sábado, 8 de julho de 2017


Uma Estátua para Bacon

 

                            No livro já citado de Lou Marinoff, p. 84, ele diz de Francis (não confundir com o Roger) Bacon: “(...) o foco de Bacon no conhecimento empírico fincou os alicerces de uma nova maneira de experimentar – e fazer experimento com – o mundo”. E mais abaixo: “Ele afirmava que tanto a experiência quanto a razão eram necessárias para se conhecer o mundo. O mundo tem uma dívida de gratidão com Bacon por ele nos ter dado o método científico”, citando Bacon: “O conhecimento humano e o poder humano são um só, pois onde a causa não é conhecida, o efeito não pode ser produzido. A natureza, para ser comandada, deve ser obedecida... A sutileza da natureza é muitas vezes maior que a sutileza dos sentidos e da compreensão”.

                            Vamos por partes.

                            PARTE UM

·       O conhecimento não-empírico [empírico no Aurélio Século XXI digital: Adj.  1. Relativo ao, ou próprio do empirismo.  2. Baseado apenas na experiência e, pois, sem caráter científico.  3. Derivado de experimento ou de observação da realidade.  4. Filos. Diz-se de conhecimento que provém, sob perspectivas diversas, da experiência. (Cf., nesta acepç., racional)] , teórico, se tornou abusivo depois de uma certa quantidade de séculos seguindo sua trilha. Como tudo é ciclo, diz o modelo, é como se fosse uma senóide (ou uma cossenóide; depende de onde começa), há altos e baixos; o conhecimento experimental se tornará abusivo, também. Não se trata de tornar preferencial um método ou outro, mas de propor o equilíbrio salutar e crítico de ambos. Agora, ele ter colocado o foco na experiência nos deu alguns séculos de prosperidade, porque nos afastou do excesso de introspecção bizantina. Isso foi bom, isso foi precioso.

PARTE DOIS

·       Claro, tanto uma quanto a outra, tanto a experiência quanto a razão. Porque a experiência é a razão exterior e a razão é a experiência interior, íntima, no mundo-introjetado, representado, muito econômico (mas também muito sujeito a erros). E foi realmente Bacon que desenhou o método para nós, não Galileu nem Descartes

PARTE TRÊS

·       Uma tradução do dito de Bacon (“onde a causa não é conhecida, o efeito não é produzido”) seria ONDE A CAUSA É CONHECIDA, O EFEITO É PRODUZIDO; e onde a causa é superconhecida, até as profundezas últimas, os efeitos todos são superproduzidos (com perfeição). Realmente, nosso tempo foi de aprimoramento constante.

Assim, por vários motivos, Bacon merece uma estátua, enquanto investigador (ainda não existia a palavra cientista, nem ele se reconheceria nela).

Por outro lado, foi socialmente um pérfido, um sujo.

Então, minha sugestão é que sua estátua tenha uma grande cabeça, com um corpo minúsculo; ou um lado grande e outro pequeno, para denotar nossa dupla natureza (não pense que o julgamento é só sobre ele – todos nós cometemos erros -, no fundo a estátua é da humanidade inteira).

Vitória, quinta-feira, 29 de julho de 2004.

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