quinta-feira, 1 de setembro de 2016


Faquinha, O Faquir


 

Arnaldo foi fazer uma operação bariátrica no Brasil pelo SUS e como acontece em certas ocasiões, deram-lhe injeção errada e houve contaminação genética, o estômago dele se transformou em estômago de avestruz, podia comer qualquer coisa, o que era excelente em termos de frequentar os bares do país. Vai que vai, ele não perdeu a oportunidade, tratou logo de capitalizar em cima disso e virar guru com um nome qualquer hindu, Brahmapananda Upanishad, foi para Índia e voltou de lá transformado, pronto para explorar seus conterrâneos (ele poderia ter tomado aulas com os políticos, demoraria menos, passaria menos fome).

- Quem é aquela figura?

- É o Brahma, mas o pessoal às vezes o chama de Antártica, para fazer raiva, ele vira uma fera. Outros chamam de Shin, outros de Devasso e assim por diante.

- Que sujeito estranho.

- É. Ele é faquir.

- Que é aquela sacola de pregos?

- Ah, ele leva trabalho para casa, é muito devotado. Depois de ficar nas praças deitado e sentado em cima de uma cama de pregos, guarda o objeto no seu Manoel e leva uma sacola para casa.

- Tinha até vontade de conhecer a figura.

- Ih, cara, não entra nessa, para começar o tapete de boas vindas dele é feito de pregos cortantes, afiados, você já começa mal. Depois, tem o lance da bebida, ele vai te servir uísque “on the rocks”.

- Eu gosto!

- É, mas as pedras são cubos de vidro para você mastigar.

- Cruzes.

- Depois, ele é exigente em termos de alimentação, só come as comidas que gosta.

- Posso gostar, você é amigo dele?

- Sou, mas você não vai gostar, não: gilete ao molho pardo, navalhas gratinadas, sopa de pregos, aipim frito com tachinhas, essas coisas. Quando vou lá levo minha própria comida, ele é bom papo quando conta as aventuras dele. Achou que ia enganar os bobos daqui, você ri pra caramba, não sabia que já tem tantos governantes enganando os brasileiros bobos.

- E o que é aquele monte de faquinhas na cintura dele? Canivetes?

- Faquinhas, aperitivos, tira-gostos. Ficou viciado. É porisso que o chamam de Faquinha, o Faquir. Ele fica bravo pra caramba. Não pode passar sem elas, carrega para todo lado. Não chame de canivetes.

- Por quê?

- Ele induziu o irmão a fazer a mesma operação. Tá, dois faquires na mesma casa. Vai que esse irmão, o Rodolfo, Krishnavedanta, achou de comer canivetes, um fechou parcialmente, enganchou dos dois lados da garganta pra baixo, entalou, não conseguiram fazer descer nem tirar, morreu sufocado, ele tem horror de ouvir falar. O último de falou em canivete perto dele morreu de parada cardíaca.

Serra, quinta-feira, 08 de março de 2012.

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