domingo, 3 de dezembro de 2017


O Cancelamento da Filosofia

 

Como já mostrei, o primeiro Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) a ser contestado e escorraçado pelos ditadores é a Filosofia, sem falar na Ideologia, que é sua discípula. Depois vem a Magia/Arte por conta da emoção. Ou seja, os dois lados racionais de cada patamar, Teologia/Religião e Ciência/Técnica não são perseguidos, nem muito menos a Matemática, de onde nunca vem contestação.

Tal perseguição se dá porque a Filosofia fala necessariamente de pensar, de duvidar, o que é perigoso para as elites e mais ainda para o povo: imagine o povo pensando! Que desastre enorme seria para as elites! Assim, os ditadores tratam de promover imediatamente o controle do pensamento, a aquietação das dúvidas, tratam de podar a Filosofia.

Como já vimos no Livro 144 no artigo O Indivíduo com Defeitos Freudianos e Ânsias Junguianas da Coletividade o indivíduo foi tornado culpado de 100 % e não dos seus 50 %, deixando a coletividade livre de críticas, pois a pergunta mais simples seria: de onde vêm esses outros 50 %? Daí choveriam críticas às elites, à burguesia (elite do ter), aos governos (mundial, federal, estadual, municipal-urbano), aos poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário), ao excesso de trabalho, à falta de remuneração, às incertezas da vida e assim por diante. “Quem jogou uma supercarga de 50 % em minha vida?”, perguntaria o indivíduo.

Então, logo de cara tratam de calar a Filosofia. Fecham os cursos dela, banem os livros, perseguem os filósofos como revolucionários reais ou fictícios. ALÉM DESSE ATAQUE EXTERNO calhou de desde séculos a Filosofia se amordaçar a si mesma. Agora que esse Marinoff americano (depois do filósofo alemão) levantou a utilidade popular da filosofia prática isso pode começar a aborrecer verdadeiramente as outras profissões e os governempresas. Pode ABORRECER MUITO na seqüência, nas próximas décadas, porque dessa coisa trivial dele podem advir muitos resultados interessantes, pois a prática leva necessariamente à teoria, às investigações mais profundas.

E, claro, tudo é ciclo, o que se foi retorna transformado; assim, a Filosofia está esperando em silêncio seu retorno, o que depende de alguma personalidade notável, pois é sempre assim – é ela que planta a sementinha no útero da coletividade pensante, que engravida. Quando tal personalidade genial se manifestar ou mostrar, a Filosofia largará sua mordaça de lado e se potencializará rapidamente, queira crer.

Vitória, agosto de 2005.

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