quarta-feira, 8 de novembro de 2017


O Suburbano Morin

 

                            Edgar Morin é um grande filósofo atual e tem uma boa proposta, mas no seu livro A Cabeça Bem-Feira, 9ª edição (o que é raro no Brasil para livro de filosofia), Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2004, p. 57, ele diz: “O cosmo se originou ao se desintegrar. A história do Universo é uma gigantesca aventura criativa e destrutiva, marcada, desde o início pelo quase aniquilamento da antimatéria pela matéria, acentuada pela queima seguida da autodestruição de inúmeros astros, da colisão de estrelas e galáxias, aventura em que uma das metamorfoses marginais constituiu-se pelo surgimento da vida no terceiro planeta de um pequeno sol de subúrbio”, negrito meu, ele cometeu uma gafe terrível, verdadeiro disparate.

                            Chamei a esse tipo de pensamento “racionalismo amebiano”, tendo-o professado grandes figuras, entre as quais Carl Sagan (astrofísico, divulgador científico, articulista, romancista de FC agora falecido) e Isaac Asimov (bioquímico, divulgador, articulista e romancista de FC também falecido), pois eles diziam que vivíamos num cisco, num planeta insignificante de uma estrela totalmente comum da borda de uma galáxia completamente trivial. Quem vive em cisco é ameba, no caso amebas que pensam e daí o racionalismo das amebas.

                            No caso de Morin, se ele vive em subúrbio é suburbano.

                            Não é assim como diz, a Vida levou 3,8 bilhões de anos para montar a razão e sejamos só nós ou não (penso que são milhares de espécies inteligentes de alta civilização só em nossa Galáxia, com dezenas de bilhões de mundos com vida). Na realidade a vida-racional é o cristal na ponta da lança da Criação, como venho dizendo faz tempo. De maneira alguma é desprezível, pelo contrário, é um capital de 100 milhões de anos dos primatas, 10 milhões dos hominídeos, 200 mil dos neandertais, 80 a 70 mil dos cro-magnons, 11 mil desde Jericó, 5,5 mil anos desde a invenção da escrita e toda uma luta pela Razão geral na civilização, uma luta de bilhões. DE MODO NENHUM somos amebas ou suburbanos, a Vida é muitíssimo importante, tanto se for uma só quanto se (muito melhor) forem habitados quatrilhões de mundos no universo inteiro. E se fosse só a vida da Terra seria ainda mais significativa, porque então no conjunto - de um a 100 bilhões de galáxias, cada qual com de 100 a 1.000 bilhões de estrelas, cada uma delas com muitos planetas, satélites e objetos - se só houvesse vida e racionalidade na Terra ela seria incomensuravelmente mais valiosa.

                            Morin, Asimov e Sagan estão errados.

                            E é de tudo uma pena que eles, como outros, tenham esposado essa tese horrível e deprimente, pois tiveram tantas chances de ver.
Vitória, agosto de 2005.

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