Dissolvendo os
Vínculos com Zilhões de Símbolos e Conceitos
Nós queremos ser notados e apreciados.
Falamos muito, penduramos melancias
nas orelhas, fazendo “qualquer negócio” para nos evidenciarmos perante as
PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e os AMBIENTES
(cidades-municípios, estados, nações e mundos). Ajuntamos todo tipo de posses
para nos destacarmos na comunidade e seria muito interessante fazer uma análise
comparada dos extremos a que alguns chegam para conseguir acumular o bastante
em termos de poder, beleza (que é dom, mas é também projeção e cuidado), fama,
riqueza, destaque de um modo geral. Não é só pelas facilidades que se consegue
na vida, é principalmente pela aceitação, pelo sentido de pertencer, de estar
no grupo, de ser ouvido e admirado.
No final das contas quando notamos que
somos uma bolha pequena numa linha que vai de uma eternidade a outra (sem
esquecer as contribuições, porque de outra forma cairíamos no niilismo
nauseante de Sartre), que os universos emergem e se afundam novamente no
pluriverso, que tudo é uma tremenda árvore constituída de zilhões de linhas de
programação indo do nada para o nada, passando pelo existir; que as nossas
contribuições - por mais avantajadas que sejam - não passam de um pequeno
adendo no tecidurdidura da eternidade espaçotemporal nós bem podemos chegar à
iminência de desistir de tudo, querendo apenas dissolver os vínculos com
aqueles zilhões incontáveis de superfícies ou peles da realidade e com os
conceitos de fundo que nossas memorinteligências foram acumulando no decorrer
das décadas, tentando resolver os enigmas e os dilemas, permitindo o caminhar.
Há o orgulho de ter e o orgulho de
ser.
Há essa satisfação indubitável de
resolver os problemas, de capacitar os de depois mais do que formos habilitados
pelos de antes.
Porém tudo não passa de vacuidade.
Porisso para alguns a morte é a
dissolução de todos esses vínculos ou amarrações ou conexões que como milhões
de fios do desejo nos ligam à e nos aprisionam na esfera da realidade, puxando
mais ou menos nesta ou naquela direção.
O que nos sustenta, então?
É o sentido de fazer bem feito, de dar
o máximo de si no limite de resistência, de vencer as oposições extremamente
desonestas e armadas até os dentes de trapaças, de persistir apesar de tudo, a
capacidade de prosseguir nas maiores adversidades. É algo EM SI mesmo e não no
outro. Não quer prêmio, exceto vencer a tendência de desistência.
Vitória, terça-feira, 17 de janeiro de
2006.
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