terça-feira, 2 de janeiro de 2018


Roger e Seu Violão e Tudo que Não Está na Internet

 

As figuras mais extraordinárias aparecem dentro dos ônibus a pedir: sabe-se lá quantos estão mentindo.

Dessa vez foi o Roger, um magricela com um violão dizendo-se desempregado e há 55 dias em tratamento de tuberculose. Outros falam em AIDS e exibem os exames, pouco importa, dou de qualquer jeito quando tenho, é uma contribuição à sobre-vivência, dure ela quanto durar, sem qualquer julgamento de mérito. Dessa vez não tinha.

O Roger tocava mal à bessa e reconhecendo isso afirmou não ser profissional. Mostrou uma fita cassete (nem é CD, é mais antigo que os bolachões, os long-play) com capa impressa, “o Roger sou eu”. É tudo tão engraçado, porque mostra a vastidão do que não está dentro da Internet, esse importantíssimo instrumento novo; quero dizer que a Vida e a Vida-racional é que são fundamentais, por mais nobres que sejam os novos meios. Há sutilezas que nenhum meio poderia comportar, por mais rico que fosse, como o cinema, a TV, a rádio e o resto todo.

O Roger, mesmo que não seja lembrado e de fato não contribuía com mais nada para o mundo, contribuiu com isso: sua presença diz do inesgotável. Mesmo quando ridículo.

Vitória, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006.

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