sábado, 1 de julho de 2017


Eu Que Bebi de Todo Aquele Cansaço

 

                            PEGUEI UM PARA REPRESENTAR (na Barsa digital 1999)

Alceu Amoroso Lima: Crítico literário e pensador católico que sempre se envolveu com a política e as questões sociais, Alceu Amoroso Lima partiu de uma posição muito conservadora para chegar ao fim da vida como um intelectual progressista, em luta contra as transgressões à lei e a censura que o regime militar de 1964 iria impor ao Brasil. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

                            O fato é que nós bebemos como leitores, como espectadores, como qualquer um que se beneficia do trabalho dos escritores e outros que trabalharam por todos e cada um, daquelas longas horas trabalhadas. Não bebemos do suor dos que se divertiram nas praias, nos bares, em todo lugar onde o prazer foi a recompensa somente de quem o teve.

                            Sempre e por toda parte aproveitamos o trabalho.

                            Todos esses livros que existem no mundo, as peças de teatro, as leis científicas achadas, a Matemática re-produzida, tudo isso veio dos corajosos que por anos e décadas nos deram diariamente uma dose de cansaço. Todo o prazer que foi tido ficou no passado, ao passo que todo cansaço alcançou o futuro. A soma é quase zero. Quase. O que nos dá futuro ou aptidão é o cansaço, o mourejar contínuo, a luta diária pela sobre-vivência. Nos programas de computador, nas pontes, nos prédios, em tudo que nos dá futuro está o cansaço de homens e mulheres dos quais e das quais o suor escorrido é a água que nos dá de beber e é o sal que nos alimenta.

                            A Alceu de Amoroso Lima e todos os que como ele e outros lutarem para produzir conhecimento novo, futuro novo, nosso agradecimento.

                            Vitória, domingo, 27 de junho de 2004.

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