Nascendo no Inglês
Os países onde se
fala o inglês como primeira língua são, em conjunto, extremamente poderosos,
vastos em área, progressistas, estáveis por enquanto, ricos, em geral bonitos,
à frente deste tempespaço, organizados, etc.
Só ficam atrás, em
termos de falantes, do mandarim, a língua oficial da China (embora o país tenha
1,3 bilhão de habitantes, ele é falado por pouco mais de 700 milhões de
indivíduos de dentro, fora os chineses espalhados pelo mundo, e os que, tendo
outras línguas, como o min, o vu e o cantonês, que são as principais depois
dele, devem comunicar-se através do mandarim como língua secundária).
Mas devemos lembrar
que o inglês é a língua secundária de muitos países, por exemplo, da Índia, que
esteve sob domínio da Grã-Bretanha, e outros, cuja renúncia à Comunidade não
significou afastamento total do idioma. E todos os que, mesmo no Brasil, falam
ou escrevem, ou ambas as coisas, ou estão aprendendo-o.
Dizem que 80 % dos
textos produzidos no mundo são vertidos para o inglês, além dele ser a língua
universal da Internet.
Portanto nascer em
países assim já é um “adianto”, como diz o povo. É uma vantagem notável, em
termos de facilidade de sobrevivência. Não resta dúvida. Poder contar desde o
nascimento com tão largas fronteiras em tantos setores da Vida-racional deve
ser algo de extraordinário, absolutamente cativante. Músicas e todas as
tecnartes do corpo, tudo disponível para o engrandecimento das pessoas
(indivíduos, famílias, grupos e empresas) e ambientes (municípios/cidades,
estados, nações e mundo). Quem não quer?
Sopa de minhoca,
como dizemos, ou piece cake (pedaço-de-bolo), como dizem eles.
Facilidade todo
mundo quer.
Alternativamente,
pensemos que os desonestos levam muito maior vantagem, podendo dispor de rendas
não-declaráveis ao IR. Realmente, um mundo de facilidades, se podem mentir e
enganar, e com isso acumular regalias indisponíveis aos honestos.
E quanto aos
honestos?
A luta é pela
sobrevivência do mais apto, e sobrevivem tanto os honestos quanto os
desonestos, 50/50. Ambos são aptos na seleção
artificial/psicológica/racional/humana.
O que acontece é que
os honestos são obrigados a desenvolver seus músculos mentais, a pensar mais, a
raciocinar continuamente, pois dispõe de menos recursos. É transparente que são os honestos que estão elevando a humanidade.
Se dependesse apenas dos desonestos a humanidade voltaria ao brejo da
indiferenciação de onde saiu há 200 milênios na África, com a Eva-mitocondrial
e o Adão-Y, que surgiram mais ou menos no mesmo tempo e lugar, pouca distância
um do outro.
Os honestos são forçados a aguçar sua capacidade mental continuamente,
assim como os humanos, não dispondo de garras nas mãos e nos pés, nem de presas
na boca, ou chifres na cabeça, vimo-nos forçados ao artifício da ampliação da
inteligência, ou não sobreviveríamos para ter prole, para deixar herança
genética ao futuro.
Entrementes a
desonestidade é sempre elevada em paralelo, exercida num patamar cada vez mais
alto, também, porque a coisa toda é estatística. A honestidade dá um passo
adiante e a desonestidade morre no modo velho e renasce no nível seguinte.
As facilidades levam
ao cemitério, porisso nascermos todos no inglês nos levaria à indolência, pois
tudo já estaria pronto e acabado. Nascer em posição “inferior”, menos
favorável, obriga-nos a enfrentar desafios e problemas muito mais agudos, a
afrontar tempestades mais furiosas e provocantes.
Como já aconteceu
com todos os povos, inclusive esses que são agoraqui adiantados e já foram um
dia atrasados.
Quais sobreviverão?
Serão aqueles que
resolverem maior número de problemas, não os que já os encontraram resolvidos,
pois os ambientes estão mudando continuamente, e as pessoas também.
Embora possa ser um
contratempo, é também, a prazo mais longo que a imediata comodidade, um
benefício no sentido de um aprendizado mais vasto, sensível, cuidadoso.
Se eu pudesse ter
escolhido, mesmo levando em conta essas dificuldades bastante rigorosas de não
ter nascido na cultura inglesa ou anglo-saxã, teria mesmo preferido nascer numa
cultura diversa, por exemplo, esta do português-brasileiro.
Dá mais trabalho,
sem dúvida, mas é mais estimulante e melhor. No fundo dá mais prazer ser do
contra, não estar no time frouxo, petulante, arrogante, acomodado, auto gratificante
dos contentes.
Nós estamos aqui,
com poucos recursos e em posição desfavorável, mas é porque somos mais fortes.
E daqui não vamos sair, nem que a vaca tussa.
Vitória,
terça-feira, 07 de maio de 2002.