quarta-feira, 7 de setembro de 2016


Os Motobois e as Motovacas


 

PRECAUÇÃO


Tenho grande admiração por esses companheiros e companheiras que arriscam diariamente suas vidas ao fazer tarefas de escritório em troca de mixarias. Enfrentam o trânsito faça sol ou faça chuva (quando usam aquelas proteções de plástico que devem ser quentes à beça). Não é gozação, que deixa rastro de ódio, é brincadeira para eles rirem também e aliviarem suas vidas.
A palavra motoboy (no inglês, “rapaz da motocicleta”) se presta a isso em português.

Os motobois e as motovacas usam produtos do Boiticário, passeiam de boicicletas na Praia de Camburi, bebem nos boitecos. Fazem boichechos quando estão com problemas estomacais, quando se destemperam são boicudos e falam palavrões. Quando suam ficam com boidum e se ficam com raiva mesmo tão boifetes. Alguns são boitafoguenses, outros vão nas boiadas da existência, uns já viram o boitatá, uns sabem boiar. Uns quando acham que estão ganhando ainda menos fazem boicote. Uns ficam gordos como bois-gordos, uns vão ver o boi-bumbá. Uns abandonam tudo e vão ser boinas-verdes. Uns vão ficar nos boiteis, uns são boizinhos e levam chifre como todo mundo. Uns, não tendo como fazer regularmente as refeições, comem boilachas; outros enfrentam os boirrachudos. Uns, de tanto andar, ficam com boilhas nos pés. Uns jogam futeboi e outros não. Uns são boicheviques e outros não, uns gostam de boiliche e outros não, uns apreciam boilinar as manas e outros não.

Enfim, eles boiam, como quase todos nós, na superfície da vida.

MOTOBOYS


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http://blogalize.net/wp-content/uploads/2010/06/motoboys.jpg
http://blogs.estadao.com.br/jornal-do-carro/files/2007/09/motoboy_01.jpg
http://www.megafone.net/SAOPAULO/canales/cleyton/imagen/imagen14.jpg

Arriscam-se passando nos corredores entre os carros em fez de ficar na faixa como todo mundo; querem agradar a seus patrões e correm riscos desnecessários com tanta pressa, pois lhes pagam um tiquinho a mais para “chegar rápido” e fazer diariamente mil tarefas.

Estão sempre na frente nos sinais para arrancarem na frente. De vez em quando se esborracham e poucos choram por eles, dentre esses nenhum ingrato. Seus serviços não são notados pela coletividade, que deles reclama.
Serra, domingo, 25 de março de 2012.

Os Cinco Sentidos

 

Eles eram cinco e saíam todo dia para o Happy Hour antes de ir cada qual para as respectivas famílias, eram todos casados.

Nesse dia o João estava mal e quando digo mal é mal de verdade, mal MESMO, nem as piadas tradicionais ou as novas o acordavam do torpor.

- O que cê tem, João?

- Tô mal, não tô legal, tô meio sentido com uma coisa que aconteceu.

Alguém brincou, pra ver se melhorava o humor dele.

- Ih, zentem, o João está sentidinho, que gracinha.

Nem isso ajudou, João continuou mal. Ficaram ali mais uma hora das três ou mais que eram tradicionais e foram para suas casas. Ficaram todos num mau-humor danado, ácidos, o de um contaminou todo mundo, saiu todo mundo bicudo e chutando lata.

No dia seguinte tinha tudo voltado às boas, mas dois meses depois foi a vez do Zeca.

Saltando tempo, todos foram passando por uma coisa assim, mas persistiam, os cinco. Veio uma fase de bonança, eles rememoraram, ficaram horas falando de como cada um tinha “ficado sentido”, que coisa mais brega e mais florzinha, tá me estranhando?

