Felicidades Mill
No livro de Lou
Marinoff, Mais Platão Menos Prozac
(A Filosofia aplicada ao Cotidiano), 5ª edição, Rio de Janeiro, Record, 2002
(sobre original de 1999), p. 95, ele diz de Mill (John Stuart; na Barsa digital
1999: No Reino Unido do século XIX, que se projetara como primeira nação
industrializada e cultuava o utilitarismo como ideologia suprema, o economista
e filósofo John Stuart Mill lançou as bases da revisão dessa doutrina e
dedicou-se ao estudo de numerosas questões sociais de seu tempo. ©Encyclopaedia
Britannica do Brasil Publicações Ltda.) que ele “foi um grande defensor da
liberdade individual em geral” e que ele
“achava que a única justificativa para se
coibir uma pessoa era impedi-la de fazer mal aos outros”.
Investiguemos esta frase.
Colocada a Vida
geral, coletiva, e a vida individual, e daí toda Vida/vida como preciosa e a
morte dela como detestável, por princípio máximo valor (só, para os religiosos,
abaixo do amor a Deus), evidentemente um guarda não poderia deixar de impedir
um criminoso de fazer mal aos outros, principalmente no caso de ameaçar suas
vidas. Do mesmo modo os governos deveriam ser impedidos de travar guerras,
porque isso leva à morte de tantos, mesmo se fosse para impedir outro governo
perverso de prosseguir em seus intentos (que, não obstante, não levam ninguém à
morte)? Como avaliar? Vale mais o impedimento do governo perverso à custa de
mortes que a continuidade da perversidade? E no caso de criança que está
sofrendo com doença e é obrigada pelo médico a submeter-se a tratamento, com
certo sofrimento presente, mas tendo em vista a tranqüilidade futura dela e da
família, preservando-a da morte e de dores intensas depois: deve o profissional
ser impedido de fazer o tratamento, que parece um mal à criança? O médico
inflige agonia, mas visando um bem; a criança não percebe isso e se recusa –
qual dos dois deve ser impedido? Veja que a criança não enxerga o futuro, só o
presente. Esse tipo de contraste pode ser posto entre governos e empresas,
entre empresas e trabalhadores e assim por diante.
Em resumo, se
fôssemos obedecer aos preceitos de Mill o mundo se tornaria uma confusão
extraordinária. E isso se dá porque SÓ UM pode se colocar na condição de centro
da esfera – todos os demais sendo apenas relativos a ele. Tudo é relativo,
menos o UM, o centro, que é absoluto. Então, só ele pode realmente julgar o que
é e o que não é “mal”. Nós apenas parecemos saber, mas não sabemos de fato.
Desse modo, nem Mill
nem ninguém é REALMENTE defensor da liberdade e sim advogado DE SEU CONCEITO
(utilitário) DE LIBERDADE, isto é, patrono de sua definição de liberdade. Em
outros termos, todos somos interesseiros. E, como tais, podemos ser
contestados. Inclusive Mill. Ele não era defensor da liberdade, de fato, era
defensor de sua classe e de seus conceitos.
Vitória,
quinta-feira, 29 de julho de 2004.
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