sábado, 14 de outubro de 2017


A Prancheta Ilimitada


 

                            Há lá em casa uma prancheta dessas antigas de estudante de engenharia que é como outra qualquer, trivial. Contudo, estava deitado meditando e pensei nas reais dimensões dela. O aglomerado de que é feita a cobertura foi elaborado por máquinas complexas num demorado processo, de que cuidam os trabalhadores vindos todo dia de longe, tomando ônibus. É cortado com extrema precisão por outras máquinas também complexas. Os trabalhadores são alimentados no restaurante da companhia, que por sua vez é conjunto complicado de programáquinas. Os alimentos vêm de longe, da agropecuária atual muito mecanizada que adota várias posturas avançadas. Os canos são feitos em siderúrgicas e dobrados em metalúrgicas. A composição deles está longe de ser simples, como era antes na Idade Média, digamos. Professores universitários, engenheiros e técnicos os estudam quanto ao conteúdo e quanto à dobradura de forma. A composição do metal foi demoradamente estudada para que o cano comportasse o mínimo de material com o mínimo de energia gasto para modelagem.

O plástico que cobre a tampa é a ponta de uma antiga busca e poderíamos continuar a análise indefinidamente, passando de processo a processo, de objeto a objeto, numa árvore de ilimitadas derivações. Quanto mais fôssemos olhando mais galhos veríamos ligando-se uns a outros, sem qualquer limite. De fato, de onde quer que partíssemos chegaríamos sempre a ELI, Ela/Ele, Natureza/Deus, ao extremo, ao incompreensível, pois tudo está ligado ao princípio do universo. Se partíssemos de uma vulgar borracha retornaríamos a Deus, pois o universo inteiro deságua em cada coisa particular, em todas e cada uma.

                            A prancheta é ilimitada porque tudo é.

                            Tudo leva de volta ao começo porque é um círculo de criação.

                            Tudo se liga ao Big Bang.

                            As pessoas em geral nem se dão conta da riqueza que está disponível para todas e cada uma delas.

                            Vitória, segunda-feira, 18 de julho de 2005.

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