domingo, 9 de julho de 2017


A Personalidade e a Universidade da Mãe

 

                            Certa vez estava pensando nesse destino das mulheres de carregar um filho na barriga, o que nos espanta, a mim antes e agora também a Gabriel, meu filho de 18 anos. Em primeiro lugar, não é àtoa que a mãe vomita nos primeiros três meses de gravidez, pois está recusando o feto, que gruda as unhas nela para sugá-la, para secá-la, para torná-la escrava. Então, um terço do tempo é de guerra entre o parasita e o corpo onde ele entrou para viver e prosperar à custa da debilidade alheia. No segundo trimestre muda um pouco e finalmente no terceiro a mãe já se adaptou e ai, como diriam a dialética, o TAO e o modelo, se torna o contrário, pois a mãe não quer mais se desfazer da carga.

TUDO VAI PASSANDO SEM VONTADE DE PASSAR (dizem Tom Jobim e Miúcha em Samba do Carioca) – uma vida em três quadros e uma janela.

TRIMESTRE
RELAÇÃO
Primeiro
O feto agarra com todas as forças, enquanto o útero se rebela e tenta matá-lo a qualquer custo
Segundo
Há uma adaptação mútua, como que uma trégua (alguns benefícios são fundamentais para compensar a mãe)
Terceiro
A interpenetração dos contrários se deu, ambos estão bem à bessa na convivência que encontraram, mas é hora de despedidas

Para ter uma ideia do que estou falando, imaginemos as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os AMBIENTES (cidades/municípios, estados, nações e mundo). Agora, para exagerar, imagine se uma cidade ficasse grávida e desse à luz outra cidade (de fato, bairros são mais ou menos isso, mas crescem dentro e não se destacam). Ou um estado a outro estado. Um pedaço do corpo pula fora, a criança em termo.

Quanto mais olho, mais me espanto, e só porque é corriqueiro e acontece sempre não deixa de ser espantoso.

Deveríamos ser capazes de oferecer às mães todas, nessa condição tão especial, uma universidade que estudasse tal situação em todo o largo espectro do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática da gravidez). Pois nesses nove meses a personalidade da mulher tornada mãe deve mudar; chega um ponto em que a criança (que é vida desde a união do primeiro, óvulo, com o segundo, espermatozóide, formando o espermatóvulo, o terceiro viável) passa a ter razão, quando adquire a capacidade mínima de se comunicar. Nesse instante se instala nela a alma, precisamente. EM TAL INSTANTE há duas almas convivendo no mesmo corpo. É um caso único, pois os homens não temos isso, é claro, graças aos céus, porque é uma situação muito difícil. São dois corpos até lá pelos seis meses, depois disso duas almas. Isso não pode ter nada de comum.

EU ACHO GRAÇA DO MEU PENSAMENTO (Ilusão À toa, de Johnny Alf)

 
2/3 do tempo temos dois corpos
 
1/3 duas almas

Só porisso a mulher-mãe já seria diferente.

Nós homens não conhecemos essa condição (particularmente acho tão difícil que nem quero conhecer).

Não pode ser uma coisa trivial ter dois corpos no mesmo espaço por seis meses e duas almas por três meses (ou mais corpos e mentes, porque podem ser gêmeos, trigêmeos, etc.).

Quanto mais olho mais vejo que somos tão pobres que não damos importância à riqueza, a ponto de não nos interessarmos por tal extraordinária condição.

Vitória, sexta-feira, 06 de agosto de 2004.

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