quinta-feira, 6 de julho de 2017


Felicidades Mill

 

                            No livro de Lou Marinoff, Mais Platão Menos Prozac (A Filosofia aplicada ao Cotidiano), 5ª edição, Rio de Janeiro, Record, 2002 (sobre original de 1999), p. 95, ele diz de Mill (John Stuart; na Barsa digital 1999: No Reino Unido do século XIX, que se projetara como primeira nação industrializada e cultuava o utilitarismo como ideologia suprema, o economista e filósofo John Stuart Mill lançou as bases da revisão dessa doutrina e dedicou-se ao estudo de numerosas questões sociais de seu tempo. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.) que ele “foi um grande defensor da liberdade individual em geral” e que eleachava que a única justificativa para se coibir uma pessoa era impedi-la de fazer mal aos outros”.

                    Investiguemos esta frase.

                            Colocada a Vida geral, coletiva, e a vida individual, e daí toda Vida/vida como preciosa e a morte dela como detestável, por princípio máximo valor (só, para os religiosos, abaixo do amor a Deus), evidentemente um guarda não poderia deixar de impedir um criminoso de fazer mal aos outros, principalmente no caso de ameaçar suas vidas. Do mesmo modo os governos deveriam ser impedidos de travar guerras, porque isso leva à morte de tantos, mesmo se fosse para impedir outro governo perverso de prosseguir em seus intentos (que, não obstante, não levam ninguém à morte)? Como avaliar? Vale mais o impedimento do governo perverso à custa de mortes que a continuidade da perversidade? E no caso de criança que está sofrendo com doença e é obrigada pelo médico a submeter-se a tratamento, com certo sofrimento presente, mas tendo em vista a tranqüilidade futura dela e da família, preservando-a da morte e de dores intensas depois: deve o profissional ser impedido de fazer o tratamento, que parece um mal à criança? O médico inflige agonia, mas visando um bem; a criança não percebe isso e se recusa – qual dos dois deve ser impedido? Veja que a criança não enxerga o futuro, só o presente. Esse tipo de contraste pode ser posto entre governos e empresas, entre empresas e trabalhadores e assim por diante.

                            Em resumo, se fôssemos obedecer aos preceitos de Mill o mundo se tornaria uma confusão extraordinária. E isso se dá porque SÓ UM pode se colocar na condição de centro da esfera – todos os demais sendo apenas relativos a ele. Tudo é relativo, menos o UM, o centro, que é absoluto. Então, só ele pode realmente julgar o que é e o que não é “mal”. Nós apenas parecemos saber, mas não sabemos de fato.

                            Desse modo, nem Mill nem ninguém é REALMENTE defensor da liberdade e sim advogado DE SEU CONCEITO (utilitário) DE LIBERDADE, isto é, patrono de sua definição de liberdade. Em outros termos, todos somos interesseiros. E, como tais, podemos ser contestados. Inclusive Mill. Ele não era defensor da liberdade, de fato, era defensor de sua classe e de seus conceitos.

                            Vitória, quinta-feira, 29 de julho de 2004.

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