M.A.G.O.

 

São quatro volumes, cada qual com uma letra na lombada, em português deu certinho, em inglês seria MAGIC, não funcionaria.

O AUTOR E OS LIVROS

Raymond Elias Feist, nascido Raymond Elias Gonzalez III, americano, 1945, não parece ter 72 anos.

Livro 1, Aprendiz, Rio de Janeiro, Saída de Emergência, 2013 (original de 1982), 431 páginas

Livro 2, Mestre, Rio de Janeiro, Saída de Emergência, 2014, original de 1982, 427 páginas

Livro 3, Espinho de Prata, Rio de Janeiro, Saída de Emergência, 2014, original de 1985, 414 páginas.

Livro 4, As Travas de Sethanon, São Paulo, Arqueiro, 2016, 461 páginas, original de 1982.

Vale a pena ler essas 1.733 páginas, verdadeira obra prima (fora a encheção de linguiça no livro 4). Logo no primeiro volume ele inventa personagens e cenários completamente incomuns, até extasiantes, contaminantes mesmo – é um mago das palavras, concebe mundos completamente convincentes, foge da rotina, emplaca algo de diferente e inusual, a cabeça dele foi a mil, em 1982 tinha 37 anos, feito diferente de tudo que já tinha feito.

Vale quatro filmes de algum produtor e diretor espertos, espetaculares acontecimentos, batalhas, sequências persuasivas, perigos aos montes, personagens que sentimos como quase humanas, algo fascinante mesmo.

Aplaudo de pé, parabéns, Feist.

Vitória, quinta-feira, 8 de novembro de 2018.

GAVA.

Eles Vieram ao Mundo para Mudar Tudo

 

A frase está na capa de um livro.

O AUTOR E O LIVRO

Americano, 1963.

Rio de Janeiro, Darkside, 2016, original de 2016.

É um daqueles livros que começam errados pela capa.

Gênios NÃO VÊM ao mundo para mudar tudo, nem seria possível. Por exemplo, não podem mudar o fato de que árvores possuem raízes enterradas e tronco, galhos, ramos, folhas, flores e frutos para cima - não poderiam virá-las e não pretendem isso. Nem tirar o Sol do lugar, nem fazer os rios contrariarem a gravidade e correrem para as montanhas desde o mar e mais um zilhão de coisas.

Só quem está do lado de fora pode romantizar os gênios, porque eles enfrentam as pessoas em suas posições perigosamente dogmáticas, elas retaliam, por vezes violentamente, porque não desejam perder suas bases de crença – atacam os gênios com furor quando eles mostram que não é daquele jeito. Na realidade os gênios devem viver escondidos, com o mínimo de convivência com a coletividade, como reclusos até. Na medida em que contradizem as crenças mais corriqueiras, são odiados e perseguidos (razão pela qual muitos procuraram refúgio em instituições respeitadas, por exemplo, universidades, e até preferem não falar nem escrever nada com receio dos ataques).

Gênio bom é gênio morto, literalmente: as pessoas GERALMENTE (exceto Einstein e outros) os veem como ameaças, porque eles lhes dizem que estão erradas (e, como não têm papas na línguas, dizem-no abertamente, de público, as pessoas se sentindo vexadas). Só gênios idiotas se mostram. Aliás, os idiot savant, sábios idiotas no francês, são meras programáquinas, como esses computadores humanos autistas (que quase não tem inteligência nenhuma, só memória e controle).

Então, a frase não passa de idiotice.

Gênios se escondem e se calam, vivem em reclusão, quase como que em mosteiros e quase não falam com outras pessoas. Eles sofrem muito, em todos os sentidos, padecem zombarias dos outros, não viajam, raramente vão a palestras, o que escrevem só vai ser compreendido depois ou muito depois.

Enfim, se fosse só pela indicação de capa o livro seria inútil.

Vitória, quinta-feira, 8 de novembro de 2018.

GAVA.

Sediciosos

 

O LIVRO E A AUTORA

São Paulo, Morro Branco, 2018 (original de 2016).

Britânica.

Há a personagem principal, a heroína de quem os homens não passam de adereços, aquela coisa de “mulher forte” que venho malhando, porque é perigoso. Tempos depois, décadas a seguir, perguntarão quem criou o mundo sombrio e terão sido esses e essas que tentam subverter do pior modo, trocando os escravos: se antes eram as mulheres, agora querem que sejam os homens, que não passam de adornos, de bibelôs.

É absurdo!

Queremos acabar com a escravidão e não inventar novos escravos.

E depois de Tolkien não há jeito de nos livrarmos de dragões (ela trouxe uma novidade, os feéricos, outro nome para fadas). E há lobisomens, toda a tralha. Há a Linguagem, que faz todo tipo de trabalho mágico, como derrubar paredes e tudo mais, vá ler; é aprendida na Biblioteca, uma espécie de encruzilhada de que se vai a qualquer mundo alternativo apenas abrindo uma porta. Há o supercaos numa extremidade e a superordem noutra. Na página 407 a autora coloca “Em toda sua vida, havia sido ensinado a Irene que a Linguagem permitia que seus usuários moldassem a realidade”. Não vá trabalhar não, para você ver!

