos não tolera bem a lactose, contida no leite, de modo que os que tomam têm cólicas, dor de barriga, uma série de problemas. Como os brasileiros tendemos a ser descendentes da fusão de brancos europeus, de negros africanos, de amarelos asiáticos e de vermelhos americanos, em mais ou menos gerações à frente, seria conveniente investigar os alimentos para esse povelite ou cultura ou nação nova           .

                            Como estamos nos trópicos, eis aí a Nova Cozinha Tropical, com bebidas tropicais, com comidas tropicais, com pastas tropicais e temperos tropicais. Um novo paladar tropical, enfim.

                            É questão de assumir que é irreversível e caminhar para lá.

                            Nos dias que correm, é lógico, alimentação dos brasileiros é alimentação dos brasileiros dominantes, em geral os brancos europeus, embora tanta mescla já tenha havido de comidas árabes, italianas, judias, libanesas, africanas, indígenas, alemãs, nessa mistura tão grande, que é mesmo de espantar. Mas fica no reino dos sentimentos, não é investigado como razão tropical nova. Não é assumido como prazer autônomo, independente frente aos outros, como satisfação permitida e valorizada. É uma coisa dos cantos, das senzalas, que não freqüenta os restaurantes. Não é plenamente brasileiro, é europeu ainda – o resto sendo da marginália, o que é total tolice.

                            Daria o maior ibope, porque autorizaria outros povos e nações a enfrentar o mesmo problema. Isso traria um gigantesco arrastamento socioeconômico. Ah, o que a coragem e um pouco de persistência podem fazer!

                            Vitória, segunda-feira, 26 de agosto de 2002.