Cinco
mulheres mais importantes do que se pensava na vida de Jesus
Por António Marujo
08/04/2012
Foi uma mulher a primeira a
receber o anúncio da ressurreição de Jesus, que os cristãos hoje assinalam.
Mas há outras mulheres importantes na vida de Cristo, mais decisivas do que
tradicionalmente se acreditava.
Maria de Nazaré, Maria
Madalena, a samaritana ou a cananeia. Elas estavam lá desde o início. Apesar
de desprezadas pela história, várias mulheres tiveram um papel fundamental na
vida de Jesus. Muito mais decisivo do que se pensava tradicionalmente. A
investigação bíblica recente começa a desvendar factos que contradizem a
ideia feita. E a vincar que as mulheres fazem parte do grupo de discípulos de
Jesus de forma igual à dos homens.
Assim é: elas estavam lá desde o início e foram apóstolas, discípulas,
evangelizadoras, financiadoras, interpeladoras de Jesus. “Jesus aceitou-as e
não as discriminou pelo facto de serem mulheres”, diz à 2 Maria Julieta Dias,
religiosa do Sagrado Coração de Maria e coautora de A Verdadeira História de
Maria Madalena (ed. Casa das Letras). “Jesus não foi misógino, foi sempre ao
encontro das mulheres”, acrescenta Cunha de Oliveira, que acaba de publicar
Jesus de Nazaré e as Mulheres (ed. Instituto Açoriano de Cultura).
Os evangelhos citam várias vezes as mulheres que seguiam Jesus “desde a
Galileia”, onde ele começara o seu ministério de pregador itinerante. No
momento da crucifixão, são elas que estão junto a Ele. Lê-se no evangelho de
S. Mateus: “Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham
seguido Jesus desde a Galileia e o serviram. Entre elas, estavam Maria de
Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.” E é a
uma mulher que primeiro é anunciada a ressurreição de Jesus, que os cristãos
assinalam hoje, Domingo de Páscoa.
Maria Julieta Dias recorda que, em outra passagem do evangelho de Lucas, já
se diz que acompanhavam Jesus “os Doze e algumas mulheres, que tinham sido
curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da
qual tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza, administrador de
Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens”.
As mulheres estavam lá, como discípulas. Em Um Judeu Marginal (ed.
Imago/Dinalivro), John P. Meier, um dos mais conceituados exegetas bíblicos
contemporâneos, não tem dúvidas: “O Jesus histórico de facto teve discípulas?
Por esse nome, não; na realidade (...), sim. Por certo, a realidade, mais do
que o rótulo, teria sido o que chamou a atenção das pessoas. (...) Quaisquer
que sejam os problemas de vocabulário, a conclusão mais provável é que ele
considerava e tratava essas mulheres como discípulas.”
Julieta Dias explica que só se fala em discípulo, no masculino, porque, em
aramaico, a palavra não existia. Discípulo era aquele ou aquela que servia o
mestre. Mesmo assim, “deve ter sido tão forte o testemunho dessas mulheres
que foi quase impossível ignorar o seu testemunho, 40 anos depois, quando os
evangelhos foram escritos”.
Em Jesus e as Mulheres dos Evangelhos (ed. Multinova), Maria Joaquina Nobre
Júlio recorda que, na ressurreição, o desconhecido que se dirige às mulheres
que iam perfumar o corpo de Jesus, lhes diz: “Porque buscais o vivente entre
os mortos? Não está aqui; ressuscitou! Lembrai-vos de como vos falou, quando
ainda estava na Galileia.” Este facto revela que as mulheres estavam
incluídas entre o auditório de Jesus, comenta. Sobre o seu ministério, “Jesus
não falou afinal só aos discípulos homens”.
A teóloga espanhola Isabel Gómez Acebo (que é também empresária, casada e
dirigente das associações de Teólogas Espanholas e Europeia de Mulheres para
a Teologia) diz à 2 que “a todos os discriminados, incluindo às mulheres,
Jesus veio devolver a dignidade e a liberdade”.
“As mulheres mostram uma forma nova de Jesus se aproximar”, diz Maria Vaz
Pinto, freira das Religiosas Escravas do Sagrado Coração de Jesus há 26 anos
e provincial (responsável) portuguesa da congregação desde Setembro de 2009.
“Com elas, Jesus mostra a sua ternura e o seu humor, chama à verdade da vida
e à radicalidade da entrega.”
Como se apagou então o protagonismo das mulheres? Com o tempo, as primeiras
comunidades assumiram a cultura envolvente e voltaram a dar predominância aos
homens. No momento da redacção dos evangelhos, entre os anos 70 e 100, já
essa realidade é inexorável. Explica Joaquina Nobre Júlio: “A recordação do
acolhimento de Jesus às mulheres foi-se esvaindo, a visibilidade e a
autonomia que ganharam com Ele foram-se perdendo.”
O protagonismo dado aos doze apóstolos como líderes da comunidade cristã tem
outra razão, na opinião de Julieta Dias: “É um valor simbólico, para dizer
que no grupo de Jesus havia capacidade de levar a boa nova às doze tribos de
Israel, ou seja, a todo o povo.”
Mas várias mulheres foram decisivas na vida de Jesus: a mãe, Maria de Nazaré;
Maria Madalena, a primeira a quem é anunciada a ressurreição; ou as amigas de
Betânia, as irmãs Maria e Marta. A samaritana ou a cananeia discutem com ele
e acabam por ser fundamentais para que Cristo repense a sua própria missão.
