Uma Estátua para
Bacon
No livro já citado
de Lou Marinoff, p. 84, ele diz de Francis (não confundir com o Roger) Bacon:
“(...) o foco de Bacon no conhecimento empírico fincou os alicerces de uma nova
maneira de experimentar – e fazer experimento com – o mundo”. E mais abaixo:
“Ele afirmava que tanto a experiência quanto a razão eram necessárias para se
conhecer o mundo. O mundo tem uma dívida de gratidão com Bacon por ele nos ter
dado o método científico”, citando Bacon: “O conhecimento humano e o poder humano
são um só, pois onde a causa não é conhecida, o efeito não pode ser produzido.
A natureza, para ser comandada, deve ser obedecida... A sutileza da natureza é
muitas vezes maior que a sutileza dos sentidos e da compreensão”.
Vamos por partes.
PARTE UM
·
O
conhecimento não-empírico [empírico no Aurélio Século XXI digital: Adj. 1. Relativo ao, ou próprio do empirismo. 2. Baseado apenas na experiência e, pois, sem
caráter científico. 3. Derivado de
experimento ou de observação da realidade.
4. Filos. Diz-se de conhecimento que provém, sob perspectivas diversas,
da experiência. (Cf., nesta acepç., racional)] , teórico, se tornou abusivo
depois de uma certa quantidade de séculos seguindo sua trilha. Como tudo é
ciclo, diz o modelo, é como se fosse uma senóide (ou uma cossenóide; depende de
onde começa), há altos e baixos; o conhecimento experimental se tornará
abusivo, também. Não se trata de tornar preferencial um método ou outro, mas de
propor o equilíbrio salutar e crítico de ambos. Agora, ele ter colocado o foco
na experiência nos deu alguns séculos de prosperidade, porque nos afastou do
excesso de introspecção bizantina. Isso foi bom, isso foi precioso.
PARTE
DOIS
·
Claro,
tanto uma quanto a outra, tanto a experiência quanto a razão. Porque a experiência
é a razão exterior e a razão é a experiência interior, íntima, no
mundo-introjetado, representado, muito econômico (mas também muito sujeito a
erros). E foi realmente Bacon que desenhou o método para nós, não Galileu nem
Descartes
PARTE
TRÊS
·
Uma
tradução do dito de Bacon (“onde a causa não é conhecida, o efeito não é
produzido”) seria ONDE A CAUSA É CONHECIDA, O EFEITO É PRODUZIDO; e onde a
causa é superconhecida, até as profundezas últimas, os efeitos todos são
superproduzidos (com perfeição). Realmente, nosso tempo foi de aprimoramento
constante.
Assim, por vários motivos, Bacon
merece uma estátua, enquanto investigador (ainda não existia a palavra
cientista, nem ele se reconheceria nela).
Por outro lado, foi socialmente um
pérfido, um sujo.
Então, minha sugestão é que sua
estátua tenha uma grande cabeça, com um corpo minúsculo; ou um lado grande e
outro pequeno, para denotar nossa dupla natureza (não pense que o julgamento é
só sobre ele – todos nós cometemos erros -, no fundo a estátua é da humanidade
inteira).
Vitória, quinta-feira, 29 de julho de
2004.
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