A Personalidade e a
Universidade da Mãe
Certa vez estava
pensando nesse destino das mulheres de carregar um filho na barriga, o que nos
espanta, a mim antes e agora também a Gabriel, meu filho de 18 anos. Em
primeiro lugar, não é àtoa que a mãe vomita nos primeiros três meses de
gravidez, pois está recusando o feto, que gruda as unhas nela para sugá-la,
para secá-la, para torná-la escrava. Então, um terço do tempo é de guerra entre
o parasita e o corpo onde ele entrou para viver e prosperar à custa da debilidade
alheia. No segundo trimestre muda um pouco e finalmente no terceiro a mãe já se
adaptou e ai, como diriam a dialética, o TAO e o modelo, se torna o contrário,
pois a mãe não quer mais se desfazer da carga.
TUDO
VAI PASSANDO SEM VONTADE DE PASSAR
(dizem Tom Jobim e Miúcha em Samba do
Carioca) – uma vida em três quadros e uma janela.
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TRIMESTRE
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RELAÇÃO
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Primeiro
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O feto agarra com todas as forças,
enquanto o útero se rebela e tenta matá-lo a qualquer custo
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Segundo
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Há uma adaptação mútua, como que uma
trégua (alguns benefícios são fundamentais para compensar a mãe)
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Terceiro
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A interpenetração dos contrários se
deu, ambos estão bem à bessa na convivência que encontraram, mas é hora de
despedidas
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Para ter uma ideia do que estou
falando, imaginemos as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os
AMBIENTES (cidades/municípios, estados, nações e mundo). Agora, para exagerar, imagine se uma cidade ficasse grávida e
desse à luz outra cidade (de fato, bairros são mais ou menos isso, mas
crescem dentro e não se destacam). Ou um estado a outro estado. Um pedaço do
corpo pula fora, a criança em termo.
Quanto mais olho, mais me espanto, e só
porque é corriqueiro e acontece sempre não deixa de ser espantoso.
Deveríamos ser capazes de oferecer às
mães todas, nessa condição tão especial, uma universidade que estudasse tal
situação em todo o largo espectro do Conhecimento (Magia/Arte,
Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática da
gravidez). Pois nesses nove meses a personalidade da mulher tornada mãe deve
mudar; chega um ponto em que a criança (que é vida desde a união do primeiro,
óvulo, com o segundo, espermatozóide, formando o espermatóvulo, o terceiro
viável) passa a ter razão, quando adquire a capacidade mínima de se comunicar.
Nesse instante se instala nela a alma, precisamente. EM TAL INSTANTE há duas
almas convivendo no mesmo corpo. É um caso único, pois os homens não temos
isso, é claro, graças aos céus, porque é uma situação muito difícil. São dois
corpos até lá pelos seis meses, depois disso duas almas. Isso não pode ter nada
de comum.
EU
ACHO GRAÇA DO MEU PENSAMENTO
(Ilusão À toa, de Johnny Alf)
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2/3 do tempo temos dois corpos
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1/3 duas almas
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Só porisso a mulher-mãe
já seria diferente.
Nós homens não conhecemos essa
condição (particularmente acho tão difícil que nem quero conhecer).
Não pode ser uma coisa trivial ter
dois corpos no mesmo espaço por seis meses e duas almas por três meses (ou mais
corpos e mentes, porque podem ser gêmeos, trigêmeos, etc.).
Quanto mais olho mais vejo que somos
tão pobres que não damos importância à riqueza, a ponto de não nos
interessarmos por tal extraordinária condição.
Vitória, sexta-feira, 06 de agosto de
2004.
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