domingo, 2 de julho de 2017


Aqueles Gostosíssimos Atrasos do Campo

 

                            Meus parentes vivem em Burarama, distrito de Cachoeiro de Itapemirim; como quase todos lá são parentes, podemos dizer que é o “nosso distrito”.

                            Na Rede Cognata (Veja Livro 2, A Construção da Rede e da Grade Signalíticas), campestre = CMPST = A/TSD = ATRASADO, etc., e campo = CMP = A/TS = ATRASO, de modo que tudo combina mesmo.

                            Quando começou há 11 anos o movimento pró-Burarama, como já descrevi tantas vezes queriam tirar o curral da entrada do vilarejo, porque os citadinos de Vitória ficavam incomodados com o cheiro de bosta de vaca e de boi que, aliás, é tão bom. Fui contra, claro, porque cidades grandes há muitas, todas iguaisinhas, sendo 200 ou 300 mil no mundo, como estimei. As São Paulo da vida são inúmeras, todas crescendo e ficando cada vez maiores e sem características marcantes, enquanto as Burarama são todas diferentes, portanto únicas, distintas e distintivas de um modo de vida sem correrias e estresses. Ainda guardam certa pureza d’alma.

                            No campo as crianças podem correr, sendo soltas de manhã e pegas à tarde, ao passo que na cidade há milhares de perigos, de carros em alta velocidade a traficantes de drogas. No campo há animais soltos, sem peias; há pássaros em profusão voando; há espaços imensos que explorar, embora com cercas; e não há, evidentemente, tantas construções delimitando as vistas. Enfim, no campo há liberdade, um grau muito menor de restrições. No futuro o campo será muito valioso exatamente por conta dessas coisas listadas e tantas outras que seria cansativo colocar num artigo necessariamente curto.

                            Em resumo, o campo tem muitos valores.

                            É gostosíssimo ir lá, embora tão difícil viver, porque não se ganha tanto (para quê, também? É tudo ilusão, na cidade. Na realidade não é, podemos fazer muitas coisas úteis, a soma é zero). No campo podemos contrastar com a cidade, com a vida urbana fechada, assoberbada de tarefas. Exatamente por estar, e dever continuar estando, no extremo oposto a vida rural e o campo são deliciosos, muito bons, e devem continuar a ser conservados assim como são por muitos séculos, com pequenas modificações, benza Deus.

                            Vitória, domingo, 04 de julho de 2004.

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