A Grã-Bretanha está caindo nos sonhos fantásticos e nas drogas de um modo geral, deixando entrar qualquer um como residente, está virando um farrapo, porque deixaram de amar e, principalmente, de amar a Cristo, razão pela qual estão mergulhando no caos geral.

Vitória, quinta-feira, 8 de novembro de 2018.

GAVA

Culinária Coreana

 

A espertíssima série coreana Amor Culinário.

2013, duas temporadas na Netflix.

Esta moça muito simpática, falsa gorda, tem cintura bem marcada.

Seis episódios na primeira temporada, 10 na segunda, 16 no todo, cada episódio com 10 minutos (160 minutos, no todo pouco mais de 2,5 horas) nada cansativos, dois deles usados para expor a receita do dia nesse achado muito esperto, devem existir outros ou um modelo.

A mídia toda (TV, Revista, Jornal, Web, Livro-Editoria, Cinema, Rádio) deveria se interessar mais pelas 6,5 mil profissões, pelos 8,0 mil bancos, pelas 6,0 mil universidades, pelas PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e pelos AMBIENTES (cidades-municípios, estados, nações, mundo), mostrando as coisas de nossas vidas, sem aquelas piruetas espertalhonas delas, daquelas cabecinhas metidas a sabidas, os intelectuais nojentos e os intelecutualóides imitadores deles.

Há tanta coisa a fazer e a mídia perdendo tempo.

Aliás, quase todos.

Parabéns a essa série, não sei por que terminou.

Vitória, quinta-feira, 8 de novembro de 2018.

GAVA.

O Leão Insatisfeito

 

- Remenegildo?

REMENEGILDO RESPONDEU ABORRECIDÍSSIMO - Quiéééé´?

-- Remê, porque você recebeu nome bonito assim e eu não?

-- Não me chame de Remê.

-- Poxa, Remê, fala.

-- Sei lá, caramba, sorte, eu acho.

-- Acho que foi preferência. Mãe e Pai gostam mais de você.

-- Ah, de novo, não, para com isso, droga, outra vez a mesma ladainha?

-- Ou então não gostam de mim.

-- E por que seria isso?

-- Por quê me chamar de Leon? Que tipo de nome feio é esse? Pai mesmo se chama Ritagil e Mãe se chama Litosfera, por que me dar esse nome estranho?

-- Sei lá, caramba, vai perguntar pra eles.

-- Já perguntei, eles ficaram bravos.

-- Bem feito, procê deixar de ser intrometido.

Eles iam tocando com os pés as motos das quais tinham arrancado os motores, por não conseguirem dar partida com eles em cima. Era de noite, a luz da lua iluminava a trilha, lá iam os monstrengos imensos empurrando as moto-cicletas pela trilha gramada.

-- Mana mais velha é Epinefrina, mana depois é Zotafi, só eu que fiquei assim.

-- Não vá começar a chorar... Você já é adulto.

-- Né, não, Remê, Mano mais novo é Ressabiado, Mano acima é Sarro, só eu que fiquei com esse nome horrível. Será porque nós somos os do meio?

-- Se fosse porque somos os dois do meio, por quê eu não teria nome “feio” igual você diz?

-- Não sei, por que?

-- É porque não é nada disso, sua besta!

-- Remê, não fica bravo comigo.

Nisso Leon deu um chute na pedra enorme ao lado da estrada e arrebentou o dedão do pé. Começou a sair sangue aos borbotões.

-- É isso que eu detesto em você, Leon, você apela, agora arrebentou o dedo pra Pai e Mãe ficarem de denguinho com você, vem cá meu ogrinho lindo, xodó de papai, xodó de mamãe, é porisso que todo mundo te dá cascudo e te enche de bordoada, até os menores, seu ogro de merda.

Serra, quinta-feira, 19 de julho de 2012.

O Homem do Tempo

 

Era o horário nobre da TV.

O momento de apresentação do Homem do Tempo.

- Boa Noite, senhoras e senhores telespectadores. Com relação ao tempo, devo dizer que às 15 para as 15 horas de amanhã o senhor João K irá dar um tapa no rosto de sua esposa e ela, melindrada por tantas ofensas contínuas da parte dele, mesmo depois de denunciado perante a Lei Maria da Penha na Delegacia da Mulher, vai enfiar a faca nele, que dará entrada no hospital Tetrapolitano, aonde falecerá de hemorragia.

O HOMEM DO TEMPO

A polícia tentava, mas nada adiantava: embora avisada antes, ela não conseguia chegar lá de jeito nenhum, mesmo portando o endereço.

Eles ficavam colados no canal, sem chance, todo mundo de bloco na mão.

- A pontocom Horriver irá falir sexta feira da semana que vem, suas ações vão despencar 0.67 (67 %) num único dia e mais de 700 mil pessoas vão perder suas economias.

Terrível, terrível, todo mundo ouvia aquilo e era incapaz de agir. Todos aqueles milhares, os próprios interessados, ouviam que iam perder suas economias dificilmente acumuladas e nada podiam fazer. Dava um gelo no coração, um frio na barriga, os ácidos corriam no estômago desprotegido, era uma dor filha da puta, mas não tinha jeito: na sexta feira seguinte o Horriver.com falia mesmo.

- Hoje de noite, 22h07min o traficante da máfia russa estará descarregando 31,6 kg de pasta nas docas do porto.

Os policiais tentavam chegar perto, mas a menos que houvesse uma linha independente de investigação aquela informação não valia de nada.

E dia após dia o Homem do Tempo pré-via o tempo.

Qual o significado disso?

A questão é que Deus ficara aborrecido com as pessoas dizerem que ele não dava sinais e já que “o futuro a Deus pertence”, decidira vestir o terno e dar uma pala toda noite. Claro, as pessoas eram impotentes perante a onisciência de Deus.

E todo dia, pontualmente, o Homem do Tempo falava.

- Amanha o governo americano atacará sem provocações...

Serra, terça-feira, 24 de julho de 2012.

O Anjo Desobediente

 

Em i Deus-Natureza a soma 50/50 dos pares polares opostos-complementares não quer dizer impossibilidade de intervir. Porém, visto que há a doação do livre-querer ou livre-arbítrio, necessariamente a políticadministração dos negócios racionais (por exemplo, os dos seres humanos) significa NÃO-INTERFERÊNCIA MESMO.

É vedado.

A vedação é garantia de total autonomia ao tomar decisões.

É PORISSO que os anjos, como todo seu poder como Guarda Divina e tudo aquilo, toda aquela pompa e circunstância não pode interferir SOB NENHUMA CONDIÇÃO.

Eles se ressentem disso, claro.

Tanto poder e não poder dar nem um toque?

É demais.

Daí, durante toda a geo-história eles coçaram e não puderam fazer nada, exceto algumas vezes, digamos daquela vez em que o Portador da Luz se enfureceu e fez todas aquelas trapalhadas, você sabe. É que as coisas devem dar certo sem qualquer interferência. Esse “dar certo” não é impositivo: deve dar certo porque a consciência de i Deus-Natureza não-finito está tão impossivelmente além de qualquer coisa que fatalmente dará certo se as pessoas conseguirem atinar com o caminho.

Podem não atinar.

Contudo, se fizerem assim SERÁ POR OPÇÃO, quer dizer, escolha sua, não de outrem, nem mesmo de qualquer anjo.

Acontece que esse anjo em especial era desobediente.

Não do mesmo modo agressivo do Portador, apenas não-obediente. Ele queria ajudar, queria participar, se condoia, o coração dele ficava apertado, cheio de comiseração pelas criaturinhas bobas. E com isso dava um empurrãozinho. Nada muito grave, nada muito sério, um triscar, um toque levíssimo, coisa pouca, uma lufada de ar.

Serafim ia andando e quando ia pisar o anjo falou tsk, tsk.

Serafim assustou-se e parou, evitando pisar, olhou e ia escorregar, porque logo depois outro pisou, escorregou no musgo, bateu de cabeça com a nuca, desmaiou, quem sabe ele iria morrer em condição igual?

Puxa! Que sorte!

Doutra vez esteve por um triz de entrar à esquerda na encruzilhada, o cavalo parecia atentado, foi para a direita, ele teve que seguir por ali, escapando por pouco de cair numa emboscada.

E assim foi, ocasião após ocasião, um sem fim de vezes em que – ele começou a perceber, bobo não era – foi ajudado pelo anjo da guarda. E em vez de morrer uma vez só Serafim fez jornada muito mais longa.

A GRANDE VOLTA DE SERAFIM

Serafim e Seus Filhos Ruy Maurity   São três machos e uma fêmea, por sinal Maria, Que com todas se parecia. Todos de olhar esperto, para ver bem perto, Quem de muito longe é que vinha. Filhos de dois juramentos, todos dois sangrentos, Em noite clarinha, eia-ô, O João Quebra-Toco, Mané-Quindim, Lourenço e Maria . . . Noite alta de silêncio e Lua, Serafim, O bom pastor de casa saía. Dos quatro meninos, dois levavam rifle, E os outros dois levavam fumo e farinha. Bandoleros de los campos verdes, Don Quijotes, De nuestro desierto, eia-ô, Serafim bom de corte, Mané, João, Lourenço e Maria . . . Mas o tal Lourenço, dos quatro o mais novo, Era quem dos quatro tudo sabia. Resolveu deixar o bando e partir pra longe, Onde ninguém lhe conhecia. Serafim jurou vingança, Filho meu não dança conforme a dança, eia-ô, E mataram o Lourenço em noite alta de lua mansa . . . Todo mundo dessas redondezas Conta que o tal Lourenço não deu sossego. Fez cair na vida sua irmã Maria E os outros dois matou, só de medo. Serafim depois que viu o filho lobisomem, Perdeu o juízo, eia-ô, E morreu sete vezes, Até abrir caminho pro paraíso. . .

Serra, quarta-feira, 18 de julho de 2012.