domingo, 4 de setembro de 2016


Bob Mala


 

Ele era baixinho, um tiquinho de gente mesmo, e era um mala.

É assim que se diz quando a pessoa é chata, projetada, oferecida, impositiva, insistente, cricri, o chato do chato, o pentelho do pentelho.

Como era baixinho eu dizia que era uma frasqueira, nem chegava a mala, era um mala pequeno.

DE MALA SORTE


http://i.s8.com.br/images/books/cover/img6/195986_4.jpg
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigQVnAPu8T4ahQobz4_g86Lj-WDW9pcmWQEN2G0bjyZo0Oyu-wcPmKVXAwqpHUpLSS7HsTSl8omvmAqRAtZQpIqX3O_T97ylKJpJTt-32GIBSMsMlY0xIb02l_kv2-jGDBGuq226vjHpk/s1600/frasqueira5.jpg

Isso de mala começou com “mala sem alça”, que é difícil de carregar, é difícil até de pegar, é uma pessoa “difícil”, um peso na vida da gente.

DE ONDE VEM A CHATICE?


http://blogdobi.files.wordpress.com/2011/04/imagescaol2u8p.jpg
Mala sem alça.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyXSdcZcUw2TAoD8a0I_SdA00-s7SGLhUM_RmomoZEHtQ15KvmgU7QJROWjqxiS5uBKKZZ25yc58iRrR_p3Cpx1QKmxPxDF5kZ08_jkrFMXaZKRjDvyc-EU0aUuGdhOVJ0XYkWjg7o7mI/s1600-r/cria%C3%A7%C3%A3o.jpg
Cricri, o chato do chato.
http://www.diariodeumaneurotica.com/wp-content/uploads/2011/10/Chato.jpg
Chato.
http://thumb.mais.uol.com.br/185343-large.jpg?ver=1
Chato de galocha.

O nome dele era Roberto, por gozação chamavam de Robert, daí Bob; e como tinha aqueles cabelos dread durante uma fase da vida, passaram a cha-málo de Bob Marley; como era chato, Bob Mala.

Uma vez me virei, ela vinha correndo, quase disse: “se você não tivesse parado de crescer teria chegado ao meu queixo”. Veio na ponta da língua, mas não sou de ofender.

Evidente que ele ficava com raiva de mim, mas sabia que era brincadeira (visando a aproximação, pois era boa pessoa – é preciso levar em conta todas as dimensões de cada um, se bem que no caso dele eram dimensões bem pequenas), não era gozação, que é de gente hostil.

O Bob não morreu, ele está em nosso coração, ele encolheu até desaparecer, fez “puf”, reduziu até a dimensão de um ponto e como o ponto não tem dimensão passou diretamente ao etéreo. O Bob faz falta, se bem que é falta pequena, há, há, há, ele iria gostar, que saudade, aê, Bob, onde quer que você esteja não está ocupando um volume grande. Não sabe, quando a gente chama a pessoa de “tampinha”? Ele era a tampinha da tampinha, mas fora a chatice (que era pequena, torno a repetir), era bom, por baixo daquela dimensão mínima, nem sei onde havia espaço para isso, mas era bom.

Pensando bem, o Bob era o maioral, dentro da chatice dele, claro, mas se você aprendesse a tolerar, levava numa boa. Todo mundo tem defeitos, uns mais que outros. Depois que o Bob se foi a gente sente a falta dele, porque há gente verdadeiramente ruim ao nosso redor, enquanto o Bob não era de uma chatice enervante, nem malicioso, nem nada, só era chato.

E foi aí, pensando no Bob, que decidi pesquisar na minha área, a genética, a razão da permanência dos chatos, dos paranoicos, de todos os pentelhos da vida, porque se eles não tivessem utilidade não teriam deixado descendência, não é? Não teriam encontrado mulher que os aceitasse, alguma coisa de boa tinham agregado, senão não passariam seus genes adiante.
Serra, sexta-feira, 30 de março de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário