Armas de Hélio
Em seu livro Física em Seis Lições, 6ª edição, Rio de Janeiro, Ediouro, 2001,
nas páginas 46/7, Richard P. Feynman diz: “Embora o gelo possua uma forma
cristalina ‘rígida’, sua temperatura pode mudar – o gelo possui calor. Se
quisermos, poderemos mudar a quantidade de calor. O que é o calor no caso do
gelo? Os átomos não estão quietos. Estão ziguezagueando e vibrando. Assim,
embora o cristal tenha uma ordem definida -, todos os átomos estão vibrando ‘no
lugar’. À medida que aumentamos a temperatura, vibram com amplitude crescente,
até se lançarem para fora do lugar. Isto se chama derretimento. À medida que diminuímos a temperatura, a vibração vai
diminuindo até que, a zero absoluto, os átomos atingem a vibração mínima
possível, mas não zero. Essa vibração
mínima que os átomos podem ter não é suficiente para derreter uma substância,
com uma exceção: o hélio. O hélio simplesmente diminui os movimentos atômicos o
máximo possível; porém, mesmo a zero absoluto, ainda há movimento suficiente
para evitar que congele. Mesmo a zero absoluto, o hélio não congela, a não ser
que a pressão seja aumentada a ponto de os átomos se comprimirem mutuamente. Se
aumentarmos a pressão, poderemos
fazer com que se solidifique”.
Há várias questões aqui.
Podemos fazer uma arma de hélio,
congelando-o e disparando-o contra qualquer substância: ao tocá-la o hélio
“atrairia” o calor, transferindo-se vibração das moléculas da substância para o
hélio a um ritmo definido conforme várias variáveis. “Vale o custo?” seria uma
questão de economia. “É factível?” seria uma pergunta da engenharia. “Deve ser
realizada?” é uma definição política.
Porque temos essa ânsia de resolver
nossas questões com base na violência? Por quê não podemos caminhar no sentido
contrário de aprimorar cada vez mais o diálogo explicativo? Por qual razão não
aprimoramos nossa capacidade de dar explicações dos nossos atos supostamente
ofensivos? Por quê não somos treinados nas escolas para o diálogo? Não há uma
perversidade inerente nessa civilização permanentemente ofensiva? É esquisito,
isso.
Podemos imaginar mil novas armas.
Temos necessidade real delas? Penso que não.
Vitória, terça-feira, 13 de dezembro
de 2005.
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