sábado, 17 de dezembro de 2016


Tudo Fantasia

 

                            No livro Dinossauros! (14 contos de FC editados por J. Dann & G. Dozois), São Paulo, Aleph, 1993, Coleção Zenith, vol. 6, um dos contos é de Bob Buchley, o sexto, Os Corredores, no original de 1978 The Runners, dois paleontólogos são enviados ao passado, onde realizam contagem e identificação dos dinossauros, para identificar a época em que estão.

                            Como eu já disse nos textos em que propus classificação das tecnartes e, dentro delas, da prosa, tecnarte da visão, só quem faz FICÇÃO CIENTÍFICA são os cientistas, pois só eles inventam convincentemente coisas que não existem. Naqueles pontos sugeri nova nomenclatura, FT, FICÇÃO TÉCNICA ou tecnológica, pois podemos imaginar técnicos ou tecnólogos, um nível abaixo do conhecimento científico, que, estando desocupados, passam a voltar seu background ou bagagem cultural menos apurada à construção de pessoambientes (pessoas: indivíduos, famílias, grupos, empresas; ambientes: municípios/cidades, estados, nações e mundos) e os outros elementos todos do modelo (estou cansado de repetir, vá ler).

                            Mas, nem isso.

                            Pois técnicos é que fazem ficção técnica, FT, só eles inventam convincentemente mentiras técnicas, falsidades, quando entram no caminho do mal, ou com base na tal de “mentira honesta”, a convicção de estar fazendo certo uma coisa que depois se mostra errada.

                            O que seria então tudo isso que denominamos FC?

                            Não passa de fantasia.

                            Fantasia sobre o passado, fantasia sobre o presente, fantasia sobre o passado. De tipos de variam de um a 99 % de modificação dos cenários conhecidos. Poderíamos dizer FT/1 a FT/99, sendo as primeiras obviamente menos imaginativas nos detalhes. Contudo, como existe gente que não se esforça, mesmo 99 % de alteração podem não significar uma fantasia realmente agradável, suculenta, deliciosa, como, digamos, essas do J.R.R. Tolkien, do Frank Herbert, do Isaac Asimov, do Arthur Clarke (coloco “do” e não “de” porque de tanto ler me sinto íntimo deles). Para obter uma tabela ou classificação seria preciso percorrer obra a obra com um quadro de quesitos do modelo ou algo mais completo ainda, avaliando as coisas.

                            Evidentemente não chega a 100 % PORQUE a pessoa deve usar uma língua, mesmo inventada (portanto tem algum gênero de estrutura) para ser entendido.

                            Os níveis de complexidade podem ser cinco, de mágico/artístico a teológico/religioso a filosófico/ideológico a científico/técnico a matemático. Intrincadíssimos os cenários, até. Os de Duna, de Frank Herbert, são bem intrincados, o que os dois filmes coiós feitos até agora nem de longe tocaram.

                            Mas é tudo fantasia.

                            Só porque o autor fala em antigravidade e naves espaciais, não seria? Claro que é! Fantasia da braba, mesmo. Qual é a ciência de falar de impulsão de íons? Principalmente depois dos pesquisadores terem proposto a teoria dos íons, não há nenhuma. Ou em cérebro positrônico, como Asimov para seus engraçadíssimos robôs?

                            Não há nenhuma explicação correlativa dos elementos de relação, ou seja, nenhuma dialógica, diálogo de universo, para o quê, é certo, seria necessário construir todo um universo, e aí ele já seria real, não ficcional. Mas a ficção, como já falei, divide-se em dois super-ramos, o real, que é o de fundo psicológico sobre o real que conhecemos, daí um reflexo espelhar mais ou menos distorcido, retratando os humanos, e as variantes virtuais, onde se modifica de um a 99 % de tudo.

                            Pois, veja bem, no conto eles listam os animais para saberem em que período estão; ora, se fosse possível “viajar no tempo”, as pessoas deveriam ir a endereço espaçotemporal certo, precisamente século, década, ano, mês, semana, dia, hora, minuto, segundo e qualquer infinitesimal instante, porque qualquer variação colocaria o transporte no espaço, dentro do solo, no fundo do mar, etc., como eu já disse há décadas.

                            Vitória, quinta-feira, 30 de maio de 2002.

Seta do Tempo

 

                            No livro Dinossauros! (14 contos de FC editados por J. Dann & G. Dozois), São Paulo, Aleph, 1993, Coleção Zenith (vol. 6), em que no alto da capa aparece “Arthur C. Clarke & outros”, apelando para a fama dele, o seu conto é o nono, Seta do Tempo, p. 138 e ss., original Time’s Arrow, de 1952, portanto bem precoce em relação ao conhecimento científico, já que Clarke é engenheiro de formação.

                            Como já mostrei no modelo e principalmente depois, nas posteridades, não pode haver nenhuma seta do tempo. O tempo é um número, que se subdivide ou se fraciona em infinitos pedacinhos, contados a partir da Propriedade Métrica-Temporal, PMT, como a chamei, por paralelismo com a Propriedade Métrica-Espacial, PET, que Stephen “Rei das Águias” Hawking descobriu nas distâncias de Planck, e que conjuntamente poderíamos denominar Propriedade Métrica-Espaçotempotal, PEMT, uma sigla fácil de lembrar. O tempo é exatamente o zero na origem do sistema cartesiano triortogonal.

                            O livro é de 1993 e naquela época eu ficava fuçando as livrarias em busca de literatura de FC e de fantasia, entre tudo mais. Comecei o modelo em agosto de 1992, mas não havia pensado certas coisas, que só vieram depois. Em vista disso eu ficava deslumbrado com a esperteza das pessoas, em particular a dos cientistas.

                            E Clarke, falando em entropia, me fascinava.

                            Ele supõe, no conto (que está completando 50 anos agora em 2002 veja só!), que a entropia fosse invertida as coisas voltariam no tempo. Como sei agora, não há como voltar PORQUE o tempo é um ponto, não uma seta, e não há círculo do tempo e seta ou flecha do tempo senão em nossas cabeças – pelo menos neste lado do duploverso.

                            A entropia tem uma definição física (S = k.LogΩ, onde k é a constante de Boltzmann = 1,38.10-23 J/K, Joule por grau Kelvin, ou seja, trabalho de salto de um grau na temperatura do corpo ou excitação térmica dos objetos em medição, geralmente moléculas – em resumo, para excitar ou fazer vibrar um objeto um degrau K é preciso aplicar aquele tanto de trabalho; veja uma criaturinha balançando o objeto, fazendo-o oscilar sobre um centro), com fórmula ou conceito ou equação, e uma outra de palavras, segundo as quais é uma medida do estado de desordem dos sistemas. Como, pela segunda lei da termodinâmica, a entropia está sempre aumentando quanto mais vamos ao futuro, a diminuição dela, SUPOSTAMENTE, deveria conduzir ao passado. Seria uma boa hipótese, se tivesse chance de ser verdadeira. Infelizmente para nossa diversão e prazer desse jeito não tem. A coisa seria MUITO MAIS complicada.

                            No conto muita energia é usada e a personagem, o Dr. Henderson, volta no tempo, vai ao passado dos dinossauros com jipe e tudo.

