Curupirado
O curupira é anão de cabelos vermelhos
e pés ao contrário, vem do folclore brasileiro, onde é o defensor das matas.
Monta um
tapir, uma anta.
Vai que
vai, os ecologistas entenderam de adotá-lo como símbolo da causa geral,
mundial, estampando-o nas camisas, vendendo-as, editando livros, colocando o
nome em muitas ONGs (organizações não-governamentais), pois começaram admirar a
figura: sendo um agente do amor e da proteção de todas as criaturas (fungos,
plantas, animais, primatas – e inclusive dos seres humanos, na medida em que
protege o ambiente para as gerações futuras), o Curupira tem como única defesa
o andar para frente parecendo andar para trás: ao sair de seu esconderijo
parece estar entrando nele.
Induz
engano nos predadores, nos seres humanos malvados.
Como
acontece na dialética ocidental e no TAO oriental, o sim gera o não dentro do
ritmo próprio e inescapável.
Assim, de
tanto sobrecarregarem no símbolo, os ecologistas, superafirmando a proteção
ecológica, tornaram-se ecólatras, adoradores da ecologia, da rede da vida,
tornando-a absolutamente inviolável, protegendo mais o nível biológico-p.1, a
primeira natureza, que o nível psicológico-p.2, a segunda natureza.
Com o
tempo, com a piração dos ecopirados o Curupira pirou também, ficou sendo o
Curupirado, instalou-se uma ecoditadura muito dura, mais dura que pau-ferro,
uma ecotirania das mais vergonhosas, que se esquecera da paz e da prudência do
símbolo e do propósito, de salvar a primeira natureza através da segunda para
que a segunda pudesse observar e aprender com a primeira.
Desse
jeito, enrijeceu, o Curupirado tornara-se um tirano insuportável, arbitrário, zelador
do armazém intocável da Natureza Um.
Virou um
monstro.
Metia-se em
tudo, doutrinava tudo, queria saber de tudo, queria impedir tudo – e de
pacífico se tornou feroz, de bondoso se fez demoníaco. O orgulho o acometeu,
até irritar tanto a Tupã que este o derrubou com um raio, substituindo-o pelo
Curupira 2.0.
Serra,
sábado, 28 de janeiro de 2012.
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