sexta-feira, 2 de setembro de 2016


Máquina Registradora

 

O governo decidiu cobrar um novo imposto, já tinham passado de 80 e tantos, um a mais um a menos, que diferença faria?

Os burocratas em Brasília estavam inquietos, felizes, excitados.

Por quê não cobrar o “imposto do existir”?

 Não importa se é cobrado ICMS, IPVA, ITBI, IPTU, IR e trocentas taxas para tudo e para nada, tudo está centrado no ser, no ter, no estar – em resumo, no existir. Recuando ao máximo, o que há mesmo de mais completo, tratando-se do ser humano?

Poderiam cobrar imposto sobre a chamada bandeira elementar (ar, água, terra/solo, fogo/energia), mas fica difícil mensurar: como medir a quantidade de ar haurido?

Agora, em termos totais, finais, o que há mesmo é o existir: do nascer ao morrer a pessoa existe.

Ela é.

Não há jeito, eles disseram, é o imposto central, o sonhado imposto único, IU que, todavia, é difícil implementar. Por exemplo, como mensurar as atividades subterrâneas, aquelas que se dão sem a circulação de moeda? Como, pior ainda, evitar que mais e mais operações migrem para a informalidade monetária?

Quando ao IE (imposto do existir), esse é inescapável.

Desde que a pessoa exista (não se pode, por enquanto, cobrar imposto a fantasmas, mas só até operacionalizar, pois existem esses 100 bilhões de seres humanos que, dizem, já existiram e nunca foram gravados).

Então, sendo 7ilhões de seres humanos, não tem como, em toda parte será cobrado, em toda latitude do Pólo Norte ao Pólo Sul, nos 360º de longitude, em toda altitude. Sem enrolação, todo bichinho de orelha vai pagar. Ademais, isso remete aos animais domésticos, que também pagarão uma parcela.

BASTA colocar um microchip no núcleo mesmo do existir, aquilo que não pode ser retirado, a não ser fazendo não-existir o existente, o que implicaria em fuga à obrigação tributária, em indução à sonegação, pelo que caberia multa; inclusive os suicidas seriam punidos, tendo de pagar a TPS (taxa prévia de suicídio).

Com a vantagem do total mapeamento de todos os seres humanos, estejam onde estiverem; inclusive se ficaria sabendo quem esteve com quem, com total sigilo, é claro, exceto se os juízes precisassem saber (e os governantes do Executivo e os políticos do Legislativo, os procuradores do Ministério Público e um ou outro amigo ou, é de se pensar, alguém que contribuísse para a prosperidade do sistema).

Caramba! Isso é muito bom.

Por quê não pensamos nisso antes?

E quanto a nós, também seríamos vigiados.

NÃO, se houver um contramodulador que embaralhe os sinais (a mesma coisa para todas as autoridades e os amiguinhos, etc.)

E tudo é ainda melhor PORQUE as famílias é que vão ter de pagar a implantação do chip e a máquina registradora, que ficará em casa, emitindo ao final do mês o boleto de cobrança, sem ninguém precisar ir aos Correios, enviar carta, nem nada. E se não pagar o cérebro será desligado. Certamente o governo adotará uma política de financiamento da MR de 3,0 mil reais; além do quê os pobres, analisado caso a caso, serão dispensados do pagamento, caso prestem algum serviço comunitário.

Os burocratas foram ficando animados.

TODOS OS ATOS DAS PESSOAS SERÃO VIGIADOS, mais que pelo Grande Irmão, porque de fato aqui seriam todos.

Já estavam pensando no desenho da máquina.

Bem, os militares não podem ficar dentro, eles não querem. Os religiosos se insurgiram. E há o pessoal da polícia secreta, ele julga inoportuno ser vigiado. Os policiais militares bateram o pé e os bombeiros não querem ficar atrás. Há os ministros e os apaniguados do poder...

E foram fazendo as contas, reduzindo, reduzindo, até que no final ficou apenas o Zé. Para não passar por ridículo, como tantas iniciativas do governo, deram um ajuda de custo ao Zé para ele absorver bem essa nova iniciativa de educação tributária das massas e ficou por isso mesmo.

Serra, quinta-feira, 02 de fevereiro de 2012.

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