Aí, fatalmente, sendo cinco não tardou fazerem graça com os “cinco sentidos”, esses corporais-mentais externinternos. Os cinco sentidos do corpo: visão, audição, paladar, olfato, tato. Quem seria a boca? Quem seria olho? Lembraram-se da revista, depois filme, V de Vingança, conversaram sobre muitas coisas. Chegaram à conclusão de que os sentidos vinham sendo mal-explorados. Pensando na curva do sino, há um lado bem ruim do qual ninguém quer se aproximar e há 2,5 % de excelência – como fazer para proporcionar aos outros 39 em 40 algo da experiência superior? E se colocassem loja para a qual fossem trazidas as melhores coisas de todo o planeta, sem qualquer preconceito? Não que fossem deixar suas tarefas principais, tudo demorava quatro anos para amadurecer e também eles não queriam brigar uns com os outros, melhor é a amizade, vamos contratar alguém como gerente.

Nem era o caso de afrouxar, afinal de contas ainda que não esgotasse, seria um bom capital, multiplicado por cinco. Falta não faria a nenhum deles, todos bem-sucedidos em seus ramos respectivos, era mais o caso de ser cuidadoso.

Como explorar os cinco sentidos ao máximo?

Como oferecer as melhores de todas as experiências mentais mundiais? Os 40x? Ora, bolas, onde estavam essas melhores entre todas as experimentações? Não se tratava de excessos, de drogas, só as experiências legítimas.

Como não existia nada de semelhante (exceto - mais modestamente e não dirigido - na Playboy revista) no mundo, imediatamente eles se tornaram famosos, o que ajudou seus negócios isolados. A par do bar-restaurante onde eram indicados os lugares a ir, os livros a ler (com base naqueles 1.000 de todo tipo, também com consultores), eles colocaram revista justamente com esse nome Os Cinco Sentidos. Franquearam o bar a 4 %, criaram camisetas, patrocinaram shows. A imprensa divulgou e nem foi preciso pagar, pois os editores eram clientes.

Acumularam conhecimento, colocaram consultoria para executivos estressados em longas negociações. As empresas ficavam felizes em pagar, esses homens e mulheres lhes davam lucros de milhões, de dezenas de milhões, de centenas de milhões – e, no final de tudo, quem pagava era o acionista.

Colocaram empresas de turismo, com excursões especialíssimas por todo mundo custando verdadeiras fortunas, inclusive o trem indiano com passagem de 1.200 dólares POR DIA.

Descobriram tantas vertentes que foi realmente sucesso total.

E continuaram com toda simplicidade indo ao Happy Hour, hora cada vez mais feliz.

E assim nunca mais ficaram sentidos com os aborre-cimentos.

Serra, quarta-feira, 04 de abril de 2012.

Os 12 Trabalhos de Hércules


 

Hércules era um cara parrudo lá de Gurigica de Dentro. Grande MESMO, vou te contar. Embora eu tenha 1,85 m, aquele cara me intimidava: 2 x 2 x 2. Dois metros de altura por dois de largura e dois de profundidade. É claro que estou exagerando, mas se você visse o cara procuraria sair de fininho.


Uma vez ele foi servir de juiz num amistoso em Santo Antônio, os dois times tavam fazendo arruaça, ele grudou um capitão com cada braço, arrastou pra beira do campo e falou pra eles: “vocês não vão querer me ver brabo”. Depois disso foi tudo tranquilo, uma beleza de jogo. Fluiu tranquilo, macio que só ele.

Quando ele bebia era logo um barril, um barril pequeno, não era o de 50 litros, claro que não, até pra ele seria muito.

Vida extraordinária.

Contando ninguém acredita.

Primeiro ele deu uma chave de braço no Leão que quase quebrou o pescoço dele, ficou enfaixado mais de mês com aquelas talas de imobilização, o pobre do moço ficou com o pescoço duro.

Depois a Lerna o convidou para consertar o hidrômetro da casa dela, ele não entendia direito do assunto, ficou bravo, deu um tranco e arrancou o hidrômetro da Lerna.

Depois ele perseguiu a Celinha mais de dois quilômetros e ela corria pra caramba! Uma massa enorme daquela atrás de uma moça novinha, 19 anos, não sei como o coração dele não explodiu. Deu uma “coça” nela, de brincadeirinha, porque apesar de grande ele era amoroso com as mulheres.

Mais tarde uns anos fomos caçar na fazenda do Armando, veio um porco do mato (sabe aqueles parecidos com javali?) pro lado dele e foi uma porrada só, o bicho tombou de uma vez por todas. Nunca vi coisa nem parecida, se eu não estivesse lá teria duvidado. Só acredito porque vi.

O Armando ficou bravo pra caramba e mesmo comendo o bicho numa festa logo em seguida exigiu que o Hércules limpasse o curral dos bois, não sei quantos milhares de animais mijando e cagando um tempão, era de arrepiar, coisa de dar nó nas tripas. O Hércules tava no auge, era um rei, um rei no auge, poderoso, deu conta.

No lago defronte matou centenas de urubus que viviam em volta do matadouro do Armando. Só na pedrada, tinha uma pontaria formidável e fazia as pedras irem lá no alto, não teve pra ninguém, competência total.

O sétimo trabalho que deixou ele famoso foi tirar aquele touro da greta. O bicho estava furioso, ninguém conseguia nem se aproximar, ele foi lá e deu-lhe um tapão, o bicho amansou na hora, ele amarrou o cabresto e veio puxando o animal mansinho.

Houve aquele tal de Diomedes do morro vizinho - rei da droga, como era conhecido - que se meteu a besta com ele, que faria e aconteceria confiante nos capangas que passavam fogo em toda a boca do fumo; não teve outra, Hércules acertou o nariz dele, o otário foi parar na UTI, ficou em coma seis meses, quando saiu ninguém queria nada com ele.

Tinha umas mulheres enormes na região, As Manzonas, que lutavam queda de braço ou braço de ferro e acharam que podiam com o Hércules, pobres delas, pelo menos três saíram com os braços estraçalhados, depois queriam processar o Hércules, mas nada a ver, os próprios advogados disseram que não.

Esses desafios começaram a acontecer cada vez mais, porque a fama do Hércules corria pela cidade. Certo Cérion se achava um gigante, achou que podia com o Hércules, desafiou-o, foi derrubado, teve três costelas partidas, envergonhado mudou até de cidade, deixou o cabelo crescer, assim como a barba, está irreconhecível.

O 11º trabalho foi trazer o cachorrão Cérebro do cemitério, o mundo dos mortos. Foi risível, pois o cachorro amedrontador quando viu o Hércules começou a ganir, deitou no chão, acho que o pessoal batia nele, é revoltante. Hércules o adotou e ele ficou mansinho, é o xodó da casa (imagine que Hércules teve vários filhos e filhas, todos enormes), mais de 110 kg, Hércules pega “a criaturinha” (é como ele diz, tão castiço) no colo, é de amolecer o coração.

Para terminar, ele foi um dia roubar laranjas maduras amarelinhas (verdadeiros “pomos de ouro”) nos quintais de várias ex-perdidas, várias putas que se cansaram da vida fácil e criaram um condomínio “familiar” tentando se regenerar perante a sociedade. O caseiro o colocou para fugir com tiro de sal, o que envergonhou o Hércules, agora já pai de vários filhos adultos. A Celinha, dona Célia, puxou literalmente as orelhas dele e ele finalmente aquietou o facho. Subiram o morro de criaram uma chácara chamada O Limpo no alto dos morros no ES, lá pelos lados de Domingos Martins, mas ainda não fui lá.

Serra, terça-feira, 10 de abril de 2012.

 

AQUELOUTRO


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTxk_p5SfEa9M21waGEsmY8J0X450OiOCwqzM6GqDKLxU8LIsceO6TWxVX__jtv0-iSo2RJthCLpTfyjM4lJ1PsY31LdyNFZY_g9CG0rovUkgQgBlHO-IH_jWeUiJgzGxViS5ej0A-O_8/s640/H%C3%A9rculesDozeTrabalhos.jpg
A ordem tradicionalmente aceita, encontrada em Pseudo-Apolodoro[5] é:
1. No Peloponeso, estrangulou o Leão de Neméia - filho dos monstros Ortro e Equidna - que devastava a região e que os habitantes do local não conseguiam matar.

