O Umbigo de Daniel e
a Nobreza de Giles
Lembrei-me de Giles, poderia ter sido
“qualquer um”, um filósofo, uma pessoa dedicada ao Conhecimento (Magia-Arte,
Teologia-Religião, Filosofia-Ideologia, Ciência-Técnica e Matemática) ou a uma
das 6,5 mil profissões. Esse “Daniel” é qualquer nome, o primeiro que veio à
lembrança, há centenas ou milhares, minha memória é ruim (não posso usar nomes
de amigos ou parentes, porque poderia parecer indicação). Pois Daniel fica
remoendo em volta do umbigo, o antigo canal de alimentação.
NO
QUE DANIEL PENSA OBSESSIVAMENTE
·
COMO PESSOA:
1. Em si mesmo:
a) Em contar vantagens aos amigos e às
namoradas;
b) Em satisfazer o corpo (e, quem sabe, a
mente) – cabeça, tronco e membros - através dos sentidos, para os quais seriam
necessários 15 e não apenas cinco;
c) Em transar com as mulheres;
d) Em comprar carro;
e) Em ter casa;
f) Em ir “se divertir” (Daniel consegue
imaginar milhares de modos disso);
g) Uma variedade enorme de pulsões da
origem genética que Daniel sente o mais extremo prazer em atender;
2. Em sua família;
3. Em seu grupo;
4. Em sua empresa;
·
COMO AMBIENTE:
5. Em sua cidade-município;
6. Em seu estado;
7. Em sua nação;
8. Em seu mundo (talvez).
Do outro lado, claro, Giles Deleuze
trabalhou. SE bem ou mal a posteridade é que julgará. Em todo caso, alguns
trabalham dia e noite durante décadas para apurar o conhecimento geral ou para
produzirorganizar. Por 30, 35, 40, 45, 50 ou mais anos essa gente sem esmorecer
fuça o que já existe para achar uma brecha através da qual engrandecer a
humanidade de saberes.
Então, existe essa distinção notável
entre os trabalhadores e os aproveitadores. É evidente que Giles também se
diverte. É certo que Daniel deve, trabalhando (ou vivendo de trabalho amealhado
por que lhe tenha deixado herança), sustentar suas taras, mas a distância das
médias é grande demais. Os Daniel consomem o mundo mais do que lhe dão; os
Giles somam irremediavelmente, para dar mais tempo ao mundo.
Vitória, sábado, 06 de maio de 2006.
GILES
DELEUZE
Biografia
Entre 1944 e 1948, ele cursa
filosofia na universidade de Sorbonne, onde encontra Michel Butor, François Chatelet, Claude Lanzmann, Olivier Revault d’Allonnes e Michel
Tournier. Seus professores foram Ferdinand Alquié, Georges Canguilhem, Maurice de Gandillac, Jean Hyppolite.
|
EDUCAÇÃO & REALIDADE
Vol. 27, nº 2 jul/dez de 2002
Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário