Roger e Seu Violão e
Tudo que Não Está na Internet
As figuras mais extraordinárias
aparecem dentro dos ônibus a pedir: sabe-se lá quantos estão mentindo.
Dessa vez foi o Roger, um magricela
com um violão dizendo-se desempregado e há 55 dias em tratamento de
tuberculose. Outros falam em AIDS e exibem os exames, pouco importa, dou de
qualquer jeito quando tenho, é uma contribuição à sobre-vivência, dure ela
quanto durar, sem qualquer julgamento de mérito. Dessa vez não tinha.
O Roger tocava mal à bessa e reconhecendo
isso afirmou não ser profissional. Mostrou uma fita cassete (nem é CD, é mais
antigo que os bolachões, os long-play) com capa impressa, “o Roger sou eu”. É
tudo tão engraçado, porque mostra a vastidão do que não está dentro da
Internet, esse importantíssimo instrumento novo; quero dizer que a Vida e a
Vida-racional é que são fundamentais, por mais nobres que sejam os novos meios.
Há sutilezas que nenhum meio poderia comportar, por mais rico que fosse, como o
cinema, a TV, a rádio e o resto todo.
O Roger, mesmo que não seja lembrado e
de fato não contribuía com mais nada para o mundo, contribuiu com isso: sua
presença diz do inesgotável. Mesmo quando ridículo.
Vitória, quarta-feira, 25 de janeiro
de 2006.
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