                            A antientropia ou negentropia corresponderia aos objetos irem progressivamente paralisando, com o quê obteríamos os trabalhos empregados nos movimentos contrários. As coisas ficariam cada vez mais “organizadas”, quer dizer, imóveis, voltando no tempo até o Big Bang (Grande Explosão, Barulhão, precedido do Grande Estresse). Acontece que, se isso pudesse ser feito, não retornaríamos no tempo e sim no espaço, percorrendo às avessas as linhas no cosmos, TRILHANDO OUTROS CAMINHOS TEMPORAIS, sempre de soma, para o que é considerado adiante. O copo quebrado não voltaria a estar inteiro, ele iria, quebrado ainda, com tudo mais, no instante em que tudo foi pego, rumo ao ponto onde o BB explodiu. Os objetos não sabem “onde” se situa o tempo, porque a pergunta não faria sentido. “Onde” é espaço. Sendo somente um ponto, o tempo não pode ser sondado. É porisso que ele é intuitivo, indefinível, incognoscível. Não é atoa que não possa ser definido, ele não pode ser definido PORQUE nada há a definir. Porém, o espaço não é intuitivo, ele é racional, precisamos raciocinar para conhecê-lo, e, portanto, ele pode ser definido, medido, referido. Existe “futuro” ou posteridade no espaço, não no tempo. O que chamamos de futuro não é a posteridade na seta do tempo, mas a posteridade-de-soma. O passado não é a anterioridade na seta do tempo, sim a anterioridade-de-soma. O presente não é, obviamente, nem anterioridade nem posteridade, é a linha que denominei de horizonte de simultaneidades, HS, com o ponto (que antes eu denominava linha) HE, horizonte de eventos, o tempo presente, ou atualidade. Em conjunto o HES, horizonte de eventos simultâneos, o sistema triortogonal cartesiano espaçotemporal de simultaneventos de automontagem do metaprogramáquina universal.

                            Essa coisa passou em branco não apenas os 50 anos desde o conto, mas o tempo todo. Por um lado, seria fascinante viajar “no tempo” (não obstante “viagem” diz respeito a deslocamento espacial – não pode haver dois deslocamentos no par polar oposto/complementar espaço-e-tempo: num o movimento é possível, no outro não).

                            O resultado é que essa falta nossa de raciocínio levou a demoradas e até cansativas elucubrações de práticos e teóricos, dos conhecimentos baixos e altos, de muitos gastando precioso tempo. Que não pode ser recuperado pela “entropia negativa – tempo negativo” (página 145) de Clarke. Simplesmente porque o tempo é um ponto, não há nem uma rebarba nele, é adimensional, um ponto matemático mesmo.

                            Vitória, quinta-feira, 30 de maio de 2002.

Tricampeão

 

                            Ainda hoje (08 de junho de 2002) no jogo Brasil x China chamaram o Rivelino “tricampeão brasileiro” em 1970. De fato ele foi campeão (uma vez) e não tricampeão (três vezes).

                            Diziam em Vitória que os ônibus são biarticulados, quando só têm duas partes unidas por uma sanfona, sendo portanto monoarticulados, com uma articulação só para dois pedaços.

                            Em 1994 os jogadores saíram como tetracampeões, campeões quatro vezes, o que não é verdade. A Seleção Brasileira sim, esta era tetracampeã. E Zagalo, que ganhou como jogador em 1958 e 1962, foi técnico vitorioso em 1970 e auxiliar do Parreira em 1994 – esse sim, foi tetracampeão, o único no mundo, por sinal.

                            Essa falha, que parece simples, remete à incompetência para raciocinar, que é de todo um povo que aceita tais asneiras. Se não somos capazes de evitar tais escorregadelas, como poderemos chegar às grandes coisas e aos grandes cenários. Nós devemos perseguir insistentemente tais erros, forçando povo e elites a atentarem mais a tudo, quer dizer, ao todo e às partes. Ausência de lógica no falar aponta para a falta de lógica no pensar mais amplo, porque a primeira não é senão demonstração da segunda.

                            Vitória, sábado, 8 de junho de 2002.

Princípio Fiscal

 

                            No livro de Gerard Walter, Em Bizâncio (No Século dos Comnenos, 1081 – 1180), Lisboa, Livros do Brasil, s/d, p. 69, ele diz: “O sistema fiscal que vigorava em Bizâncio fazia que o Tesouro recebesse no conjunto menos imposto sobre os grandes domínios do que sobre as pequenas propriedades, colectáveis separadamente a uma taxa que permitia realizar uma entrada fiscal nitidamente superior. Romão Lecapene bem o tinha compreendido. ‘É o estabelecimento do grande número’, dizia ele na sua lei acima citada, ‘que paga os impostos, que faz face a todos os encargos militares; tudo isso cai se o grande número falhar’. Por outras palavras: os rendimentos do Estado diminuem quando as propriedades dos poderosos aumentam”.

                            Romão Lecapene foi promovido a César em 24 de setembro de 920 em Constantinopla ou Bizâncio (hoje Istambul, na Turquia) e coroado co-imperador em 17 de dezembro do mesmo ano; foi apeado do poder em 945 por Constantino VII, que o enviou ao exílio.

                            O Brasil tem 58 tributos que vingaram e todos incidem sobre o povo. O que não vingou, embora esteja definido na Constituição de 1988, é aquele sobre as grandes fortunas. Este não prosperou. Foi o único.

                            Inclusive, a Contribuição PROVISÓRIA sobre Movimentação Financeira, CPMF, tornou-se permanente.

                            O “grande número” de que falava o Romão Lecapene é o povo, são as massas. No Brasil os miseráveis são 30 % e os pobres 50 %, somando, portanto, 80 %, ao passo que os médios-altos são 15 % e os ricos 5 %, somando 20 %, ou seja, quatro daqueles para um destes. Obviamente os tributos encontram-se deslocados em desfavor do “grande número”.

               O resultado palpável é que quase nunca o Estado, em qualquer nível (federal, estadual ou municipal/urbano), está em equilíbrio em suas contas, ou com saldo positivo. Está sempre pedindo dinheiro, aqui e acolá, de forma que paga juros continuamente, diminuindo ainda mais suas possibilidades de investimentos na salvação nacional e no futuro. Os governos brasileiros vivem de investir no passado, nas elites, que “já foram”, como diz o povo. Nunca são grandes, são consistentemente pequenos, na dimensão da falta do tributo, porque só cobram dos pobres, que pouco podem fazer, PORQUE, é claro, 80 % das rendas ficam em posse dos 20 % mais ricos. Ou seja, 20 % possuem 80 %, enquanto 80 % possuem 20 %, ou seja, há uma distância de ¼ x ¼ = 1/16 entre uns e outros.

              Veja só que Lecapene e seus teóricos viram isso mais de 1.050 anos atrás e os de agora não têm coragem de fazer, porque sabem instintivamente (mesmo se se preocupam um pouquinho que seja com o povo) que cairiam logo em seguida.       

              Aqui no Brasil preferem satisfazer os latifundiários, os concentradores de terra, e os hegemônicos, os concentradores de qualquer coisa, por exemplo, propriedades em geral e dinheiro em particular.

              Além disso, os governos vivem de dar anistias às empresas. Não às pessoas físicas, os indivíduos e as famílias, mas às pessoas jurídicas, os grupos e as empresas. Nunca há anistia para as dívidas das famílias com o INSS, por exemplo, enquanto sucessivamente os governos do ES dão até 95 % de desconto nas multas, restando 5 % (que se for de 30 % dá 1,5 % - somando-se aos 17 % do ICMS seriam 18,5 %, o que favorece a aventura da sonegação).

              Enfim, eles esquecem propositalmente o “grande número”, o povo e as massas, favorecendo o “pequeno número”, as elites, o que vai logo a seguir gerar um punhado de problemas de caixa - da folha de pagamentos e dos investimentos governamentais.

              Essa ELITIZAÇÃO DOS TRIBUTOS, em termos de benefícios unilaterais, logo irá estourar os orçamentos governamentais. Assim, os governos vão se arrastando, para grande felicidade das elites. Quando Reagan entrou, logo tratou de retirar os impostos incidentes sobre os poderosos. O resultado, logo a seguir, foi que os Estados Unidos amargaram déficits crescentes, as dívidas interna e externa crescendo desmesuradamente, o mesmo acontecendo no Brasil.

              A solução é conhecida há um milênio, pelo menos.

              A coragem e a dignidade é que não são conhecidas pelas elites governantes e os empresários.

              Vitória, sábado, 8 de junho de 2002.

Picaretagem

 

                            Quando as crianças eram pequenas a gente ia muito ao McDonalds, onde eles pediam variados sanduíches. Gabriel não gostava da alface, então pedia sem; vinha um envelope diferente, onde se lia: “preparado especialmente para você”. Não colocavam alguma coisa, cobravam o mesmo tanto e a gente devia se sentir feliz pelo “tratamento diferenciado”.

                            Agora, 2002, é o leite de soja ADES.

                            Existem de vários tipos, todos em pacote tetrapak de um litro, os de frutas com açúcar, o puro com açúcar que custa R$ 1,89 e o Light “especial” sem açúcar de R$ 2,29. Quarenta centavos a mais. O fato de não colocarem o açúcar vale um sobrepreço de quarenta centavos.

                            Eles colocam na embalagem: “Para que os efeitos da soja na diminuição do colesterol sejam atingidos, o alimento deve ser consumido diariamente, conter uma quantidade razoável de proteínas de soja, ser pobre em lipídios e em colesterol e associado a um estilo de vida saudável”, colorido meu. Bom, se é um estilo de vida saudável, não precisa de leite de soja, muito menos sem açúcar, porque por natureza quem tem um estilo de vida saudável não consome excessos de sal e de açúcar, não tem trabalho sedentário, faz exercícios, etc.

                            É pura picaretagem.

                            A Microsoft vendeu um produto, o Windows Home Ediction (edição do lar) em caixa fechada na qual não está dito, em lugar algum, que seja para um computador apenas. Vem dito dentro, depois que o produto é comprado e a caixa violada, no manual. Custou R$ 545,00, um valor considerável para os brasileiros. Instalamos nas três máquinas, apareceu o aviso de que era preciso validação. Então, retirei de duas máquinas e deixei na da Clara, que validei por telefone. Como a minha máquina era a que dava problemas, que o WHE prometia resolver, coloquei nela, retirei da da Clara, então liguei e a moça atendeu, dizendo que não seria possível, pois já estava na da Clara. Daí, eu disse, então vou desinstalar da minha e colocar de novo na dela. Ela me disse que isso também não seria possível. Compramos uma coisa que não serve em nada.

                            E assim estamos os brasileiros sujeitos a milhões, bilhões de picaretagens das empresas, de todo tipo de trambique.

                            A Sharcolor, uma empresa pequena de Vitória, situada em Jucutuquara, de conserto de eletroeletrônicos, pegou três aparelhos nossos (um videocassete, um aparelho de som e um walkman, que ainda está com eles nesta data), cobrou R$ 280,00 e eles voltaram pior do que quando foram. Não adiantou nada ir reclamar no PROCON, parece que eles protegem as empresas.

                            E assim eu poderia discorrer, como cada brasileiro (até os empresários, porque eles sofrem nas mãos dos outros bandidos), eu creio, sobre os atos de banditismo das empresas.

                            Não há quem nos defenda do terrorismo consentido dos empresários safados.

                            Porisso não admira mesmo nada que os brasileiros sejamos um povo decepcionado com tudo.

                            Vitória, quarta-feira, 29 de maio de 2002.  

Pequena-Grande

 

                            Schumpeter, naquele seu texto, O Negócio é Ser Pequeno, defende a tese de que as pequenas empresas devem ser preferidas às grandes. De fato, depois disso os governos e as próprias empresas passaram a defender as pequenas como a principal fonte de empregos em família e fora dela. Uns 20 ou 30 % da riqueza concentram 80 ou 70 % dos empregos, e vice-versa.

                            Mas outros, antes e depois, defenderam a tese oposta, de que o negócio é ser grande.

                            Com qual ficamos?

                            O modelo mostrou que ambas as alternativas são válidas.

                            Que tanto devemos ter empresas grandes quanto pequenas, o que vale para todas as pessoas (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações, mundo).

                            Na realidade 2,5 % serão micro-empresas e 2,5 % macro-empresas, empresas multinacionais gigantes. O restante, 47,5 %, estará mais para pequena, enquanto 47,5 % estarão mais para grande.

                            Devemos ter empresas de todos os tipos, sem preferência.

                            Ou seja, ter preferência é candidatar-se ao inútil e ao ciclo, aos altos e baixos de um e outro lado. Pequena quando a necessidade for essa, grande quando for o oposto, variando ao sabor das necessidades presentes, instantâneas. Assim como existe a diferenciação na Matemática, considerado o infinitésimo de tempo, ∆t ou ∂t, delta-t, assim também os empresários futuros de nossa família extensa devem agir, considerando o instante, o mínimo tempo operacional de empresariamento, e não ficarem pensando no passado, que pode nos levar a induções incorretas sobre o futuro, o que seria desastroso. O que mais importa são as medições constantes, para reação “ligada”, “pegada” ao objeto de atenção, ou seja, reação instantânea aos fatos, como extraídos do real.