Oficina de Achômetro

 

Jorginho estava agoniado porque os aparelhos de afinação tinham quebrado e os “eu acho” não estavam podendo ser afinados. A aceitação dos cientistas/técnicos ia de 100 a 75 %, a dos filósofos/ideólogos de 75 a 50 %, a dos teólogos/religiosos de 50 a 25 %, a dos magos/artistas de 25 a 00 %, invenção total que nem queria se parecer com verdade.

Dentre os artistas havia os prosódicos fixados na ficção dita científica que precisavam fazer as letras parecerem científicas ou pelo menos técnicas, porisso queriam seus parecerômetros bem afiados.

Jorginho estava todo sem graça, clientes de anos, dois ou três até de décadas, mas que azar danado! Acontecer logo agora que os romancistas querem fazer seus textos parecerem história! Chamam de “romance histórico” depois de passar pela oficina, serão seria só invencionice.

Era a falta de graça da falta de graça. Os artistas das letras estavam usando muito os aparelhos para dar seriedade às suas invenções histriônicas e com isso sobrecarregaram os instrumentos sérios da oficina, puta merda!

Por exemplo, os tecnocientistas não queriam dizer “eu acho”, iam à oficina do Jorginho e saíam de lá com teorias científicas ou pelo menos provas, teoremas, lemas, corolários. Transformar “eu acho” em teoria científica sem o “achômetro” para graduar era um “o” para conferir, o “o” do borogodó, uma coisa de doido, Jorginho porejava, a testa dele despejava cataratas de água, era dureza.

Sem o “achômetro” era obrigado a usar o parecerômetro dos artistas, com resultados deploráveis para os conhecimentos altos.

Os tecnocientistas não poderiam ficar no “eu acho”, tudo devia ser tido como verdadeiro. Imagine se o Aquecimento Global fosse tido apenas como “eu acho”? E tantas e tantas vezes que o “eu acho” fora convincentemente posto de lado? Tudo trabalho da oficina do Jorginho. E todas aquelas vezes que os T/C disseram taxativamente que iria acontecer isso e aquilo, não acontecia, mas aí já era outra geração e tudo era esquecido? Se não fosse pelo achômetro do Jorginho nada daquilo teria sido possível, tudo teria desmoronado.

ESQUECIMENTO GLOBAL (tantas coisas afirmadas como verdadeiras!)

 
 
 
 

Jorginho estava passado!

E não era apenas no Brasil. Só que no estrangeiro os achômetros eram de melhor qualidade, mais bem afinados e tudo parecia mais verdadeiro e mais difícil de contestar.

Serra, terça-feira, 10 de abril de 2012.

O Senhor Tótal

 

AMOCIM LEITE, PREFEITO DE SÃO MATEUS, ES

O agora falecido Amocim chamou a secretária.
- Dona Rosa, peguei a folha de pagamento e fui percorrendo, meu nome é um dos primeiros e sou dos que ganham mais, os outros ganham menos.
DONA ROSA – beeem menos, prefeito.
- Pois estão, fui descendo e cheguei ao seu nome, vi que a senhora ganha um tiquinho.
DONA ROSA (aproveitando para alfinetar) – beeeeeem pouquinho, Dr. Amocim.
- Não vamos falar disso agora. O caso é que cheguei ao último e esse tal de Tótal é o que ganha mais, mas nunca o vi por aqui, onde ele trabalha? Ele ganha muito mais que eu, como pode isso?

Pois bem, esse Senhor Tótal não aparece muito (nem na Prefeitura de São Mateus) meramente porque tem vários subordinados e uma parentada incrível. Inclusive emprega os parentes (na empresa privada não é nepotismo se for empresa familiar).

Tem a Soma Tótal, que é a mãe, mas trabalha na firma.

Tem o Tótal Todo, que é primo, porém muito mais rico.

Soma Parcial é sobrinha da mãe, é empregada.

Há o Tótal Parcial, o primo pobre, também empregado.

Há a parentada da mãe, Primeira Soma, Segunda Soma, Terceira Soma e por aí vai, interminavelmente, a mãe dele quer que empregue, ele diz que não, que desse jeito a firma vai falir, é muita gente. Você nem acredita quantas são, se reunir todas as Somas não cabe nesta sala.

O Tótal Geral, esse é riquíssimo, contudo menos que o Tótal Todo. Os primos se deram bem pra caramba, não querem saber do Tótal, que vive telefonando pra eles para pedir uma bocada. Eles nem ouvem.

A tia Pequena Soma é carente, a mãe leva coisas pra ela na cesta básica de valores com a ajuda da outra irmã, a Grande Soma bem de vida, pão-dura que só ela, eita!

O Senhor Tótal faz o que pode para ajudar a família. Nem tudo tem jeito, alguns devem ficar mesmo de fora.

Não dá para agradar a todos.

Nem tudo é soma.

Serra, segunda-feira, 09 de abril de 2012.

O Martelo de Thor

 

ALTO FALHO (os olimpianos devem com muito maior razão vigiar os atos dos filhos e filhas)

03/2012
Filho de Eike Batista se envolve em acidente de carro na Baixada Fluminense
Thor Batista, 20 anos, é acusado de atingir e matar um ciclista em Duque de Caxias
http://www.carrosemotores.blog.br/wp-content/uploads/2012/03/Carro-Mclaren-SLR-foto-imagem-acidente-Thor-Eike-Batista.jpg

O filho de Eike Maravilha, filho de Odin, presidente das companhias estatais do Olimpo, portanto, um dos asgardianos teve um filho e lhe deu um carro superpoderoso, a última moda, conhecido como Martelo de Thor, pois se batesse arrasaria tudo.

Era uma carruagem bem possante e andava pela Vila Flúmina a altas velocidades, quem estivesse na frente que saísse a tempo. Como não poderia deixar de acontecer, o Martelo de Thor bateu num rapaz das laterais, um impudente que imprudentemente ficou na frente.

Como relações públicas do Olimpo é minha tarefa diminuir os danos. Claro que o mortal foi bem tratado pelos médicos do Senhor dos Raios e passa bem. Também foi indenizado e convidado a trabalhar numa das filiais das empresas de Eike, o qual desceu das regiões superiores para ir ver o rapaz e sua família, garantindo amplamente a sustentação deles e agregando-os às soluções. Pôde dispensar 15 minutos de seu precioso tempo a essa tarefa.

Quanto a mim, tenho de falar à imprensa.

Que dizer?

Em primeiro lugar, acidentes acontecem, acontecem o tempo todo.

Acontecem nas melhores famílias.

Ademais, há as propagandas das empresas...

Serra, segunda-feira, 02 de abril de 2012.

O Maníaco do Parque


 

Monomania, é como se chama isso.

Mania de uma coisa só, uma ideia só, pregada na cabeça.

MONO-MANIA (no Houaiss eletrônico)

Substantivo feminino
1      Rubrica: psiquiatria.
Forma de loucura em que um único pensamento ou ideia absorve a mente do indivíduo
Ex.: m. da perseguição
2     Derivação: por extensão de sentido.
Ideia fixa; obcecação
MONO
Radical grego, um só
MANIA
Substantivo feminino
1        prática repetitiva; costume esquisito, peculiar; excentricidade
Ex.: m. de deitar-se sempre do lado direito
2       gosto ou preocupação excessiva com
Exs.: m. de esportes
m. de segurança
3       alvo desse gosto ou fixação
Ex.: colecionar figurinhas é m. infantil
4       costume nocivo, prejudicial; vício
Ex.: pegou a m. de mentir
5       Rubrica: psicopatologia.
Quadro mórbido caracterizado por euforia desmotivada, sentimento de bem-estar físico ilimitado e hiperatividade, com aumento de excitabilidade e de irritabilidade
6       Rubrica: psicopatologia. Diacronismo: obsoleto.
Termo geral us. para a alienação mental (p.ex., monomania) devido à excitação
MANÍACO
Adjetivo
1      relativo a mania
Ex.: comportamento m.
Adjetivo e substantivo masculino
2     que ou aquele que tem interesse apaixonado e exclusivo ou preocupação exagerada com; que ou aquele que é obcecado por (algo)
3     que ou aquele que tem hábitos extravagantes, bizarros, por vezes ridículos; excêntrico
Exs.: m. por ópera
m. por limpeza
Indivíduo m.
4     Rubrica: psicopatologia.
Que ou aquele que revela sintomas de mania

