domingo, 9 de julho de 2017


Cantinas Universitárias

 

                            Voltei à universidade depois de muitos anos, desta vez em matemática, cujas aulas se dão no IC-I (Ilha do Cercado); ali perto fica a cantina, que é a mesma construída lá por 1974, trinta anos atrás. É uma porcaria e, no entanto, na UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) estão uns mil e trezentos professores de todas as áreas, com certeza o maior conjunto de talentos do estado.

                            Só há um guichê que atende todos os pedidos. Formam-se filhas de 20 ou 30 pessoas ou mais, um amontoado, como sempre no Brasil, gente passando à frente, etc. O concessionário da exploração (!, veja só o nome; mas os preços são menores que nos outros lugares) não faz pesquisas de tempo, para separar os cafezinhos dos pedidos mais demorados, nem na venda nem no atendimento; não obstante a 50 passos de onde se encontra está o departamento de estatística. É certo que hoje os professores não fariam mais de graça, como teria acontecido na década dos 1970, mas mesmo assim, sendo para algo de dentro e cantina que atende a todos, decerto cobrariam pouco.

                            A cantina poderia ser circular, para atender vários setores do círculo, com os grupos se dirigindo a quatro, oito, 16 boxes de atendimento, o que fosse, conforme a quantidade de pedidos estimada na Curva dos Sinos ou das Distribuições Estatísticas ou de Gauss. A cantina poderia ser limpa, limpíssima, para dar exemplo, e não suja. Poderia ser um primor, mas de fato é mais um parto do desamor, monstro cuspido fora, vomitado, tendendo a durar pouco e ser destruído sem remorso nalgum futuro mais saudável. As obras do descuidado desamor não são duradouras (em se tratando de mais tempo).

                            Se desejássemos algo ainda mais alto pediríamos uma reforma geral pela arquiengenharia, com algum grupo (ou vários) se dedicando a remoçar e a embelezar o conceito geral, com o auxílio das tecnociências. Porque são cantinas universitárias, em tese atendendo a alguns dos futuros dirigentes do país. Como é que alguns se deixam cair tão baixo? Em 1970 o ES era um estado bem atrasado, as coisas eram modestinhas; agora o mundo avançou bastante, o ES bastante mais de onde estava – seria preciso prestar atenção a essas coisas.

                            Vitória, quinta-feira, 05 de agosto de 2004.

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