O Coletivo das Elites
e o Individual do Povo
Pode parecer que o povo seja
coletivista e as elites individualistas, mas foi longo o trânsito até eu perceber
que é o contrário: as elites se defendem entre si. Por serem como já disse
tantas vezes frações das elites do TER, do intelecto, do Conhecimento –
Magia-Arte, Teologia-Religião, Filosofia-Ideologia, Ciência-Técnica e
Matemática -, das 22 tecnartes, das 6,5 mil profissões que fazem as revoluções calhou
de pensarmos que há participação do povo. Não há.
E as elites são distantes, apenas
isso.
Veja que o ser humano vem desde Jericó
há 11 mil anos migrando de PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) a
AMBIENTES (cidades-municípios, estados, nações e mundo agora em processo de
globalização), adotando conjuntos cada vez maiores de mentes; esses crescentes
blocos pensam e realizam muito mais, enquanto o povo fica no individualismo,
cada um por si e Deus por todos. Com essa mente crescente, desmesuradamente
maior, ela sempre vence o povo.
Agora, durante as fases de calmaria em
que não há outras elites, frações do total, convivendo ou coabitando com e
dirigindo o povo, elas permanecem distantes entre si. Quando certas frações das
elites migram para o lado do povo e pretendem usar a este para fazer a revolução
“em nome do povo”, então as outras frações se unem novamente e doam generosas
quantias ao serviço da contra-revolução. Como tenho tendência inequívoca em
favor do povo, sempre quis acreditar o contrário, que o povo é que coletiviza;
na realidade o povo con-vive, vive junto porque é obrigado a conviver, mas
nunca doa em favor das causas coletivas. Socorrem-se mutuamente as pessoas
porque necessitam, mas não são capazes de doações em favor da organização do
todo; pegando ou não do próprio povo, através dos tributos, são as elites que
fazem isso, que investem em investigação.
É justamente quando frações das elites
mudam de lugar, passando ao povo, que conseguem convencer a este a fazer
doações em favor das guerras de libertação; aí essas frações vão constituir as
elites dirigentes da nova classe no poder – tal mudança é muito rara. Demora
séculos exatamente porque o povo vive para si, não se doa. Demorou demais até
eu perceber isso, porque o amontoamento engana e a vida separada engana também:
o que é não parece e o que parece não é.
Só quando o povo investe nisso de
suplantação o coletivo maior das novas elites pode pensar com um empenho
tamanho que suplanta o antigo pensamento, criando mente ainda mais vasta. É
isso que as elites de agora estão preventivamente fazendo, ajuntando forças
através da globalização.
Vitória, agosto de 2005.
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