O Imenso Volume de
Indiferença
Certa vez lá para trás falei do III
(índice de importância individual) para avaliar qual seria a potência sintanalisante
da presença de qualquer um, conforme sua raridade no mundo nas várias caixas
onde estivesse representado. Há quase 200 presidentes a cada quatro ou cinco
anos, mas só um Pelé, de forma que este tende a ser mais reconhecido.
Como as pessoas são, por natureza e
definição, autocentradas em sua avaliação do universo, constituem por assim
dizer uma espécie de mídia (TV, Revista, Jornal, Livro-Editoria, Rádio e
Internet) de si. O tempo todo elas parecem estar no centro dos acontecimentos,
mas o indivíduo é um só em 6,4 bilhões, 1/6.400.000.000. Não há modo de
representar isso, exceto talvez dizendo que se cada um fosse distrito ou bairro
ainda assim seria um em dois ou três milhões. Se fosse uma cidade não passaria
de um popular num estádio superlotado como o Maracanã com 200 ou 300 mil
espectadores, o dobro de sua capacidade.
Ninguém está olhando para nós, exceto os
indivíduos próximos, a nossa família e mais algumas, talvez o grupo no qual
estejamos, parte da empresa na qual trabalhamos. Em volta de nós está tremenda
indiferença quanto à nossa existência. As pessoas reclamam do egoísmo, mas ele
não passa de uma defesa angustiada da ausência do próximo, que está cada vez
mais distante: as pessoas louvam as estátuas ideais de si como autodefesa. Se
não fizessem isso enlouqueceriam quando notassem a verdade: que cada um e todos
passam ao largo de si, sem qualquer comunicação. As coisas foram muito bem
feitas, porque se o indivíduo notasse sua desimportância enlouqueceria
fatalmente. É porisso mesmo que as pessoas se juntam em multidões em estádios,
porque parece que estão juntos; é porisso que falam compulsivamente, porque a
comunicação parece criar laços; é porisso que vivem e simbolizam o amor, porque
ele parece fazer fluir para o outro e vice-versa. Se o indivíduo parasse para
ver que todos passam por ele também iludidos desabaria em autocomiseração, que
é o que acontece durante as fases de doença, quando a indiferença de todos e
cada um se manifesta com agudeza e cessam as notícias de si. Só os doentes, os
iluminados e os santos/sábios sabem viver solitariamente. Porisso a doença
mortal é uma espécie de iluminação.
Vitória, terça-feira, 17 de janeiro de
2006.
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