Se você olha atentamente vê que amor
não é atração somente, pois nossos pais e mães velhos, barrigudos, pelancudos,
doentes continuam bonitos e até mais, quando mais passa o tempo e mais velhos
vão ficando, enrugados, decadentes, débeis. Quanto menos se parecem com os
retratos da atração mais vamos amando-os. O mesmo se dá com relação às pessoas
com as quais vivemos, por exemplo, nossas mulheres (ou para elas os maridos),
porque vamos adquirindo respeito e por vezes até proximidade indissolúvel.
Podemos dizer que atração é pela forma
e amor pelo conteúdo e que para sexo o que vale é a atração, mas para
permanecer o que interessa é a chamada “beleza interior”, na realidade os
conteúdos ou conceitos das pessoas, o que elas pensam e como se reportam à
vida, como tratam os outros e a nós mesmos, as causas que defendem, isto é,
tudo que está além do primeiro instante. Não é senão por essa razão que algumas
pessoas podem mimetizar e se fazer passar por alguém amável, que se pode amar, quer
dizer, aparentar conteúdos ou conceitos. Travestem-se dessas profundidades
inexistentes. Fingem conhecer isso e aquilo, vinhos e peças, raptam aqui e
acolá uma frase ou chavão e repetem eruditamente, de memória, como se fosse
próprio, desenvolvimento autêntico e sentido.
Atração não é amor. Atração é corpo,
corpo é o lado de fora, a pele, a superfície que se vai.
Amor não engana.
Amor não precisa de superfície, pois superfície
é embrulho, é enganação, é coisa de crianças, de jovens que não tiveram tempo
de formar um conteúdo, uma identidade de propósitos.
Pode-se ensinar atração, mas não se
pode imitar o amor, dado que amor é próprio da pessoa, é a doação do dentro, do
“é da coisa”, como diria Clarice Lispector. Tem a coisa, o corpo, o que está
por fora, e tem o dentro, o é, é mesmo, sem qualquer dúvida. Daí que enquanto
puder pairar a dúvida não há amor, há é atração, venda e consumo.
Vitória, quarta-feira, 07 de dezembro
de 2005.
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