segunda-feira, 4 de setembro de 2017


Posto de Reclamação

 

                            Desde que comecei a pensar a questão das praças como interfaces psicológicas entre as prefeituras e os cidadãos comecei também a reparar em quão displicentes têm sido os prefeitos em toda parte, mesmo nos países mais avançados, mesmo no primeiro-país do primeiro mundo (não necessariamente os EUA em tudo).

                            Por exemplo, os vulcões e fissuras, como vi nas seções geológicas, são as válvulas de escape - os vulcões pontuais e as fissuras em linha – relativamente ao interior da Terra, ao fogo e à agitação que lá borbulha; mas as prefeituras não dispõem de aberturas que deixem escapar a revolta antes que ela acumule a ponto de ruptura. Assim, a rebeldia continua a somar sempre, como numa represa que não deixasse nunca vazar e a água um dia rompesse com tudo. Antes era mais freqüente tal rompimento definitivo, na Antiguidade e em outras eras, agora há alguns pontos de fuga, como o carnaval e outros.

                            Seria o caso de colocar não pontos de atendimento e sim POSTOS DE RECLAMAÇÕES mesmo para, como diz o povo, todos e cada um que desejasse ir lá e “baixar o cacete”, “deitar a lenha”, falar mesmo à vontade, tudo sendo devidamente anotado sem identificação da pessoa (o que deveria ser um compromisso dos dirigentes; sem câmaras de vigilância nem microfones nem nada). Pessoas treinadas para ouvir, anotar tudo e fazer a triagem do que é relevante.

                            Isso não só deixaria vazar as insatisfações e inquietações como serviria de orientação aos governantes sobre o que está fazendo falta, ajudando efetivamente a governar. Tomando a temperatura em todos os pontos do corpo-cidade seria possível reagir a tempo ou até antecipar-se para os pedidos mais corriqueiros. Tal governo supersensível ainda não existe, mas pode meritoriamente vir a existir.
                            Vitória, terça-feira, 01 de março de 2005.

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