sábado, 3 de setembro de 2016


Superfeliz

 

O Grupo supermercadista Viva Feliz tinha colocado mais um supermercado da felicidade, o Superfeliz.

Como as pessoas nunca se sentiam realmente felizes, por mais que tivessem, por mais que vivessem em bons bairros, por mais saudáveis que estivessem, por melhores que fossem os filhos e os dias, por mais isso e aquilo que lhes houvesse sido proporcionado por Deus ou pelas circunstâncias - a verdade é que poucos se sentiam felizes. Fossem ricos ou fossem pobres, todos iam ao Superfeliz em busca da felicidade.

Logo pela manhã o gerente reunia os funcionários e começava o dia com uma Preleção do Melhor Dia ou do Dia Mais Feliz, aconselhando-os a tratar a clientela da melhor forma possível, afinal de contas ela vinha trocar seu dinheiro, seu suor, seu cansaço por produtos como o MaqueFeliz e o Bobo’s. Todos os empregados viviam rindo, era quase como na televisão.

O Superfeliz oferecia uma ampla gama de inutilidades, de supérfluos, por exemplo, as felicidades-de-plástico que tornavam as vidas de tantos tão satisfatórias, pois as pessoas substituíam o interior pelo exterior, enchiam o interior de nada e tendo nada para se preocupar, com nada se preocupavam, a ideia delas era “levar a vida na flauta”, produto muito vendido que dava grandes retornos aos governos.

O Superfeliz vendia bloqueadores de pensamentos chamados Mídia que iam do fator bloqueador um ao fator 32: as mulheres usavam mais, mas também tinha muito homem usando para evitar a incidência dos raios do Sol iluminador: iluminação, jamais. O bloqueador mais brando era o livro, fator 1, quase inoperante, não impedia a iluminação, às vezes até a favorecia, porque você acabava ficando exposto mais tempo; o mais alto era a televisão, fator 32, não deixava passar quase nada. Internet era fator 2 e assim por diante.

O povo saía superfeliz quando achava que tinha encontrado a felicidade e semana após semana voltava para comprar felicidade, como se fosse uma passagem de ônibus para o Estado de Felicidade onde, por sinal, as pessoas eram muito frugais. O povo pagava caro pela felicidade, mourejava de sol a sol, enfrentava as maiores dificuldades para conseguir o que queria, pois as filas eram grandes, já que os do povo achavam que a felicidade era feita de bens materiais que podiam ser comprados.

Serra, terça-feira, 07 de fevereiro de 2012.

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