                            O resto é pretensão intelectualóide, preciosismos derivados dos desejos inconscientes dos pseudo-filosófos que se tem como economistas, o que só pode nos causar prejuízos.

                            Vitória, sexta-feira, 14 de junho de 2002.

Picaretagem Governamental

 

                            Já descrevi, em O Desastre Maxista, como o ex-governador Max Mauro, no resto honesto, implantou com apoio da Assembléia Legislativa do ES a chamada “lei da trimestralidade”, que a cada três meses devolvia só 60 % da inflação galopante do período, quando esteve lá no Palácio Anchieta, de 1987, 15 de janeiro (como era antes da promulgação da constituição federal de 1988) a 1990, 31 de dezembro. Quer dizer que a cada três meses ficava com 40 % do funcionalismo, a menos que isso fosse negociado, chegando a no máximo o que a pessoa já teria direito, 100 %.

                            Em março e junho, duas trimestralidades, nem os 60 % ele devolveu, de modo que o funcionalismo todo entrou contra o governo do ES, resultando num acumulado de perto de 162 %. Isso significou na soma muitos bilhões de reais.

                            A minha parte, até onde calculado, chegou (erradamente, pois deve ser quatro ou cinco vezes isso; não sei se entro de novo contra o governo patrão porque isso levaria o estado-governo à inadimplência) a R$ 100 mil. Nas origens o imposto de renda (IR) ficaria com 27,5 % na minha faixa de renda, o IPAJM (Instituto de Pensão e Aposentadoria Jerônimo Monteiro, nossa caixa de seguro social) com 10,0 %, somando, portanto, 37,5 %, restando 62,5 %.

                            Tendo entrado na Justiça, mais 10,0 % irão para os advogados, 15,0 % para o Tribunal de Justiça, 1,5 % para o Sindifiscal, restando 36,0 %, perda de 26,5 %.

                            Além disso, o governo, dizem, sob ameaça de intervenção do Supremo Tribunal (em 23 dos 26 estados – mais o DF), prometeu pagar em dez anos, 120 prestações (naturalmente sem juros nem correção monetária – que a 0,5 % ao mês pode somar no final 82 %), que no meu caso serão de R$ 300/mês, quando deveriam chegar a perto de R$ 520/mês (para os 62,5 %, lembre-se).

                            Considerando os juros (na realidade a inflação) de 0,5 % ao mês, as prestações deveriam passar de R$ 300 a R$ 400 por mês, uma perda de R$ 100 por mês, do jeito que vai ser pago, no total R$ 12 mil em dez anos. Se fossem juros de 0,5 % + 0,5 % de inflação, total de 1,0 % ao mês, a prestação mensal iria a R$ 516, diferença de R$ 216, no total R$ 26 mil em dez anos, um carro muito bom.

                            Tudo fica por nossa conta.

                            O atual governador, José Ignácio, pegou 20 % nossos durante vários meses, ficando devendo três meses inteiros de salário. Quando foi obrigado pelo Supremo a parar de descontar e a devolver, dividiu em trinta e seis meses, também sem juros nem correção monetária. O BANESTES, Banco do Estado do Espírito Santo S.A., de que o governo possui mias de 90 % das ações, decidiu nos emprestar dois meses de salário. Peguei (fora a pensão) R$ 4,2 mil e devo pagar em 36 meses mais de R$ 10 mil, juros de R$ 5,8 mil, de que o governo ressarcirá R$ 1,4 mil, o banco engolindo R$ 4,4 mil.

                            E assim a coisa vai de vento em popa, todos felizes em governar a infelicidade alheia, como é trivial no ES.

                            Essa é a tremenda picaretagem política capixaba, que, creio, não tem paralelo nem no Brasil nem muito menos no mundo, onde por muito menos teria fritado alguns.

                            Vitória, quinta-feira, 6 de junho de 2002.