Há ainda a mulher pecadora que entra em casa de Simão e unge Jesus com
perfume, e outras a quem ele liberta de pesos pesados: a mulher com fluxo de
sangue, a que é curada ao sábado, a viúva que intercede pelo filho, a
adúltera que querem apedrejar. Ou ainda as que são nomeadas junto da cruz.
Elas estavam lá, também, na Última Ceia. “Seria anacrónico se não estivessem.
A Última Ceia era uma ceia pascal e a ceia pascal dos judeus era familiar,
onde estavam as mulheres e os filhos”, diz Julieta Dias, que no próximo
sábado, com a teóloga Teresa Toldy, intervém num debate sobre Jesus, Mulheres
e Igreja, promovida pelo movimento Nós Somos Igreja (Convento de São
Domingos, Lisboa, 16h). Isabel Gómez Acebo ironiza: “Quem cozinhou na noite
da Última Ceia? As mulheres.”
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Jesus e o feminismo
(Marilyn Adamson, revisado por Érica Reis)
Opiniões feministas têm, frequentemente, criticado as diversas
religiões devido à maneira como as mulheres são tratadas. E elas estão
absolutamente certas. Ilustrações de abuso religioso podem ser citadas nos
Estados Unidos, bem como internacionalmente. O que muitas opiniões feministas
não levam em consideração é que Jesus teria sido um dos maiores aliados dos
feministas.
Olhemos para a cultura do Oriente Médio, onde Jesus viveu. Rabinos
judaicos iniciavam todos os encontros no templo com as seguintes palavras,
“Bendito sejas Tu, Senhor, porque Tu não me fizeste mulher”. As mulheres eram
excluídas da vida religiosa e raramente lhes ensinavam a Torá em privacidade.
Até que Jesus começou publicamente a incluir muitas mulheres como suas
discípulas, o que enfurecia os líderes religiosos. Ele ensinou multidões de
homens e mulheres, curou e, prontamente, operou muitos milagres tanto em meio
aos homens quanto às mulheres.
Jesus também desafiou as leis sociais em relação a ambos os sexos.
Naquele tempo, existia uma lei que permitia o marido divorciar-se da sua
esposa por qualquer coisa, por exemplo, pelo fato do jantar não estar pronto
a tempo. Imagine a insegurança e a crueldade que essa lei trazia às mulheres.
E, como você já deve prever, a esposa nunca poderia se divorciar do marido.
Jesus, no entanto, anunciou que ambos, homens e mulheres, tinham o direito de
se divorciar um do outro, mas somente em caso de adultério e mesmo assim
ensinou que o divórcio, certamente, estava fora da maneira como Deus criou o
casamento pra ser.
Outra lei social dos dias de Jesus era que a mulher que fosse pega em
adultério deveria ser apedrejada até a morte. Ao homem, no entanto, não era
reservado qualquer pena. Sabendo da maneira como Jesus tratava as mulheres
com dignidade, eles queriam saber como Jesus lidaria com isso. Então, certo
dia, vários homens arrastaram uma mulher, que foi pega na cama com um outro
homem, que não seu marido, provavelmente um amigo deles, até Jesus. E
desafiaram Jesus a consentir com o apedrejamento dela. Eles sabiam que tinham
colocado Jesus contra a parede. Se ele desse perdão àquela mulher, ele seria
um fraco e um inimigo da lei. Se Jesus a apedrejasse, eles confrontariam o
tratamento respeitável com o qual Jesus tratava as mulheres e seus
ensinamentos sobre misericórdia e perdão.
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Atitude de Jesus
para com as mulheres
Miguel Ángel Núñez
Sua vida na terra
foi breve – somente 33 anos e meio. Seu ministério foi ainda mais breve –
apenas três anos e meio. Mas ninguém, com sua vida e ensinamentos, impactou
tanto a história de uma maneira tão intensa quanto Jesus. O que Ele ensinou e
o que fez alterou o curso da história e dramaticamente mudou e continua
mudando milhões de vidas ao redor do mundo. Seus ensinamentos têm afetado cada
aspecto da vida – religião, educação, trabalho, ética, saúde, justiça social,
desenvolvimento econômico e as muitas artes e ciências do viver humano.
Uma faceta da
missão de Jesus que é menos conhecida, mas digna de ser recapitulada, é Sua
atitude para com as mulheres. Isto é particularmente importante à luz de como
o mundo na época de Jesus tratava as mulheres. Romanos e gregos, judeus e
gentios, davam às mulheres nada mais que a segunda classe, como se elas
fossem prestativas ferramentas em uma sociedade de domínio machista –
cozinhar, dar à luz e criar as crianças e desempenhar qualquer função que
lhes estivesse designada dentro das paredes de sua casa. Casos individuais de
liderança e valentia se destacam em vários lugares, mas muitas mulheres
estavam sob o domínio dos homens. Elas eram consideradas uma propriedade,
transferida de pai para marido.
Em um mundo como
aquele, Jesus veio e abriu novas perspectivas de igualdade e dignidade
humanas. Ele se opôs às tradições e procurou direcionar os homens e as mulheres
de volta ao plano original de Deus para a humanidade.
Este artigo revê
brevemente a atitude de Jesus para com as mulheres em Seus ensinamentos e
ministério que contrastou com as atitudes em relação à mulher no primeiro
século da sociedade judaica.
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