quarta-feira, 3 de janeiro de 2018


O Ovo Babado do Cara Dourado e o Círculo Oitavo

 

São traduções legítimas na Rede Cognata: El Dorado = CARA DOURADO = OVO BABADO = CIDADE OCULTA = CÍRCULO OITAVO = CÍRCULO DOBRADO = CÍRCULO EQUATORIAL = URDIDURA TECIDA = GERADOR TEIA e assim por diante. Não sei expor as razões, se é que existem.

Contudo, tais esquisitices nos lembram de outro elemento que nunca é bastante desenvolvido nos romances e nos filmes: a complexa tramurdidura ou, como estou preferindo dizer, tecidurdidura. Evidentemente se houvesse na Terra uma pessoa que tivesse a chave para entrar no que já estamos imaginando ser um complexo em El Dorado esse “cara dourado” seria paparicado tremendamente, assim como a Gení da música Gení e o Zepelim de Chico Buarque.

Entrementes, se o Cara Dourado não fosse nada bobo e enfeixasse o poder formar-se-ia em volta dele um “círculo oitavo” (8 ou ∞), assim como apareceu na realidade nos dois círculos, como mostrado (e é cognato).

O CÍRCULO OITAVO NA REALIDADE


Parece mesmo um oito.

“Círculo oitavo” seria como se chamaria o comitê central, o comitê governante, os bajuladores de dentro - os que se reuniriam para excluir os de fora -, a turma dos privilégios, das mordomias, dos aproveitamento das “dachas” russas, a nomenklatura.

ISSO não aparece nas FC nem nos romances.

Como é que se desenvolve a psicologia da bajulação? E porque ela é aceita e até estimulada? Por quê há gente que se sujeita a esse serviço vil, para além do aproveitamento, pelo gosto mesmo de capacho? Tudo isso deve ser levado em conta no desenvolvimento futuro da nova FC e dos novos romances. É claro que há muitos grandes romances com excepcional desenvolvimento de caracteres, mas é preciso ir mais longe e mais fundo.

Vitória, sábado, 28 de janeiro de 2006.

 

JOGA PEDRA DO CARA DOURADO

Geni E O Zepelin
Chico Buarque
 
De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir

Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

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