Pois bem, está bem caracterizado: aquele cara era maníaco. Tinha outro que conheci que só falava de canastra, o jogo de baralho, sabia tudo de canastra, só aquilo, só tinha aquele papo, não falava de outra coisa, o mundo se resumia às canastras. Ele dizia que ganhava todas, mas a pessoa que sabe mais de teoria sobre reatores nucleares não é o melhor construtor, é? Nem sempre o melhor teórico é o melhor prático.

Esse outro era jogador de xadrez, sabia tudo de xadrez, levava o tabuleiro dele para o parque e queria porque queria jogar o tempo todo. Naturalmente ganhava muitas porque só vivia praquilo, dormia em cima do tabuleiro no parque e em casa, de onde, por sinal, a mulher o expulsava, porque ele queria jogar com ela e ela não podia fazer o dever de casa. Ou queria jogar com as crianças e elas não podiam fazer o dever escolar, as tarefas educativas passadas para as horas de folga, dentro do princípio pedagógico da tortura letrada.

Que enjoo que era!

Bom, cada qual tem suas manias, mas em cada caso são várias, eu mesmo tenho várias, mas não fico numa só, não me especializo em uma boçalidade só, sou boçal em várias coisas, todo mundo tem preferências. A Imelda Marcos tinha três mil pares de sapatos, se usasse um por dia demoraria 10 anos para repetir o primeiro. Lady Didi tinha a dela, a Josefina do Napoleão era doidinha com vestidos, tem gente que coleciona tampinhas, outros selos, outros, armas e por aí a fora, cada doido com suas manias, mas não UMA, uma só não é bom, é doideira concentrada, no índice de doideiras de 1 a 100 ficar perto de 100 já é muito agudo, eu, hem?

As pessoas já estavam até evitando o parque porque se entrasse lá, já vinha o sujeito todo pressuroso agarrar seu braço, “vamos uma partidinha?” E você sabe que partida de xadrez, mesmo se mal jogada, jogada com displicência demora muito e ninguém queria perder, ainda mais que ele charlava, contava pra todo mundo. Que é que é isso, minha gente? Perder pra doido também não! E as pessoas se esforçavam, por vezes cada partida durava horas, quando a pessoa sabia alguma coisa. Era o dia inteiro, todos os dias, lá estava ele, expulso pela mulher, domingo a domingo, não faltava um dia.

Certo dia esse cara ficou doente, passou mal.

E não é que as pessoas passaram a ir à casa dele?

Aquele silêncio assombrado no parque, o parque normalmente quase vazio, aquele silêncio enorme, dava para ouvir os grilos andando no chão, sem falar no estridular. As pessoas até voltaram ao parque, mas havia aquele constrangimento, ficaram com remorso de terem se afastado, todo mundo mudo, aquele silêncio altamente constrangedor. Foi um, que informou o endereço ao outro e assim foi passando. Ele era um chato, tá certo, mas um chato que fazia falta. Como disse a Clarice Lispector com outras palavras, “a falta é a arte”, quer dizer, tanto só fazemos arte na falta, porque a arte é o profundo de nós se manifestando, é o parto da dor, da falta, quanto porque a falta nos faz ultrapassar – a presença dele doía, mas a ausência dele doía mais.
Serra, domingo, 01 de abril de 2012.